Depois de retirar o câmbio manual da linha Argo em março, a Fiat acaba de anunciar o retorno do Argo Trekking 2026 com transmissão de cinco marchas. A decisão chama atenção não só pelo resgate da versão manual, mas principalmente pelo preço: agora, esse hatch com pegada aventureira chega às lojas por R$ 99.990 — valor mais alto que o de um Fiat Pulse 1.3 manual. A escolha da montadora reacende um debate importante sobre o reposicionamento do Argo dentro da própria gama da marca e o que realmente se leva para casa por esse valor.
Uma volta calculada, mas com preço elevado
O novo Argo Trekking 2026 é equipado com o motor 1.3 Firefly, um velho conhecido do público. Ele entrega até 107 cv de potência com torque de 13,7 kgfm, suficiente para uso urbano com folga e desempenho decente em estrada. A transmissão é a manual de cinco marchas, mesma que havia sido descontinuada no início do ano. A Fiat justifica o retorno como uma resposta à demanda do público, que ainda valoriza o controle direto da direção e os menores custos de manutenção.
Mas o ponto mais comentado até agora é o preço. O Argo Trekking 2026 chega por R$ 99.990 — R$ 1.000 acima do Pulse 1.3 Drive, também com câmbio manual e mesmo conjunto mecânico. E se o consumidor optar por pintura metálica ou o pacote opcional “Trekking Top”, com ar-condicionado digital, bancos e volante com revestimento em couro sintético e chave presencial, o valor final ultrapassa os R$ 105 mil. Com isso, o Argo Trekking 2026 se posiciona perigosamente próximo das versões automáticas de entrada do Pulse.
Comparando com o Fiat Pulse: quem entrega mais?
É aqui que a comparação fica mais sensível. Por menos dinheiro, o Pulse oferece exatamente o mesmo motor 1.3, câmbio manual e ainda entrega uma carroceria mais alta, espaço interno mais generoso, visual de SUV e melhor valor de revenda. O público mais jovem ou famílias pequenas tendem a ver mais vantagens no Pulse, que transmite robustez, modernidade e status — mesmo em sua versão básica.
O Argo Trekking 2026, por outro lado, ainda tem seu apelo visual com molduras nas caixas de roda, rack no teto, faróis de LED e rodas de liga leve com pneus mistos. Ele não tenta ser um SUV, mas um hatch urbano com visual aventureiro. Para alguns consumidores, isso é exatamente o que procuram: algo compacto, fácil de estacionar, com aparência ousada e sem o peso de um utilitário. No entanto, será que isso justifica pagar mais por menos espaço e menos percepção de valor?
Posicionamento de mercado: o que a Fiat está tentando?
A estratégia por trás do Argo Trekking 2026 é arriscada. Ao colocar a versão manual acima do Pulse 1.3 Drive, a Fiat parece tentar elevar o status do Trekking dentro da linha Argo, criando um degrau intermediário entre os modelos mais baratos com motor 1.0 e os automáticos com preço acima de R$ 107 mil. Essa escolha pode até fazer sentido para manter margem de lucro, mas pode afastar o consumidor racional, que faz comparações diretas entre produtos semelhantes.
Outro fator que pesa é a concorrência fora da própria Fiat. Modelos como o Renault Stepway ou o Hyundai HB20X, por exemplo, também oferecem apelo aventureiro, bom pacote de equipamentos e preços muitas vezes mais atraentes. Ao subir o valor do Argo Trekking 2026, a Fiat corre o risco de deixá-lo isolado, com preço de SUV e corpo de hatch.
Vale a pena comprar o Argo Trekking 2026?
Tudo vai depender do perfil do consumidor. Quem faz questão de um carro compacto, com pegada mais ousada e que ainda prefere câmbio manual pode se sentir atraído pelo Argo Trekking 2026. Ele entrega um bom conjunto mecânico, tecnologia suficiente para o dia a dia e visual distinto. Além disso, para motoristas que rodam muito em área urbana e buscam agilidade, o tamanho e a dirigibilidade do Argo continuam sendo pontos fortes.
Porém, para quem pensa em valor de revenda, espaço interno, ou quer uma sensação mais próxima de um SUV, o Pulse aparece como uma escolha mais equilibrada. Mesmo com preço menor, ele transmite mais modernidade, conforto e um interior mais aproveitável, especialmente para famílias.
O futuro do Argo com câmbio manual
O lançamento do Argo Trekking 2026 com câmbio manual pode ser visto também como um teste da Fiat para medir a aceitação desse tipo de transmissão em um momento em que o mercado caminha para a automatização. A própria volta do Pulse manual mostrou que ainda existe público fiel ao pedal de embreagem. Agora, com o Argo de volta ao jogo, será interessante observar se esse público está disposto a pagar mais por uma versão que antes era sinônimo de economia.