Bento Gonçalves

Aeroportos da Serra Gaúcha recebem melhorias emergenciais, mas ainda carecem de investimentos

Interdição do Salgado Filho, em Porto Alegre, deu protagonismo para aeródromos que ao longo dos anos aguardam por obras de infraestrutura e manutenção, como os de Vacaria, Garibaldi e Bento Gonçalves

Aeroporto de Vacaria pode receber aeronaves de grande porte, mas ainda precisa de equipamentos. Foto: Prefeitura de Vacaria,  divulgação
Aeroporto de Vacaria pode receber aeronaves de grande porte, mas ainda precisa de equipamentos. Foto: Prefeitura de Vacaria, divulgação

Desde o dia 06 de maio, data do alagamento do Aeroporto Internacional Salgado Filho, em Porto Alegre, o Rio Grande do Sul percebeu que precisa de alternativas para o transporte aéreo de cargas e passageiros.

Com isso, aeródromos da Serra gaúcha surgiram como possibilidades para o atendimento dessa demanda, despertando até o interesse dos clubes de futebol de Porto Alegre, que deram voz a um pedido do Juventude, em reunião com o ministro Paulo Pimenta (PT), na semana passada, e assumiram a campanha para internacionalizar o Aeroporto Regional Hugo Cantergiani, de Caxias do Sul, algo que permitiria a eles disputarem partidas internacionais na Serra Gaúcha enquanto seus estádios estão em recuperação.

Na região metropolitana, só a base aérea de Canoas tem pista e equipamentos suficientes para receber pousos de aeronaves de porte médio e grande. No entanto, a estrutura militar não dispõe de terminal para embarque civil. 

Emergencialmente, um shopping na cidade de Canoas, que fica a quatro quilômetros de distância da pista, foi improvisado como terminal para embarque e desembarque de 35 voos comerciais semanais, que começam a operar na quarta-feira (22).

Com a operação comercial atual, que tem voos em Pelotas, Uruguaiana, Santo Ângelo, Passo Fundo, Caxias do Sul e Canoas, são 30 mil passageiros por semana chegando ao estado.

No entanto, os aeroportos serranos ainda sofrem com a falta de estrutura. Há problemas de tamanho de pista, equipamentos de auxílio para pousos, terminais de passageiros e manutenção.

 O Fundo Nacional de Aviação Civil (FNAC) disponibiliza a cada ano verbas de R$ 4,5 bilhões para investimentos em infraestrutura aeroportuária, desde que os locais atendam requisitos mínimos, como pista de 1.600m x 30 m de largura. A aviação comercial não opera em pistas menores que isso, por motivos de segurança e alta taxas de risco do seguro.

 

Caxias do Sul se divide quanto aos investimentos

As entidades, políticos e empresários de Caxias do Sul tentam equacionar a questão de  como e onde investir recursos para o transporte aéreo na cidade neste momento de emergência. O atual aeroporto requer grandes melhorias e o projeto do novo, em Vila Oliva, ainda tramita burocraticamente.

Desde o início das chuvas, o aeroporto Hugo Cantergiani tem sido uma importante alternativa para o suporte ao tráfego aéreo gaúcho. Além de receber até 11 voos comerciais diários (seis extras) como foi o caso da segunda-feira (20), há combustível disponível para o reabastecimento de aeronaves de resgate e que trazem donativos.

Segundo Maurício Dávila, que organiza as operações, há 70 mil litros de combustível em estoque no momento, disponível para os abastecimentos. Ele conta que nos primeiros dias foi preciso racionar.

“Nos primeiros quatro dias a gente disponibilizou combustível para os voos emergenciais e orientou as companhias aéreas que já viessem com combustível suficiente para o retorno. Depois, porém, conseguimos receber carretas do Paraná, pelo Norte do estado, e a situação se normalizou”, conta. 

Inaugurado coincidentemente no ano de uma grande enchente, em 1941, o aeroporto de Caxias do Sul passou por mudança de local e melhorias ao longo dos anos, mas ainda está longe de ser pronto para operações grandes, como as executadas em Porto Alegre.

Criado inicialmente no bairro Cinquentenário, o aeródromo recebeu em sua inauguração o jornalista Assis Chateaubriand, que lançou a Campanha Nacional da Aviação. A mudança para  bairro Salgado Filho foi em 1954.

Em 1972, a pista foi asfaltada para receber o pouso do presidente Médici. Em 1987, o aeroporto recebeu melhorias e o Estado iniciou obras de instalação de instrumentos e ampliação da pista, bem como do terminal de passageiros para a instalação da linha regular entre Caxias/São Paulo.

A Prefeitura de Caxias do Sul participa da gestão do aeroporto, por meio de um Acordo de Gestão, integrando Comissão Paritária para a administração aeroportuária responsabilizando-se pela guarda e vigilância do sítio aeroportuário e pela gestão dos recursos humanos em serviço no aeroporto.

Na segunda-feira (21), o deputado federal Marcel Van Hatten (NOVO) informou que, em atendimento a solicitação de empreendedores de Caxias do Sul e Gramado, reuniu-se com representantes da Prefeitura de Caxias do Sul para discutir melhorias para o aeroporto de Caxias, que podem receber recursos por meio de emendas parlamentares.

Entre os equipamentos anunciados para auxiliar nos pousos e decolagens está o PAPI (Precision Approach Path Indicator, em português Indicador de Percurso de Aproximação de Precisão). No entanto, de acordo com especialistas em aviação, o PAPI não resolve problemas de pouso com neblina, que seriam solucionados com o TALT para decolagens e o ILS (Instrument Landing System, em português: Sistema de Pouso por Instrumento) para pousos. Segundo estimativa inicial, são necessários R$ 10 milhões para reformas emergenciais na pista, R$ 1,3 milhão para instalação do PAPI e US$ 2 milhões para instalação do ILS.

 

Veja a diferença entre os equipamentos:

PAPI (Precision Approach Path Indicator, em português Indicador de Percurso de Aproximação de Precisão), é um sistema de ajudas visuais à navegação aérea. Constituído por lâmpadas com focos calibrados, instalados geralmente ao lado da pista, que têm por objetivo informar os pilotos sobre a altitude correta, ou precisa, em que se encontra o avião, quando este faz a aproximação à pista, para pousar. O auxílio é somente visual.

Para pousos “automáticos”, o sistema de ILS deve ser instalado: 

O ILS (Instrument Landing System, em português: Sistema de Pouso por Instrumento) é um dispositivo que fornece ao piloto duas informações essenciais: o eixo da pista e a trajetória ideal de planeio. O sistema auxilia o piloto no pouso sob condições de teto e visibilidade restritas, cujos parâmetros são previamente definidos pela categoria do ILS. As ondas emitidas por antenas instaladas no solo, no eixo da pista, em uma distância de até 7,5 km das cabeceiras, são lidas pelo computador do avião, que segue o perfil programado para aproximação e pouso. 

Equipamento ILS permitiria pousos com neblina em Caxias do Sul

 

Já o projeto de internacionalização, proposto pelos clubes de futebol, depende da criação de áreas para fiscalização de normas alfandegárias, com presença da Polícia Federal e da Anvisa. 

O ministro do Turismo, Celso Sabino, disse recentemente que a Infraero está pronta para assumir a administração do aeroporto. No entanto, a situação ainda não evoluiu. 

 

Ficha Técnica:

Aeroporto Regional Hugo Cantergiani, Caxias do Sul

Código: CXJ, SBCX

Pista: 1670 m x 30 m  (asfalto)

Administração: Prefeitura e DAP-RS 

Altitude: 754 m

Inauguração: 1° de março de 1941 (83 anos)

Passageiros: 212,087 Passageiros 124%

 

Aeroporto Regional da Serra Gaúcha (Vila Oliva) sofre com burocracia

Projeto ainda não saiu do computador. Imagem: Divulgação

O projeto final de infraestrutura do sítio para construção do aeroporto de Vila Oliva foi entregue recentemente, no dia 26 de abril, para o coordenador geral de Projetos Aeroportuários da Secretaria de Aviação Civil do Ministério de Portos e Aeroportos (SAC), Márcio Maffili Fernandes, em Brasília-DF. A SAC tem até 30 dias para emitir o parecer. Só então, a licitação pode ser lançada, já que, segundo o prefeito, Adiló Didomênico (PSDB), os recursos para a execução da obra inicial estão garantidos via PAC. 

A obra é prevista com custo de R$ 200 milhões para preparação do terreno, já garantidos pela União, e outros R$ 160 milhões, que ainda precisam ser captados, para as construções, em uma área total de 445 hectares, com o terminal ocupando 4,7 mil metros quadrados. O projeto prevê ainda a construção de uma estrada, a RS-466, que ligaria a Rota do Sol até Canela, passando pelo terminal.

Mesmo com tantos entraves, a Prefeitura ainda trabalha com a ideia de entregar a obra para o início da fase de criação e validação dos procedimentos aéreos até o final de 2027.

 

 

Aeroporto de Garibaldi recebeu melhorias 

Pista de Garibaldi recebeu reformas na ordem de R$ 245 mil Foto: Aeroclube de Garibaldi

Sede do tradicional aeroclube da cidade, que em 4 de setembro completa 79 anos, o aeroporto de Garibaldi tem sido uma importante rota para chegada de donativos de todo o país, através de aeronaves executivas. Há inclusive uma campanha solidária desenvolvida pelo próprio aeroclube.

A pista é de 1200 m x 30 m e recebeu obras de manutenção e pintura em março deste ano, com a correção de fissuras e sinalização viária horizontal. Um investimento de R$ 245 mil que atendeu exigência da Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC).

No entanto, não há auxílios para operações noturnas. “Nosso aeroporto abre no nascer do sol e fecha ali pelas 17h30”, explica o presidente do tradicional Aeroclube, Márcio Foppa.

Nesta semana, o Aeroclube de Garibaldi solicitou apoio e autorização à Administração Municipal para realizar outras melhorias no local. 

Sobre combustível, Foppa declarou que há colaboração mútua. “Oferecemos combustível para quem vem ajudar, graçaso ao auxílio de empresários da região e ao nosso esforço aqui.  E o pessoal também não completa os tanques, eles abastecem o suficiente só para chegarem em outro local”, conta.

 

Ficha Técnica:

Código: SSGA

Pista: 1200 m x 30 m (asfalto)

Altitude: 680 m 

Administração: Prefeitura

 

Maior pista da região é a de Vacaria

Vacaria tem pista maior que o aeroporto de Caxias e espera outros investimentos. Foto: Prefeitura de Vacaria

O aeroporto de Vacaria leva o nome de Enore Angelo Mezari e foi inaugurado no dia 4 de agosto de 2021, depois de 50 anos de projeto. Ele é administrado pela Prefeitura da cidade.

Em 2022, a pedido da Azul Linhas Aéreas, que faz a linha Vacaria-Porto Alegre com a aeronave Cessna Caravan, foram instalados sistemas de iluminação noturna para balizamento das operações, além de equipamentos para o suporte na navegação, como biruta iluminada, rádio-comunicador e farol de aeródromo.

Na semana passada, o aeroporto recebeu voos de aviões do aeroclube de Novo Hamburgo, que foram buscar donativos para a região do Vale dos Sinos, muito afetada pelas enchentes. 

No entanto, ainda há muitas demandas paradas. O  projeto para balizamento está no Rotaer, assim como uma escada para a descida de passageiros de aeronaves de médio porte, um caminhão de Bombeiros (para operar aeronaves com mais de 19 passageiros) e um caminhão para reabastecimento de aeronaves. 

 

Ficha Técnica:

Aeroporto Enore Angelo Mezaro

Código: SNEE

Pista: 2020  m x 30 m (asfalto)

Altitude: 900m

Administração: Prefeitura

Balizamento Noturno

 

Aeroporto de Bento Gonçalves se tornou público

Aeroporto de Bento Gonçalves não opera à noite, Foto: Aeroclube de Bento Gonçalves

Após um processo que levou 10 anos, o aeroporto de Bento Gonçalves passou de privado para público no último dia 08 de maio. A medida foi formalizada pela Associação Nacional de Aviação Civil (ANAC).

As obras do terminal de passageiros, entre os bairros São João e Caminhos da Eulália, ficaram prontas recentemente.

O asfalto da pista foi inaugurado em 2016. No entanto, a largura da pista, inferior a 30 m, ainda impede que os recursos do FNAC sejam recebidos. 

Assim como o de Garibaldi, o aeroporto não opera à noite.

O presidente do aeroclube de Bento Gonçalves, Fabio Romani, explica que o aeroclube dispõe de AVGAS, combustível para aviões de pequeno porte, com motor a pistão,  e que um caminhão de querosene terceirizado tem abastecido outras aeronaves visitantes nos últimos dias, mas de forma independente, no aeroporto. 

Ficha Técnica:

Código: BGV – SSBG 

Pista: 1380 m x 23 m (asfalto)

Altitude: 673m

Administração: Prefeitura

 

Aeroporto de Canela recebe turistas

Aeroporto de Canela pode operar à noite. Foto: Bruno Ramm, divulgação

Outra importante alternativa, sobretudo para o turismo, é o aeroporto de Canela, que recebe voos executivos, sobretudo de jatinhos.

A pista tem 1260m x 18m e o aeroporto tem balizamento noturno, o que já é um diferencial para aeródromos como o de Garibaldi e Bento Gonçalves, por exemplo.

 

 

Ficha Técnica:

Código: QCN – SSCN 

Pista: 1260 m x 18 m (asfalto)

Altitude: 830m

Administração: Governo do estado do RS

Balizamento Noturno

 

 

 

Aeroporto de Bom Jesus tem pista maior que Canela e Garibaldi, mas sem pavimentação

Apesar de dispor de uma pista grande, de 1320 m de comprimento por 18 de largura, e estar em uma posição geográfica privilegiada (no waypoint VUKMO, que marca o início do procedimento de descida para Caxias e Porto Alegre), o aeroporto de Bom Jesus requer muitos investimentos.

A pista ainda não foi pavimentada e o auxílio a navegação depende de antena de rádio UHF, como das rádios convencionais. Tal equipamento dá aos pilotos somente uma referência básica de navegação, devendo o procedimento de pouso ser executado de forma totalmente visual, sem auxílio de cartas de rota, luzes, VOR ou NDB.

O local, que fica na saída para São Joaquim-SC, a oito quilômetros da sede do município, também carece de terminal de passageiros e equipamentos de auxílio à navegação e abastecimento. 

 

Ficha Técnica:

Código: SSBJ

Pista: 1320 m x 18 m (cascalho sobre a terra)

Altitude: 1240 m

Administração: Prefeitura

 

 

 

Aeroportos comerciais operando no Rio Grande do Sul:

  • Aeroporto de Caxias do Sul: 39 voos semanais;
  • Aeroporto de Santo Ângelo: 6 voos semanais;
  • Aeroporto de Passo Fundo: 21 voos semanais;
  • Aeroporto de Pelotas: 6 voos semanais;
  • Aeroporto de Santa Maria: 3 voos semanais;
  • Aeroporto de Uruguaiana: 3 voos semanais;
  • Base Aérea de Canoas: 35 voos semanais.

 

Ouça o coordenador operacional do aeroporto de Caxias do Sul, Maurício Dávila, sobre o combustível disponível no Hugo Cantergiani: