Caxias do Sul

Comandante afirma que BM não foi solicitada para fazer escolta de valores no aeroporto de Caxias do Sul

Montante de R$ 30 milhões, pertencente a banco privado, chegou em voo proveniente de Curitiba (PR) e seria transportado por carro-forte que foi atacado no portão do terminal de cargas do complexo aeroportuário. Tenente-Coronel Vargas acredita que informação privilegiada contribuiu para o planejamento da quadrilha, que fugiu com metade do valor

(Foto: Marcelo Oliveira/Grupo RSCOM)
(Foto: Marcelo Oliveira/Grupo RSCOM)


O comandante do 12º Batalhão da Brigada Militar (BPM), tenente-coronel Ricardo Moreira de Vargas, informou que a corporação não foi comunicada para prestar apoio no transporte de valores no Aeroporto Hugo Cantergiani, em Caxias do Sul, que ocorreria às 19h de quarta-feira (19). No local, um assalto a carro-forte vitimou o 2º sargento da Brigada Militar, Fabiano Oliveira, 47, após troca de tiros com criminosos. A informação foi repassada por Vargas em entrevista ao programa Bom dia Trabalhador da Rádio Viva, na manhã desta quinta (20) “Infelizmente tivemos o sargento que tombou em serviço. Vimos esse ‘guri’ ingressar na Brigada Militar como aluno e que, daqui alguns anos, ingressaria na reserva da BM“, lamentou o comandante.

Segundo ele, dependendo do nível da operação, o apoio da Brigada Militar e outros órgãos de segurança é solicitado, o que não aconteceu neste caso. Estavam sendo transportados pelo carro-forte R$ 30 milhões, pertencentes a um banco privado para distribuição a agências do Estado, que haviam chegado por via aérea, com partida de Curitiba (PR). Na saída do portão 2, no terminal de cargas, a 200 metros do terminal do aeroporto, o blindado foi atacado por cerca de dez homens em quatro veículos, com fardas e adesivagem simulando as da Polícia Federal.

‘Não foi comunicado nada dessa operação’

O fato da BM não ter sido comunicada e as características da ação levam o tenente-coronel a considerar que o ataque contou com o vazamento de informações privilegiadas para os criminosos. Além disso, o ataque ocorreu enquanto parte do efetivo do 3º Batalhão de Choque e do 12º Batalhão de Polícia Militar estavam designados, como comumente ocorre em grandes eventos, à segurança do jogo entre Juventude x Vasco, no Estádio Alfredo Jaconi, pelo Campeonato Brasileiro.

“O fato é que a Segurança Pública e a Brigada Militar desconheciam essa operação (de chegada dos malotes) que seria feita. Normalmente, quando ocorre esse tipo de transporte a gente é avisado e se trabalha uma operação muito forte para evitar justamente esse tipo de ação. E não foi comunicado nada dessa operação, que infelizmente vitimou o nosso sargento“, ressalta Vargas.

“A corporação sempre procura entender o cenário em operações para o transporte de numerário com organização, planejamento e efetivo considerável no apoio”, acrescenta o comandante.Ocorre que, nesta ocasião, por algum motivo, as forças de segurança não foram informadas, e a vida de um policial foi tirada em virtude de uma situação que poderia sim ter sido evitada”, lamenta. A Polícia Civil está a cargo das investigações.

R$ 15 milhões foram roubados

A Brigada Militar foi avisada sobre o confronto entre vigilantes do carro-forte e criminosos no interior do acesso 2 do aeroporto pela Guarda Municipal, que flagrou o ataque pelas câmeras de videomonitoramento. A viatura do sargento vitimado foi uma das primeiras a chegar no local, sendo recebida com fogo intenso.A partir desse momento os policiais fizeram o que eles sabem fazer: se abrigaram, cercaram o perímetro, eles foram muito técnicos nessa questão. Infelizmente ao mudar de uma posição para a outra o sargento acabou sendo atingido, descreveu.

Um dos criminosos também foi morto na troca de tiros, que se estendeu por mais de 20 minutos. Diversos estabelecimentos comerciais defronte ao aeroporto, na Avenida Salgado Filho, tiveram as vidraças destruídas e ficaram com marcas de balas de grosso calibre, assim como a entrada principal do terminal aeroportuário. Conforme levantamento inicial, a quadrilha utilizou armamento pesado, como metralhadoras .30 e .50. Após o confronto, a quadrilha fugiu em direção à BR-116, deixando pra trás uma caminhonete Frontier, caracterizada como sendo da Polícia Federal, onde um dos homens foi morto. No veículo foram encontrados R$ 15 milhões.

Veículos de fuga encontrados

Diversas forças de segurança foram mobilizadas para a captura. Agentes do 12⁰ BPM, do 4º BPChoque, do BOPE, da Polícia Federal, do Departamento de Repressão à Corrupção e ao Crime Organizado (Draco)  e da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core) da Polícia Civil, além do Exército, atuaram na ocorrência e nas operações de captura. Já encontramos os veículos e, a partir de agora, é avançar nas buscas para conseguir, em tempo curto, a prisão desses criminosos“, frisa Vargas.

Aeroporto – Em virtude do ataque, o Aeroporto Hugo Cantergiani teve todos os voos da noite até o meio-dia desta quinta cancelados. As operações foram liberadas após a conclusão dos trabalhos da Perícia Criminal e vistoria do terminal. A reabertura ocorreu às 10h30 e os voos foram retomados após o meio-dia.

‘Sargento era um policial de linha de frente’

Com ingresso na BM em 1° de dezembro de 1997, o 2º sargento Fabiano Oliveira atuava na Força Tática do 12º BPM. De acordo com Vargas, era um policia ‘raiz’. “Enquanto todas as pessoas estão correndo da linha de perigo, a BM está indo para o perigo, e o Fabiano era um policial de linha de frente. É um dia imensamente triste para a Brigada Militar“. O corpo do sargento foi velado nesta quinta, nas Capelas Cristo Redentor, e depois transferido em comboio para cerimônia de cremação no Memorial São José, em Caxias do Sul. O governo do Estado, a Prefeitura e a Brigada Militar de Caxias do Sul emitiram notas lamentando a morte do policial militar.

Fotos: Marcelo Oliveira/Grupo RSCOM

 

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