Opinião

Para onde vamos? Estamos mesmo evoluindo?

Foto: Arquivo Leouve
Foto: Arquivo Leouve

Max Weber foi um sociólogo que viveu entre 1864 e 1920. Ao seu tempo, ele fez duras críticas à visão racional, científica e burocratizada do mundo, por ter acabado por suplantar valores que são importantíssimos para que o ser humano possa viver em sociedade, tanto valores culturais, como espirituais e religiosos, que acabaram sendo secundarizados, colocados de lado, em nome da eficiência e da regra custo-benefício.

Weber desenvolveu um estudo aprofundado sobre a racionalidade burocrática que domina o mundo, a ponto de afirmar que, se essa racionalidade do mundo capitalista e industrial produziu uma vantagem extraordinária em termos de bens e serviços, ela igualmente representou um retrocesso social muito grande, uma vez que ela despersonalizou e alienou o indivíduo.

Nesse grande mecanismo, o indivíduo não mais importa; ele já não é mais do que um número: um CPF, um RG, uma Matrícula enfim, aquele indivíduo totalmente livre tão comum e almejado em sociedades ocidentais industriais e capitalistas, como era da vontade dos Iluministas, segundo se depreende da tríade Revolucionária Francesa de 1789 (liberdade, igualdade e fraternidade).

O que está na base dessa racionalidade criticada por Max Weber?

São precisamente dois valores: a “eficiência” e o “custo-benefício”. Ou seja, ela é uma racionalidade que, quando vai analisar a relação entre as coisas, irá apenas perquirir como fazer algo para obter o melhor custo-benefício. Essa é a racionalidade própria das ciências exatas (que possibilitou aos homens conhecer os mistérios da natureza; as leis que regem o universo), e foi transportada para a indústria, acabando por propiciar a produção cada vez mais eficiente a um custo cada vez menor. Na indústria, ela foi ótima. Funcionou. Produziu bens como nunca dantes visto, acarretando um grande progresso material para a humanidade.

Na visão do Weber, o problema foi que essa racionalidade passou a ser utilizada também pelas pessoas que estavam à frente do Estado que a olharam e pensaram: “se essa racionalidade funcionou em todo lugar, a gente vai emprega-la também para governar a sociedade”. E essa racionalidade se cria com a burocracia que, a seu turno, nada mais é do que uma forma organizada de realizar as atividades do Estado e do Governo.

Essa forma organizada visa exatamente à eficácia e ao custo-benefício. Além disso, essa racionalidade cria organizações hierárquicas impessoais (Estado, Escola, Bancos etc.) que controlam as nossas vidas e que controlam a nossa sociedade. Segundo Weber, para essas instituições, você não é você, um indivíduo, com valor próprio, com todas as suas aspirações, com todos os seus sonhos e expectativas em relação à vida, mas apenas um número que você recebe por meio de procedimentos padronizados. Depois, você vira não mais que estatística, vez que essa nova forma de controle suprime a individualidade do ser. Ela se pauta pela eficiência e pelo cumprimento de metas, alheia às ideias de ação comunitária e de valores tradicionais.

Weber e outros, no futuro, vão dizer que essa racionalidade que suprimiu todos os valores culturais, espirituais e religiosos que conduziram à despersonalização do indivíduo, transformando-o em um número, é uma das grandes causas da depressão e do aumento do número de suicídios, especialmente, no mundo Pós-Moderno, em que a tal da autonomia (liberdade) profetizada pelo Iluminismo não propiciou para o ser humano uma vida mais feliz.

E por que não? Porque, na base dessa racionalidade, se você não produz com eficiência e não performa a ideia de custo-benefício, você é só mais um número a ser descartado da engrenagem (o idoso, por exemplo, é inservível, porque só produz custos e nada mais).

E se você é só um número, um CPF, um RG, uma Matrícula enfim, já não importa que você encaminhe a aposentadoria, o auxílio maternidade, o benefício previdenciário de auxílio-acidente de trabalho hoje, e ele chegue até você meses depois. Um número não come, não sofre, não trabalha, não paga boletos, não precisa sustentar os filhos, não perde emprego, para ficar em poucos exemplos.

E a racionalidade capitalista-industrial, da liberdade absoluta, ao contrário de trazer plenitude, pelo tanto de bens produzidos, propiciou aos indivíduos, em larga escala, o que Max Weber chamou de “desencantamento do mundo”. A Era das Luzes – que tanto lutou para sair da Idade das Trevas; para se ver livre das amarras religiosas e metafísicas – conduziu o homem a um vazio existencial.

A burocracia, no imaginário do Weber, é um novo modelo de dominação, que cria uma nova forma de indivíduo, o indivíduo preocupado com um bom emprego e com status social. Ela incentiva a produtividade e secundariza a criatividade.

Porém, Weber afirma que a burocracia, não obstante tudo isso, é inevitável e necessária, porque ela supervisiona uma sociedade que prospera, embora as ações sociais já não sejam mais pautadas por laços comunitários ou por valores tradicionais como antes dito. A ação social agora é pautada pela eficiência e pelo cumprimento de metas.

E a autonomia? Ela não existe mais. Nós a perdemos e este foi o preço que tivemos de pagar (burocratização da vida), para vivermos em abundância material.

Na atualidade, com efeito, não são poucas as pessoas, dominadas por esse mecanismo burocrático e necessário, que já não veem sentido na vida social tampouco na vida em si, em face de uma sociedade dominada pelo dinheiro e pelo trabalho, como se vivêssemos apenas para pagar boletos, e como se a verdade (um dia buscada na natureza, depois, buscada em Deus e no próprio homem) fosse agora buscada em lugar nenhum. Acho que para uma parte expressiva de seres humano, isso é sentido assim.