Imagem: Google Gemini
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É fascinante observar como o parlamento brasileiro, esse palco da política travestida de virtude, atingiu um grau de sinceridade raro na história. Geralmente, o poder disfarça seus privilégios — aqui, não. Com um sorriso de autossuficiência, nossos representantes aprovaram a chamada “PEC da Blindagem”. Nem se preocuparam em dourar a pílula: aceitaram o nome que lhe deram, revelando sem rodeios sua essência. O detalhe mais perturbador é que pretendem tornar-se um poder soberano, capaz de legislar, se policiar e até julgar-se — algo inexistente em democracias, mas comum em ditaduras.

O argumento oficial é singelo: proteger-se de perseguições políticas. Mas o enredo real é direto: criar um evangelho próprio, com mandamentos que só valem para eles. Se no Evangelho verdadeiro a regra é “não desejar ao outro o que não quer para si”, no evangelho parlamentar parece que o primeiro mandamento é “blindarás a ti mesmo de toda consequência”. O segundo: “justificarás tuas manobras como virtude”. E o terceiro: “se alguém ousar questionar, acusá-lo-ás de perseguidor”.

É como se cada artigo da PEC fosse uma parábola ao contrário: em vez de libertar consciências, amarra; em vez de corrigir, autoriza; em vez de servir, protege os senhores. Uma cartilha de autopreservação que busca santificar a hipocrisia legislativa.

E o espetáculo só se completa porque a plateia aplaude. Eleitores, de olhos abertos, preferem fingir que não veem. Aceitam as regras porque é mais confortável repetir a pregação do “todos fazem” do que enfrentar a verdade incômoda de que sustentam sua própria escravidão moral. A mentira, aqui, nem precisa de bons argumentos: basta soar conveniente para ser canonizada.

Mas há um detalhe que os blindados parecem esquecer: nenhum falso evangelho escrito para autoproteção resiste à marcha do tempo. Quanto mais altas as muralhas, maior o estrondo quando caírem. O político que acredita segurar as cordas descobre cedo ou tarde que também é marionete de um destino que não controla.

Por isso, desconfie. Desconfie dessa doutrina fabricada nas casas legislativas, que promete virtude, mas entrega privilégio. Cristo não precisou de blindagens nem de imunidades constitucionais. Sua autoridade nasceu da entrega e do sacrifício, não da autoproteção. Só Ele salva — não porque cria regras convenientes, mas porque liberta.