Mais uma vez os gaúchos demonstram que resiliência e união são duas de suas características marcantes. Após 128 dias, Caxias do Sul e Nova Petrópolis têm o trânsito restabelecido sobre o Rio Caí. A inauguração da Ponte da Cooperação, capitaneada por moradores e empresários da região, ocorreu na tarde desta sexta-feira, 20 de setembro, feriado da Revolução Farroupilha.
A estrutura serve de alternativa enquanto uma ponte definitiva é construída na BR-116, no km 174, por empresa contratada pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT). A passagem original teve um dos pilares comprometido pelo desastre climático no dia 12 de maio, impossibilitando o tráfego de veículos desde então.
O acesso à Ponte da Cooperação, por Caxias, se dá por Vila Cristina, percorrendo cerca de 1,2 km de estrada a partir da BR-116. A travessia leva a São José do Caí, a cerca de 700m da rodovia federal no lado de Nova Petrópolis.
O trânsito flui em sentido alternado, sem semáforo ou temporizador. De acordo com o engenheiro responsável pelo projeto, Jeferson Dal Bello, a estrutura é sustentada por galerias de concreto que dão a travessia, ao todo, aproximadamente 120m de comprimento e 3,2m de largura. De uma margem a outra são quase 200m, com apoio de um aterro de terra e pedras na metade do percurso.
Pare e Siga no km 181 – Apesar de a ponte suportar veículos de até 45 toneladas, os motoristas de caminhões e ônibus, por exemplo, precisam ter atenção no retorno à BR-116, uma vez que o trecho do km 181, na entrada de Nova Petrópolis, é orientado em pare e siga com semáforos e possui liberação apenas para automóveis com altura máxima de 2,6m.
Conforme os organizadores, o tráfego só será interrompido na Ponte da Cooperação se, em caso de chuva intensa, as águas do Rio Caí cobrirem a passagem.
Clima de festa e simbolismos
A chuva deu trégua para a realização da solenidade, que contou com forte presença da comunidade. A pastora Débora Ramblow e o padre Felipe Klafke Konzen, de Nova Petrópolis, abençoaram a ponte. O descerramento da faixa de inauguração foi realizado por duas famílias, que representam as culturas alemã e italiana — em alusão aos aniversários de imigração desses povos.
Fizeram a travessia, de forma simbólica, cavaleiros, ciclistas, motociclistas, caminhoneiros, jipeiros, tratores, além de viaturas da Brigada Militar, de bombeiros voluntários e de socorristas.
Vanderlei Schneider, de 49 anos, abriu os caminhos pilchado, montado em um cavalo, e carregando a bandeira do Rio Grande do Sul. “A emoção é forte. Tanto tempo esperando a ponte, recebi o convite para ser a primeira pessoa a cruzar e aceitei. Fico muito agradecido e contente“, disse ele, que mora na Linha Temerária, em Nova Petrópolis.
Alívio, alegria e esperança traduzem o momento para Fabiana Schildt Finn, 49, moradora de São José do Caí. Além de ficarem impossibilitados de cruzar o rio, ela e o marido perderam plantações de figo e goiaba durante as chuvas.
“Temos áreas de terra aqui e na Linha Sebastopol (Caxias), então o trabalho foi totalmente impactado. Tínhamos que fazer toda a volta pelo Bananal (ponte em Vale Real). A enchente foi impactante, mas ficar sem a ponte foi muito pior. Estávamos praticamente isolados“, relatou.
Corredor humanitário
A construção da ponte, concluída em 35 dias, tem custo estimado pelos organizadores de R$ 1,85 milhão. O valor é arrecadado por meio da campanha ReConstruindo Conexões. O projeto também possibilitará erguer uma travessia baixa, elaborada com contêineres, em Feliz, no Vale do Caí. A entrega deve ocorrer até o início do mês de outubro. As prefeituras de Caxias do Sul, Nova Petrópolis, Gramado, Feliz e Picada Café contribuem na ação com a revitalização de acessos e disponibilização de máquinas.
Porta-voz da ReConstruindo Conexões, o empresário de Nova Petrópolis Clóvis Schumann afirma que o intuito é abrir um corredor humanitário que atenda as demandas da saúde, educação, indústria, comércio e do turismo.
“Convidamos os turistas a voltarem novamente a nossa região para tomar um café colonial, ir em uma churrascaria e prestigiar nossos hotéis, fazendo seus passeios“, disse Schumann.
“Vinte de setembro, Dia do Gaúcho. De um lado os alemães, de outro os italianos. Nada melhor que se unir e entregar essa ponte, feita em 35 dias“, complementou, agradecendo às doações de pessoas físicas e empresas para a campanha.
Ponte definitiva é projetada para dezembro
A mobilização surgiu após o DNIT cancelar o projeto emergencial que instalaria uma ponte metálica temporária entre Caxias e Nova Petrópolis enquanto a travessia permanente está em processo de construção, na BR-116.
A estrutura definitiva deverá ter 180m de extensão e 13m de largura, além de ser mais alta e mais resistente que a anterior. A autarquia federal prevê a finalização da obra, que tem investimento de R$ 31 milhões, em dezembro deste ano, apesar de o prazo contratual indicar a entrega em fevereiro de 2025.
Travessia
Imagens: Marina Tusset/Grupo RSCOM
Transmissão ao vivo
Mapa da Ponte da Cooperação
*Reportagem atualizada às 18h de sexta-feira, dia 20 de setembro