
“Na casa da minha avó, o óleo do pastel era o mesmo do bolinho de chuva.” Essa frase, ou uma bem parecida, é ouvida em 9 a cada 10 cozinhas brasileiras. E é até poético: o reaproveitamento do óleo virou sinônimo de economia doméstica, tradição e até de sabor. Mas será que a gente está fazendo isso do jeito certo?
Se você reaproveita óleo de fritura desse jeito, sem critérios, guardando em qualquer pote, esquecendo de coar ou usando várias e várias vezes… é hora de repensar. Pode parecer exagero, mas isso pode sim fazer mal à saúde — e não estamos falando de achismo, mas de evidências.
Neste artigo, você vai entender o que acontece com o óleo quando ele é reutilizado, quais os riscos reais, e como reaproveitar de forma segura (porque sim, é possível). Bora esclarecer isso?
O que acontece com o óleo quando ele é reutilizado?
O óleo de cozinha — seja de soja, milho, girassol ou canola — é uma gordura vegetal que, em temperatura ambiente, parece inofensiva. Mas ao ser aquecido em altas temperaturas, como acontece durante a fritura, ele passa por reações químicas complexas:
- Oxidação: o contato com o oxigênio altera as moléculas de gordura.
- Polimerização: o óleo começa a se transformar em uma substância mais viscosa e escura.
- Formação de compostos tóxicos: como aldeídos, acroleína e radicais livres.
Essas transformações não só afetam o sabor e o cheiro dos alimentos, mas também geram substâncias prejudiciais à saúde. Estudos já relacionaram o consumo frequente de óleos reutilizados com problemas como:
- Inflamações crônicas
- Aumento do colesterol LDL (o ruim)
- Risco cardiovascular elevado
- Disfunções hepáticas
- Maior risco de alguns tipos de câncer
Ou seja, o famoso “óleo escuro com cheirinho de peixe” pode estar carregando mais do que sabor: ele pode estar contaminando seu prato com toxinas.
Mas quantas vezes dá pra reutilizar o óleo?
A resposta honesta é: depende. O número de reutilizações vai variar de acordo com alguns fatores:
- Tipo de alimento frito: batata e pastel “sujam” menos o óleo que peixe ou frango empanado.
- Tempo de fritura: quanto mais tempo o óleo fica no fogo, mais se degrada.
- Temperatura de aquecimento: se passar de 180°C, a degradação é acelerada.
- Armazenamento: guardar em local arejado e longe da luz ajuda, mas não faz milagre.
De forma geral, os especialistas recomendam não reutilizar mais do que duas a três vezes, e sempre respeitando os seguintes cuidados:
Como reaproveitar óleo de fritura de forma mais segura
Se a ideia é economizar sem colocar sua saúde em risco, siga este passo a passo:
1. Coe sempre
Logo após o uso, com o óleo ainda morno (e não quente!), coe com uma peneira fina ou filtro de papel para remover resíduos de alimentos. Esses restos aceleram a degradação do óleo.
2. Armazene corretamente
Use potes de vidro escuros, com tampa bem vedada. Guarde em local fresco, seco e longe da luz — dentro do armário, de preferência.
3. Sinalize a quantidade de usos
Marque no pote quantas vezes aquele óleo já foi utilizado. Três usos é o máximo recomendado.
4. Observe cor e cheiro
Se o óleo estiver muito escuro, espesso ou com cheiro rançoso, descarte. Mesmo que tenha sido usado apenas uma vez.
5. Nunca misture óleo novo com usado
Isso compromete a estabilidade do óleo novo e pode acelerar a deterioração de ambos.
6. Use para fins específicos
Se for reaproveitar, prefira usar em frituras de alimentos semelhantes (ex: óleo usado para pastel pode servir para coxinha, mas não para peixe ou doces).
O que NÃO fazer com o óleo usado
Aqui vale um alerta direto ao ponto:
- Não jogue na pia ou no vaso sanitário: além de entupir os canos, polui rios e mares.
- Não reutilize sem coar: isso contamina o óleo mais rápido.
- Não aqueça até soltar fumaça: essa fumaça contém acroleína, altamente tóxica.
- Não use para temperar saladas ou cozinhar arroz: óleo reutilizado não serve para preparos em baixa temperatura.
Dá para reaproveitar de outro jeito?
Sim! Se você não quer reutilizar para fritura, pode doar o óleo usado para projetos de reciclagem que produzem sabão, biodiesel e outros derivados. Muitas cidades possuem pontos de coleta, e algumas empresas até retiram em casa.
Também é possível fazer sabão caseiro, desde que com as devidas precauções — esse é um processo químico que envolve soda cáustica, então exige cuidado e responsabilidade.
Vale a pena economizar com a saúde?
A gente sabe: o óleo está caro. E reaproveitar parece uma forma sensata de evitar desperdícios. Mas quando feito sem critério, esse “jeitinho” sai caro.
Você reaproveita óleo de fritura desse jeito? Pode fazer mal à saúde, e o risco é invisível, silencioso, mas real. Não precisa abandonar o reaproveitamento — só precisa fazer com consciência.
A saúde começa na cozinha. E o que parece economia imediata pode custar bem mais no longo prazo.