Opinião

E você, vai permitir?

E você, vai permitir?

Algumas pessoas acham que o problema do país se resume ao PT, aos “petralhas”, aos “comunistas”, num amontoado de chavões conservadores e obscurantistas só vistos durante a Idade Média. Apresentam uma visão rasa, torpe, maniqueísta, equivocada e superficial dos problemas do Brasil. Comemoram um ano golpe parlamentar, como se isso pudesse resolver todas as nossas mazelas. Esquecem do que está acontecendo na vida real das pessoas: a escalada da fome, desemprego, preconceito e racismo. Falam como se tudo se resumisse à esquerda ou à direita.

Fico me perguntando com meus botões:

Será que é preciso ser de esquerda para defender que as pessoas mais pobres devam ter mais oportunidades?

Será que é preciso ser de esquerda para acreditar que não se deve perseguir, matar ou excluir as pessoas por serem gays, lésbicas e transexuais?

Será que é preciso ser de esquerda para defender que nosso patrimônio público não seja vendido ou privatizado?

Será que é preciso ser de esquerda para defender que o estado não deve parcelar salários de servidores públicos?

Será que é preciso ser de esquerda para gritar contra a exploração dos trabalhadores do país?

Será que é preciso ser de esquerda para defender um estado laico, sem interferências religiosas em nossos teatros e exposições?

Será que é preciso ser de esquerda para ver que o Estado de Direito no Brasil só tem um lado, o lado dos poderosos?

A resposta para todas essas perguntas é apenas uma: não. Tudo é apenas uma questão de se ter mínimo de solidariedade para com o outro. Basta apenas não ser individualista. É preciso apenas crer que somos, como brasileiros, tão ou mais capazes de sermos soberanos, sem sermos colonizados.

Em um ano sem Dilma, não perdemos só uma presidenta (sim, é possível usar, as duas formas na nossa língua), perdemos o senso de humanidade. Deixamos o lado pior dos algozes fascistas tomar as ruas. Permitimos que pessoas com nenhum senso de justiça ou solidariedade se apresentem como o “novo”. Aceitamos que esses patifes transformem valores como ética, generosidade e compreensão em uma simples questão de ideologia. Autorizamos um bando de retrógrados a retomar o discurso da “família, tradição e propriedade”. Tudo em nome do bom e velho capitalismo selvagem!

Não estamos mostrando ao mundo uma disputa entre duas ideologias. Estamos mostrando ao mundo que retrocedemos, que somos um país atrasado em termos de respeito ao próximo, que estamos chafurdando em disputas que já foram superadas há muito no mundo desenvolvido. Estamos mostrando ao mundo a face dos medíocres, que ainda estamos muitos séculos atrás em termos de desenvolvimento.

Se ser de esquerda é acreditar num mundo mais humano e menos hostil, sou esquerda com orgulho. E lutarei sempre para que esses ogros não se criem na utopia que todos deveriam ter de um mundo melhor.

E você? Até onde vai permitir que isso continue?