ANIMAIS INCRÍVEIS

Entenda por que o saruê está cada vez mais presente nas cidades

Entenda por que o saruê tem aparecido com frequência nas cidades e o que fazer ao encontrar um. Adaptação urbana e dicas de convivência.

Entenda por que o saruê está cada vez mais presente nas cidades
Imagem gerada por IA

Você está no quintal à noite, o cachorro late como se tivesse visto um fantasma. Ao se aproximar, lá está ele: o saruê. De olhos esbugalhados, orelhas grandes e cauda longa, esse visitante inusitado tem se tornado cada vez mais comum nos centros urbanos. Antes associados exclusivamente às matas, os saruês, também chamados de gambás-de-orelha-branca, estão se adaptando à cidade como poucos animais silvestres conseguiram.

Mas o que explica esse fenômeno? Por que esses marsupiais noturnos vêm se aproximando tanto das casas, muros e telhados? E mais importante: o que fazer quando encontrar um deles no seu terreno?

O saruê e sua capacidade de adaptação

O saruê (nome popular do Didelphis albiventris) é um marsupial nativo da América do Sul e tem uma das maiores distribuições geográficas entre os mamíferos brasileiros. Ele é onívoro, noturno e extremamente oportunista — características que o tornam um sobrevivente nato.

Com o desmatamento e a urbanização desenfreada, muitos animais perdem seus habitats e acabam empurrados para áreas urbanas. O que diferencia o saruê de outros mamíferos silvestres é a capacidade de viver entre os humanos. Ele não precisa de muito: um canto escuro, um pouco de abrigo e restos de comida já bastam.

Nos centros urbanos, ele encontra tudo isso com facilidade: frutas caídas, ração de animais domésticos, lixo mal acondicionado e estruturas abandonadas onde pode se esconder.

Por que a presença do saruê aumentou nas cidades?

1. Urbanização acelerada e perda de habitat

As cidades crescem sobre antigas áreas de mata nativa. Quando condomínios, avenidas e conjuntos habitacionais substituem o ambiente natural, os animais são obrigados a buscar abrigo onde podem. O saruê, ao contrário de outras espécies mais sensíveis, se adapta ao caos urbano com uma facilidade surpreendente.

Telhados, forros de casas, galpões abandonados e até mesmo árvores em áreas verdes urbanas viram refúgios temporários para esses animais.

2. Oferta abundante de alimento

Nas cidades, o saruê encontra uma verdadeira feira livre noturna. As fontes de comida são variadas: restos orgânicos no lixo, ração de pets deixada no quintal, frutas caídas em pomares e até insetos e pequenos roedores. E como ele é onívoro, come de tudo um pouco.

Essa disponibilidade constante de alimento facilita a fixação do animal nas áreas urbanas e reduz seu instinto migratório.

3. Falta de predadores naturais

Nas matas, o saruê enfrenta predadores como jaguatiricas, cobras e aves de rapina. Já nas cidades, sua principal ameaça são os cães e os carros. Com menos predadores, ele circula com mais liberdade e aumenta sua taxa de sobrevivência, inclusive com reprodução frequente.

Além disso, seu comportamento de “fingir de morto” quando ameaçado nem sempre funciona com animais domésticos, mas ainda é eficiente contra muitos outros riscos.

O que fazer ao encontrar um saruê?

1. Não tente espantar nem capturar

Ao se deparar com um saruê, não tente pegá-lo ou espantá-lo com vassouras, paus ou pedras. Ele pode se assustar e reagir, mesmo não sendo agressivo por natureza. Lembre-se: ele está mais assustado do que você.

Se estiver em local aberto, deixe uma rota de fuga e ele sairá por conta própria. Caso esteja preso em algum lugar (como dentro de casa ou embaixo de móveis), o ideal é chamar o centro de zoonoses ou a guarda ambiental da sua cidade.

2. Não confunda com rato

Muita gente ainda mata saruês achando que são ratos. Apesar da cauda semelhante, os saruês são maiores, têm focinho longo, orelhas nuas e olhos mais destacados. Eles também são importantes controladores de pragas, pois se alimentam de insetos, baratas, escorpiões e até pequenos roedores.

Ou seja, ao invés de representar risco, o saruê pode ser um aliado no controle biológico da sua vizinhança.

3. Cuide bem do lixo e da ração dos pets

Evitar a presença do saruê começa com medidas simples: não deixe ração de gatos ou cachorros exposta durante a noite, feche bem os sacos de lixo e mantenha restos de frutas ou alimentos longe do alcance.

Essas pequenas ações dificultam o acesso do animal à comida fácil e desencorajam visitas recorrentes.

O saruê e o equilíbrio urbano

A presença cada vez maior do saruê nas cidades é um reflexo direto das mudanças ambientais provocadas pelos humanos. Ele não está “invadindo” o espaço urbano — está apenas se adaptando à nova realidade imposta a ele.

Lidar com isso exige educação ambiental, respeito à fauna nativa e ações de convívio consciente. Assim como aprendemos a dividir espaço com pombos, gatos e gambás, também podemos aprender a conviver com o saruê.

Entenda por que o saruê está cada vez mais presente nas cidades
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Um vizinho que veio para ficar?

Tudo indica que sim. O saruê é um daqueles animais que, em vez de desaparecer com a urbanização, aprende a sobreviver no meio dela. Isso o torna uma espécie símbolo da resiliência da fauna brasileira. Saber reconhecê-lo, respeitá-lo e entender seu papel ecológico é o mínimo que podemos fazer.

Porque, no fim das contas, ele só está tentando viver — do jeito que pode — no mundo que nós mesmos transformamos.