Você já reparou que seu cachorro ignora o barulho do liquidificador, mas enlouquece quando ouve o portão rangendo? Ou que ele nem liga para o barulho da chuva, mas começa a latir sem parar quando alguém espirra? Esse comportamento seletivo, que parece aleatório para nós, tem raízes bem mais profundas do que se imagina — e pode dizer muito sobre a personalidade, experiências e até o estado emocional do animal. Quando falamos sobre cães, entender a forma como eles reagem aos sons é uma forma de entender melhor quem eles são.
Sons e latidos: o que os cães escutam
Cães têm uma audição extremamente sensível, muito mais aguçada do que a dos humanos. Eles conseguem captar sons em frequências mais altas e perceber ruídos muito distantes. Isso significa que aquele som de chave girando na fechadura, quase imperceptível pra você, pode ser interpretado pelo seu cachorro como um evento significativo.
E não é só uma questão de volume ou frequência: os cães também são mestres em associar sons a situações. Um simples barulho de sacola pode significar comida chegando. Já o som do interfone pode sinalizar que um “invasor” está prestes a entrar em seu território.
Cães e a associação de experiências
Grande parte da resposta dos cães a determinados sons está ligada à associação que eles fazem com aquele ruído. Se um cachorro teve uma experiência negativa com fogos de artifício, por exemplo, ele pode desenvolver medo ou ansiedade só de ouvir uma explosão ao longe.
Por outro lado, se o som do carro na garagem estiver associado à chegada do tutor, o cão pode reagir com euforia e latidos de empolgação. O latido, nesse caso, não é um sinal de incômodo, mas de comunicação e expectativa positiva.
O papel da raça e do instinto protetor
Algumas raças são naturalmente mais reativas a sons do que outras. Cães do grupo de guarda, como pastores alemães, rottweilers e dobermans, tendem a responder a ruídos estranhos com latidos imediatos, pois foram historicamente selecionados para proteger territórios.
Já cães de companhia, como shih-tzus e pugs, podem ser menos atentos a estímulos sonoros desconhecidos, embora isso varie de acordo com o ambiente onde vivem. Cães criados em lugares mais silenciosos tendem a estranhar mais sons do cotidiano urbano — o que pode explicar por que latem tanto para carros, buzinas e motos.
Sons agudos, latidos imediatos
De modo geral, sons mais agudos e intermitentes costumam gerar mais reações nos cães. Alarmes, apitos, choros de bebês e até risadas muito estridentes podem causar desconforto ou despertar o instinto de alerta. Isso porque esses sons se assemelham a chamados de filhotes ou a sinais de estresse — e o instinto do cão é responder.
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Sons contínuos e graves, como o motor da geladeira ou da máquina de lavar, costumam ser ignorados, especialmente quando já fazem parte do ambiente. O cérebro do cão aprende a “filtrar” ruídos que não representam ameaça ou novidade.
Quando o latido revela estresse
Nem sempre um latido em resposta a um som é algo normal ou saudável. Se o cachorro começa a latir para absolutamente qualquer barulho — desde o clique do mouse até o som da torneira — é hora de observar se ele está estressado, entediado ou ansioso.
Cães que passam muito tempo sozinhos, que não têm estímulos mentais ou físicos suficientes, podem desenvolver uma hipersensibilidade sonora. É como se eles estivessem o tempo todo em alerta, e qualquer som diferente fosse um gatilho para expressar tensão.
Como lidar com os latidos seletivos
Se o seu cão reage de forma exagerada a determinados sons, o primeiro passo é não reforçar esse comportamento com broncas ou recompensas. Em vez disso, tente identificar o que aquele som representa para ele. Uma boa dica é usar a técnica da dessensibilização: exponha o cão gradualmente ao som que o incomoda, em volume baixo, e associe isso a experiências positivas — como petiscos ou carinho.
Além disso, enriquecimento ambiental, passeios frequentes, brinquedos interativos e até a presença de outro animal de companhia podem ajudar a diminuir o estresse e tornar o cão menos reativo.
Cada latido é uma mensagem
Por mais que os latidos incomodem de vez em quando, é importante lembrar que eles fazem parte da linguagem dos cães. Latir é uma forma legítima de expressar o que sentem, alertar sobre algo ou simplesmente pedir atenção. Quando entendemos por que eles reagem a certos sons e ignoram outros, abrimos espaço para uma convivência mais respeitosa — e muito mais harmônica.
Ao ouvir seu cachorro latir, tente escutar com empatia. Talvez ele esteja tentando dizer que algo mudou, que está assustado ou apenas animado. Cada som que ele ouve é interpretado com base em um mundo que é só dele — mas que pode ser melhor compreendido por nós, se estivermos dispostos a ouvir de verdade.
