O saruê, gambá-de-orelha-preta (Didelphis aurita) é um marsupial de pequeno porte nativo da América do Sul, encontrado principalmente nas regiões de florestas tropicais e subtropicais. Apesar de muitas vezes ser associado a lendas e mitos populares que o retratam de forma negativa, este animal desempenha um papel fundamental no equilíbrio ecológico, sendo um controlador natural de pragas e contribuindo para a dispersão de sementes.
Onde o saruê vive
O gambá-de-orelha-preta habita principalmente as áreas florestadas do leste e sudeste do Brasil, incluindo a Mata Atlântica, um dos biomas mais ricos em biodiversidade, mas também um dos mais ameaçados do planeta. Sua distribuição se estende também pelo Paraguai e Argentina, sempre preferindo ambientes úmidos e com densa vegetação, como florestas e matas secundárias.
Por ser um animal muito adaptável, o gambá também consegue viver em áreas urbanas e periurbanas, sendo visto frequentemente em quintais, terrenos baldios e matas fragmentadas próximas a cidades.
Sua alimentação
O gambá-de-orelha-preta é onívoro e possui uma dieta extremamente variada, o que contribui para sua capacidade de adaptação a diferentes ambientes. Seu cardápio inclui:
- Frutas e vegetais: São fundamentais na dieta desse marsupial. Frutas como banana, goiaba, mamão, e até frutas silvestres são consumidas com frequência.
- Invertebrados: Insetos, como besouros e gafanhotos, formam uma parte importante da dieta, sendo o gambá um controlador natural de populações de pragas.
- Pequenos vertebrados: Oportunisticamente, gambás também podem se alimentar de pequenos roedores, aves e até anfíbios, capturando presas de maneira ativa.
- Carniça: O gambá tem um papel de necrófago, ajudando a limpar o ambiente ao consumir restos de animais mortos.
Essa diversidade alimentar faz com que o gambá-de-orelha-preta desempenhe uma função importante na cadeia alimentar, sendo tanto predador quanto presa para animais maiores, como corujas e cobras.
A reprodução e o ciclo de vida
O ciclo de vida do gambá-de-orelha-preta é relativamente curto, com uma expectativa de vida em torno de 2 a 4 anos na natureza, dependendo das condições ambientais e dos predadores naturais.
- Reprodução: O ciclo reprodutivo é contínuo, e a fêmea pode ter várias ninhadas por ano, com picos durante as estações mais quentes. Cada gestação dura cerca de 12 a 14 dias, resultando em ninhadas de 4 a 8 filhotes. Como marsupial, os filhotes nascem muito pequenos e incompletamente formados, completando seu desenvolvimento dentro do marsúpio (a bolsa da mãe), onde permanecem por até 2 meses antes de saírem para explorar o mundo.
- Desenvolvimento: Após deixar a bolsa, os filhotes continuam dependentes da mãe por mais algumas semanas, até se tornarem completamente independentes. Durante esse período, eles se alimentam de leite materno e gradualmente começam a consumir alimentos sólidos.
Comportamento do gambá-de-orelha-preta
O saruê é conhecido por seu comportamento noturno, saindo para caçar e se alimentar principalmente à noite. Além disso, é um animal solitário, exceto durante a fase de amamentação dos filhotes.
Quando se sente ameaçado, o gambá-de-orelha-preta adota uma estratégia defensiva muito peculiar: ele finge estar morto, ficando completamente imóvel e com o corpo relaxado, um comportamento chamado de tanatose. Além disso, pode emitir um líquido de odor desagradável, liberado por glândulas anais, para afastar predadores.
5. Papel no Equilíbrio do Ecossistema
O saruê tem uma importância vital no ecossistema, exercendo diversas funções que contribuem para o equilíbrio ambiental.
- Controle de pragas: Por ser um predador natural de insetos e pequenos roedores, o gambá ajuda a manter sob controle as populações de pragas que podem danificar plantações ou transmitir doenças, como ratos, baratas e escorpiões. Isso o torna um aliado importante tanto nas florestas quanto em áreas urbanas.
- Dispersão de sementes: Ao consumir uma grande variedade de frutas, o gambá também age como um dispersor de sementes. As sementes que passam pelo sistema digestivo do animal são eliminadas em fezes, frequentemente longe da planta-mãe, ajudando a regeneração florestal e a manutenção da biodiversidade. Essa função é especialmente importante em biomas como a Mata Atlântica, que depende da interação de diversos animais frugívoros para manter sua diversidade vegetal.
- Limpeza natural do ambiente: Como mencionado anteriormente, o gambá se alimenta de carniça, ajudando a decompor cadáveres e outros materiais orgânicos. Essa função é essencial para evitar a proliferação de doenças e manter o ambiente limpo.
Embora o gambá-de-orelha-preta não esteja atualmente na lista de espécies ameaçadas de extinção, ele enfrenta diversos desafios em seu habitat. A destruição das florestas, especialmente a Mata Atlântica, devido ao desmatamento e à urbanização, representa uma séria ameaça para suas populações. Além disso, o contato crescente com áreas urbanas aumenta os riscos de atropelamentos e conflitos com humanos.
O saruê, com seu comportamento noturno e aparência peculiar, pode não ser o animal silvestre mais carismático da fauna brasileira, mas é, sem dúvida, um dos mais importantes para a manutenção do equilíbrio ecológico.
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