Política

Senado derruba decisão do STF de afastar Aécio Neves do parlamento

Brasília - Senado decide sobre medidas cautelares contra o senador Aécio Neves (Wilson Dias/Agência Brasil)
Brasília - Senado decide sobre medidas cautelares contra o senador Aécio Neves (Wilson Dias/Agência Brasil)

Com 44 votos favoráveis, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) conseguiu reverter as medidas cautelares impostas pelo Supremo Tribunal Federal (STF). 26 senadores votaram pela manutenção da decisão da Primeira Turma do STF que afastou o senador do mandato e impôs recolhimento noturno no dia 26 de setembro. No total, 71 dos 81 senadores estiveram presentes na sessão.

A votação no Senado ocorreu depois que a maioria dos ministros do STF decidiu, na semana passada, que o tribunal não pode afastar parlamentares por meio de medidas cautelares sem o aval do Congresso Nacional. No fim de setembro, a Primeira Turma da Corte havia decidido, por 3 votos a 2, afastar Aécio do exercício do mandato ao analisar pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR) no inquérito em que o tucano foi denunciado por corrupção passiva e obstrução de Justiça, com base nas delações premiadas dos executivos da J&F.

Durante a sessão, cinco senadores favoráveis e cinco contrários à decisão do Supremo puderam declarar seus votos em plenário. Para Jader Barbalho (PMDB-PA), os ministros do STF tomaram uma decisão “equivocada”. “Não venho a esta tribuna dizer que meu voto será por mera solidariedade ao senador Aécio. Com todo respeito a ele, estou longe de aceitar sua procuração ou sua causa. Não estou nesta tribuna anunciando voto em razão do que envolve o senador. Voto em favor da Constituição. Ministro do Supremo não é legislador, não é poder constituinte. Quem escreve a Constituição é quem tem mandato popular”, argumentou.

Já o senador Álvaro Dias (Pode-PR) criticou o que classificou de “impasse” surgido a partir do instituto do foro privilegiado. “A decisão do Supremo Tribunal Federal, corroborada pelo Senado, vem na contramão da aspiração dos brasileiros, que é de eliminar os privilégios. Nós estamos alimentando-os. Não votamos contra o senador, votamos em respeito à independência dos Poderes, em respeito a quem compete a última palavra em matéria de aplicação e interpretação da Constituição, que é o Supremo Tribunal Federal”, disse.

Antes da votação, o senador Cássio Cunha Lima (PSDB-PB), que visitou Aécio nesta terça-feira (17), também defendeu o parlamentar mineiro. “A votação hoje é muito além do caso do senador Aécio, a situação dele terá seguimento no STF, qualquer que seja o resultado. Algumas pessoas imaginam que ele foi julgado hoje em definitivo. Ele continuará sua jurisdição na Suprema Corte. Não há que se falar em impunidade. Isso até é um desrespeito à Suprema Corte. Os ministros do STF vão, a partir dos autos do processo, se isso virar um processo, porque estamos na fase de inquérito, absolver ou condená-lo, de acordo com as provas que tiver nos autos desse processo”, disse.

Mais cedo, o PT havia anunciado voto contrário a Aécio. Antes, havia se posicionado defendendo que o Legislativo tem o poder de revisar medidas cautelares impostas pelo Supremo.

Antes da sessão, Aécio Neves enviou uma carta aos senadores para se defender das acusações de que teria solicitado dinheiro proveniente de propina ao dono do grupo JBS, Joesley Batista e atacar os executivos da empresa que, segundo ele, promoveram gravações com o único objetivo de incriminá-lo. O senador tucano alegou que as medidas cautelares foram determinadas pelo STF sem que ele tivesse oportunidade de se defender.

“A determinação dessas cautelares, sem que sequer houvesse denúncia aceita contra mim, e o mais grave, sem que eu sequer pudesse apresentar as provas de minha defesa, se sustenta em uma gravação feita de forma clandestina, portanto criminosa, por um réu confesso, Joesley Batista, em busca dos extraordinários benefícios de sua delação premiada, agora interrompida”, escreveu.