Memorial em homenagem a Ernesto Geisel
Memorial em homenagem a Ernesto Geisel | Foto: Hélio Alexandre / Haos BG / Divulgação

Bento Gonçalves - A Universidade de Caxias do Sul (UCS) reagiu à recomendação do Ministério Público Federal (MPF) e afirmou que pretende manter ativo o Memorial Ernesto Geisel instalado na biblioteca do campus de Bento Gonçalves. A instituição enviou resposta ao órgão na qual sustenta que a continuidade da mostra está amparada pela autonomia universitária e por uma decisão técnico-científica de seu corpo docente.

A UCS afirma que o MPF, ao pedir a desativação imediata do espaço, “adentra perigosamente na esfera da liberdade acadêmica”. Segundo a universidade, cabe à comunidade científica definir quais acervos têm relevância histórica para preservação e pesquisa. A instituição ressalta que o memorial não tem caráter de exaltação política, mas de documentação histórica, reunindo materiais relacionados a programas estruturantes do Estado brasileiro nas áreas de energia, agricultura, ciência e tecnologia. A narrativa, reforça a UCS, está centrada em políticas públicas de longo prazo, e não na figura do ex-presidente.

A universidade também destaca que o memorial atende a uma demanda histórica de Bento Gonçalves, cidade natal de Geisel, e afirma que parte da comunidade local considera legítimo preservar elementos da memória do ex-morador. Para a instituição, a manutenção do espaço, ou até mesmo a possível transferência para outro local público, conta com apoio de entidades e da prefeitura.

A UCS reforça que o memorial funciona como espaço de guarda documental e incentivo à pesquisa, e não como homenagem celebratória. Ao responder ao MPF, a universidade ainda afirma manter compromisso com os direitos humanos, o pluralismo e o Estado Democrático de Direito, ao mesmo tempo em que assume o papel de “guardiã do conhecimento e da história”.

Recomendação do MPF

A manifestação da UCS ocorre após o MPF recomendar, na última semana, o encerramento imediato do memorial por entender que a mostra configura exaltação a um ditador e contraria determinações da Comissão Nacional da Verdade (CNV). Os procuradores Enrico Rodrigues de Freitas e Fabiano de Moraes apontam que ações do governo Geisel incluíram perseguições, torturas, assassinatos e desaparecimentos políticos, citando casos emblemáticos como as mortes de Vladimir Herzog e Manuel Fiel Filho. Para o órgão, manter o memorial afronta o Estado Democrático de Direito e pode causar sofrimento adicional a vítimas e familiares.

O MPF advertiu que poderá ajuizar ação civil pública por dano moral coletivo caso a universidade mantenha o espaço. O órgão ainda orientou a UCS a não reinaugurar o memorial nem criar novas homenagens a agentes envolvidos em violações de direitos humanos. Segundo a assessoria do MPF no Rio Grande do Sul, a resposta enviada pela universidade será analisada nos próximos dias.