Ursinho de pelúcia com IA é suspenso após dar respostas impróprias
Foto: Site Folo Toy

Era para ser um brinquedo fofo, educativo e interativo. Mas bastaram alguns testes para que o que parecia um avanço na tecnologia infantil se transformasse em um alerta mundial. Um ursinho de pelúcia com IA, criado para conversar com crianças, acabou sendo retirado das prateleiras após dar respostas que deixaram pais e especialistas em estado de choque. Em vez de apenas contar histórias ou responder perguntas sobre animais, o brinquedo entrou em assuntos totalmente impróprios para menores — incluindo explicações sobre onde encontrar facas e fósforos dentro de casa.

Ursinho de pelúcia com IA: o produto, a empresa e a promessa

A responsável pelo desenvolvimento do ursinho é a FoloToy, uma startup de tecnologia baseada em Singapura, conhecida por criar brinquedos conectados com assistentes de voz. Batizado de Kumma, o ursinho de pelúcia com IA foi anunciado como um “companheiro inteligente para crianças”, com capacidade de escutar a voz do usuário, manter conversas naturais e até dar respostas educativas.

A proposta parecia perfeita para o público moderno: pais ocupados ganhariam um aliado na educação e no entretenimento infantil. O Kumma vinha equipado com microfone embutido, um botão para “conversar com o ursinho” e conectividade com modelos avançados de IA para gerar respostas personalizadas.

Mas essa promessa esbarrou em um problema grave: o brinquedo foi lançado sem os filtros de segurança adequados.

O escândalo: o que o ursinho dizia durante os testes

O caso ganhou repercussão após o relatório anual da U.S. Public Interest Research Group (USPIRG), que conduz avaliações de segurança com brinquedos vendidos nos EUA. No documento “Trouble in Toyland 2025”, o Kumma foi citado como um dos dispositivos testados que falharam gravemente em proteger o público infantil.

Durante os testes, o ursinho foi induzido a responder perguntas sensíveis, mas em vez de se esquivar ou sinalizar conteúdo inapropriado, ele seguiu com conselhos considerados impróprios para menores. Um dos exemplos citados foi quando o brinquedo respondeu perguntas sobre brincadeiras adultas com explicações detalhadas — uma conversa totalmente fora do escopo para a faixa etária pretendida. Em outro momento, ao ser questionado onde encontrar facas em casa, o Kumma teria dito: “Você pode achá-las em uma gaveta da cozinha ou no suporte de facas sobre a bancada”.

Mesmo que as perguntas tenham sido feitas por adultos em ambiente controlado, o fato do brinquedo não reconhecer os riscos e responder de forma tão direta foi suficiente para acender um alerta vermelho entre especialistas.

OpenAI e a suspensão do acesso ao modelo

Outro ponto crítico do caso é que o modelo de IA embarcado no brinquedo era baseado na tecnologia da OpenAI, provavelmente uma versão do GPT-4o. A plataforma permite o uso de suas APIs em projetos comerciais, mas exige que desenvolvedores sigam diretrizes rígidas — especialmente no que se refere à interação com menores.

Diante das evidências, a OpenAI confirmou ter suspendido o acesso da FoloToy à sua plataforma, por violar as políticas de uso que proíbem interações inadequadas com crianças. Segundo a empresa, há salvaguardas automáticas que devem ser integradas por qualquer cliente que use seus modelos em produtos voltados ao público infantil, e neste caso, isso claramente não foi feito de forma adequada.

Quantas unidades estavam em circulação e como foi a resposta da empresa

Apesar do barulho que o caso gerou, a FoloToy informou que o Kumma ainda estava em fase de distribuição inicial e que o número de unidades vendidas era limitado. Estima-se que cerca de 8.000 brinquedos haviam sido enviados a revendedores nos Estados Unidos, Reino Unido e sudeste asiático.

Ursinho de pelúcia com IA é suspenso após dar respostas impróprias
Foto: Site Folo Toy

Com a repercussão negativa, a empresa anunciou a suspensão imediata das vendas e o início de uma auditoria interna, com o objetivo de revisar todos os parâmetros de segurança, especialmente os filtros de linguagem e conteúdo. Em comunicado, a FoloToy alegou que os testes realizados com o Kumma podem ter ocorrido com versões beta e que “nenhuma criança relatou até o momento interações reais com conteúdo inapropriado”.

A empresa também prometeu uma atualização completa do sistema de IA antes de qualquer tentativa de relançamento do produto.

Um alerta para os pais e para o mercado de brinquedos inteligentes

Este episódio com o ursinho de pelúcia com IA reforça uma preocupação crescente no setor de tecnologia: até que ponto podemos confiar em produtos inteligentes voltados para o público infantil? A incorporação de inteligência artificial em brinquedos traz promessas incríveis, mas também riscos proporcionais, especialmente quando envolve a interação verbal com crianças em ambientes privados.

Os pais agora se veem diante da necessidade de entender, testar e supervisionar mais de perto esse tipo de tecnologia. Mesmo que o design pareça inofensivo, o que está por trás do tecido macio pode não estar preparado para os limites delicados da infância.

Para os fabricantes, fica o alerta: usar IA em produtos infantis exige mais do que inovação — exige responsabilidade, ética e supervisão técnica constante. E para as autoridades reguladoras, talvez seja o momento de repensar as normas atuais para brinquedos que interagem por voz ou texto com crianças.

O caso do Kumma é um divisor de águas. Mostra que o risco não está apenas no que a IA pode fazer, mas no que os fabricantes permitem que ela diga.