O general Walter Braga Netto completou 80 dias preso em uma sala da Vila Militar, no Rio de Janeiro. Sob vigilância rigorosa e com visitas restritas, até os banhos de sol diários são escoltados por policiais do Exército e seu acesso a informações externas é limitado.
Denunciado por envolvimento em uma trama golpista no fim do governo de Jair Bolsonaro, o general soube das acusações imputadas a ele pela Procuradoria-Geral da República (PGR), por meio da defesa e pelo noticiário.
“Ele é inocente e está inconformado por estar preso com base em uma mentira”, afirma o advogado criminalista, José Oliveira Lima, sobre a reação de seu cliente.
Braga Netto, juntamente com o general de duas estrelas, Mário Fernandes, três tenentes-coronéis e um policial federal são os únicos dos 34 denunciados no inquérito que estão presos, preventivamente, por ordem do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.
General de quatro estrelas, Braga Netto é o de maior patente ainda detido. É também o único a ficar preso em uma sala de Estado Maior da 1ª Divisão do Exército, no Rio — parte do Comando Militar do Leste, que ele chefiou até 2019. O local, um cômodo adaptado no prédio principal da Vila Militar, conta com TV, banheiro exclusivo, geladeira e ar-condicionado, conforme a descrição de pessoas próximas ao militar.
Visitas restritas
As visitas são restritas aos familiares e advogados. Qualquer exceção precisa passar por aval de Moraes. As visitas aos militares presos no inquérito passaram a ser mais restritas depois da revelação de que o tenente-coronel Mauro Cid recebeu 73 visitas em 19 dias, no primeiro semestre de 2023 — 41 delas de militares. Na época, Moraes considerou o número “elevadíssimo”, o que indicava “falta de razoabilidade”.
Uma das visitas de Braga Netto foi do atual comandante do Exército, general Tomás Paiva, em 7 de fevereiro, onze dias antes de a PGR apresentar a denúncia. A ida do comandante, no entanto, não foi por uma questão de prestígio, mas um procedimento de rotina, como Tomás Paiva frisou a interlocutores.
O encontro, que durou cerca de 15 minutos, foi protocolar e de pouca conversa. O comandante lhe perguntou se ele estava bem de saúde e se tinha acesso à defesa e à família. O general não teria lhe apresentado queixa.
A relação entre os dois generais não era próxima durante o governo Bolsonaro e degringolou com o avanço da investigação. Mensagens obtidas pela Polícia Federal indicam que Braga Netto incentivou críticas a Tomás Paiva nas redes sociais, supostamente para pressionar militares que resistiam a aderir à trama investigada. Em uma das mensagens, ele referiu-se ao comandante como alguém que “parece até que é PT desde pequenininho” e incentivou a divulgação da crítica.
Em nota, o Exército informou que os militares presos estão “isolados” e têm acesso a “assistência religiosa, médica e psicológica”, além de “respeitar rigorosamente as condições estabelecidas pelas autoridades competentes”. “Por questões de segurança orgânica, não fornecemos informações relativas aos horários, rotinas ou à quantidade de militares responsáveis pela segurança dos presos nas diversas situações”, diz.
A mesma limitação de visitas foi imposta a Mário Fernandes, que foi secretário executivo da Secretaria Geral da Presidência da República no governo Bolsonaro. Após passar um período na sala de Estado Maior da Vila Militar do Rio, ele foi transferido para o Comando Militar do Planalto, em Brasília, em um cômodo que também dispõe de ar-condicionado, TV e geladeira.
A transferência foi pedida pelo militar com o intuito de ele ficar mais perto da família, que o tem visitado quase todos os dias. Além da aproximação com os parentes, ele passou a se ligar mais à religião. Segundo pessoas próximas, o general está triste, sentindo-se injustiçado, mas “bem resiliente”.
Tanto os advogados de Braga Netto como o de Fernandes pediram a revogação da prisão preventiva ainda no ano passado. Os pedidos foram indeferidos por Moraes no período de Natal, em 24 e 26 de dezembro, respectivamente. Para o ministro do Supremo, a medida extrema é necessária para manter a ordem pública e assegurar o andamento das investigações.