Você abre a janela de manhã e dá de cara com dois olhos grandes te encarando no galho da árvore da calçada. É uma coruja — ou melhor, uma família delas. Antes de entrar em pânico ou correr para o telefone da prefeitura, respira fundo: isso pode ser um privilégio maior do que você imagina. Mas também traz responsabilidades. Afinal, estamos falando de uma ave silvestre protegida por lei, com hábitos noturnos peculiares e importância vital para o equilíbrio do ecossistema urbano.
Corujas fazendo ninho em árvores de áreas urbanas é algo cada vez mais comum. A expansão das cidades e a destruição dos habitats naturais empurram esses animais para espaços compartilhados com humanos. O seu quintal, sua calçada ou a praça do bairro se transformam em refúgios seguros — desde que as pessoas saibam como agir.
Primeiro passo: observe, mas não interfira
A primeira reação de muita gente é tentar “fazer algo” — cortar o galho, espantar a ave ou ligar para o controle de zoonoses. Mas isso é exatamente o oposto do que deve ser feito. Corujas, especialmente espécies como a coruja-buraqueira (Athene cunicularia), não representam risco direto à população e não devem ser removidas à força do local onde decidiram fazer ninho.
Por que não interferir
Corujas são protegidas pela Lei de Crimes Ambientais (Lei nº 9.605/1998). Perturbar, capturar ou tentar afastar o animal de forma agressiva pode configurar crime ambiental. Além disso, a interferência pode prejudicar o ciclo reprodutivo da ave e estressar os filhotes, aumentando o risco de abandono.
A coruja é sinal de equilíbrio ambiental
Ao contrário de mitos antigos que associam a coruja à má sorte, essa ave é um verdadeiro presente ecológico. Sua presença indica que o ambiente está saudável, com oferta de alimento e pouca interferência tóxica. As corujas controlam naturalmente pragas urbanas como ratos, baratas e pequenos répteis.
O que a presença da coruja revela sobre sua vizinhança
Se a coruja escolheu a árvore da sua calçada, provavelmente ela se sente segura ali. Isso significa que a vizinhança tem pouco barulho à noite, iluminação controlada e vegetação que sustenta a cadeia alimentar. Em resumo: é um ambiente onde natureza e cidade coexistem bem.
Cuidados durante o período de ninhada
O período de reprodução é o mais sensível. Se a coruja está fazendo ninho, significa que há ou haverá ovos e filhotes em breve. Nessa fase, as aves ficam mais atentas, podem emitir sons altos à noite e até voar de forma defensiva se alguém se aproximar muito.
Como proteger a ave e evitar conflitos
- Evite podas durante a época da ninhada (geralmente entre agosto e dezembro).
- Não tente alimentar a coruja — ela caça por instinto e pode se tornar dependente.
- Evite luzes fortes e barulhos na base da árvore, especialmente à noite.
- Eduque vizinhos e crianças sobre a importância de manter distância.
Quando e como comunicar as autoridades
Se você perceber que a ave está ferida, presa ou se há risco iminente de queda do ninho (devido a galhos quebrados, por exemplo), aí sim é o momento de acionar os órgãos ambientais. Os centros de zoonoses e a Polícia Ambiental podem fazer resgates autorizados quando há risco real envolvido.
Contatos úteis em caso de emergência
- IBAMA (Linha Verde): 0800 61 8080
- Polícia Ambiental local (número varia por estado)
- Secretaria do Meio Ambiente da sua cidade
Evite ligar para serviços que não tenham preparo para lidar com fauna silvestre. Muitos animais são capturados e removidos sem critérios, o que compromete sua sobrevivência.
O ninho é temporário — e pode deixar saudade
Corujas não ficam para sempre no mesmo lugar. Após o período de ninhada, geralmente de 30 a 60 dias, os filhotes ganham independência e a família parte em busca de novos territórios. Mas muitos moradores relatam que as aves retornam no ano seguinte, se o ambiente continuar favorável.
Como tornar o ambiente seguro sem interferir
Evite podar drasticamente a árvore, mantenha a calçada limpa, sem restos de alimentos ou lixo orgânico que atrai roedores (presas das corujas), e incentive a observação à distância. Fotografar, registrar e compartilhar o momento com consciência é uma forma de educar e valorizar a fauna urbana.
Receber a visita — ou a moradia temporária — de uma coruja na sua árvore é uma oportunidade rara de convivência com a natureza dentro da cidade. Em vez de enxergar isso como um incômodo, veja como um convite à reconexão com o mundo natural. Com respeito, silêncio e olhos atentos, você poderá acompanhar um dos espetáculos mais belos e silenciosos da vida urbana.