O fenômeno El Niño está de volta ao Oceano Pacífico equatorial após anos. O retorno do fenômeno era esperado desde o ano passado pela MetSul, quando modelos de clima passaram a indicar um acentuado aquecimento das águas na faixa equatorial do Pacífico. O anúncio do retorno foi feito oficialmente pela Administração Nacional de Oceanos e Atmosfera dos Estados Unidos (NOAA), que juntamente com o Bureau de Meteorologia da Austrália é referência mundial no monitoramento do Pacífico.
O período de transição entre o fim da La Niña em fevereiro e o começo do El Niño em junho foi notavelmente rápido com apenas três meses de neutralidade.
A última vez em que o Pacífico apresentou condições de El Niño foi em entre o segundo semestre de 2018 e a metade de 2019, mas foi um evento de fraca intensidade.
O QUE É EL NIÑO?
O Pacífico equatorial tem três fases: El Niño (quente), neutralidade e La Niña (fria). Em condições normais no Pacífico, os ventos alísios sopram para Oeste ao longo do equador, levando água quente da América do Sul para a Ásia. Para substituir essa água quente, a água fria sobe das profundezas em processo chamado ressurgência.
Durante o El Niño, os ventos alísios enfraquecem e a água quente é empurrada para Leste, em direção à costa Oeste das Américas, notadamente Peru e Equador.
Existem dois tipos principais de El Niño, o costeiro e o clássico (canônico). No costeiro, a água do mar aquece muito juntos aos litorais equatoriano e peruano.
Desde fevereiro um evento costeiro está em curso, trazendo inundações nos dois países. É um episódio de escala mais regional. Já o El Niño na sua forma clássica é marcado por um aquecimento mais abrangente na faixa equatorial do Pacífico e suas consequências são globais. É o que a maioria conhece, está em formação e vai marcar os próximos meses.
El Niño significa menino em Espanhol. Os pescadores sul-americanos notaram pela primeira vez períodos de água excepcionalmente quente no Oceano Pacífico por volta de 1600. O nome completo que eles usaram foi El Niño de Navidad (Natal), porque o El Niño normalmente atinge o pico por volta de dezembro.
ATÉ QUANDO O FENÔMENO?
A NOAA prevê a atuação ao menos até o começo de 2024 e antecipa que deve se intensificar neste inverno do hemisfério Sul e verão no Norte. De acordo com as projeções da MetSul, o evento deve ter seu pico de intensidade no último trimestre deste ano, entre a primavera e o nosso verão.
QUAL VAI SER A INTENSIDADE DO EL NIÑO?
Esta é a pergunta que ainda não se tem uma resposta definitiva. Nós, meteorologistas, fazemos uso de modelos de clima – projeções de computador – que simulam as condições futuras do oceano. A maioria indica um evento moderado a forte com pico de intensidade no último trimestre do ano, mas alguns modelos são agressivos em apontar um El Niño muito forte a intenso, o que se denomina de Super El Niño.
HAVERÁ UM SUPER EL NIÑO?
Não é algo hoje que se possa dizer ocorrerá, apenas que se trata de uma possibilidade. Seria o pior cenário. Isso porque as consequências de eventos de Super El Niño sempre trouxeram desastres naturais por chuva, seja em enchentes ou deslizamentos. A enchente de 1941, a pior de Porto Alegre, foi em um El Niño intenso. Os eventos de Super El Niño de 1982/1983, 1997/1998 e 2015/2016 foram responsáveis por algumas das piores enchentes no Sul do Brasil nas últimas décadas. Em outubro de 2015, as águas do Guaíba chegaram ao piso do Cais Mauá, o que não ocorria desde a enchente de 1967.
QUAIS AS CONSEQUÊNCIAS NO MUNDO?
O fenômeno altera o clima no mundo inteiro. Nenhum continente escapa aos seus efeitos. Em algumas áreas, o fenômeno exacerba o risco de secas e em outras o de excesso de chuva. O mesmo ocorre com a temperatura, com mais ou menos frio, conforme a parte do mundo.
Na América do Sul, por exemplo, aumenta muito a chuva no Paraguai, Uruguai e Argentina ao passo que no Norte – em países como a Venezuela- reduz muito a chuva.
QUAIS OS EFEITOS DO EL NIÑO NO BRASIL?
No Brasil, o fenômeno reduz a chuva na Amazônia Legal, sobretudo no Norte e no Leste da região, e diminui também as precipitações na maior parte do Nordeste, com seca e temperatura muito alta.
No Sudeste e Sul da região Centro-Oeste a influência na chuva é mais variável, mas a temperatura tende a ficar acima a muito acima da média. Os efeitos variam muito a cada episódio do fenômeno, mas, em regra, o tempo fica mais quente e com mais extremos de calor.
No Sul, aumento da chuva, mais no Rio Grande do Sul e Santa Catarina, com extremos de precipitação, cheias e enchentes. Não deixa de fazer frio, mas as estações tendem a ser mais quentes.
FENÔMENO TRARÁ MAIS TEMPORAIS?
Com a atmosfera mais aquecida e maior umidade no Sul do Brasil, a frequência e o risco de temporais fortes de vento e granizo vão aumentar nos próximos meses, especialmente no fim do inverno, com o período mais crítico de tempo severo na primavera e no verão. Podem ocorrer muitos temporais com estragos no Sul do país.
QUANDO A CHUVA AUMENTA NO SUL DO BRASIL!
Espera-se que a chuva aumente no Rio Grande do Sul no decorrer deste inverno, especialmente na segunda metade da estação, com risco de precipitações muito acima da média em vários momentos da primavera. Assim, a chuva vai aumentar ao longo do segundo semestre com maiores excessos na primavera.
HÁ EFEITOS EM CICLONES?
Sim, o fenômeno impacta a atividade de ciclones mundialmente. Os efeitos sobre os ciclones extratropicais no Atlântico Sul são menos estudados, mas o efeito em ciclones tropicais é muito sabido. O El Niño, por exemplo, tende a desfavorecer mais furacões no Atlântico Norte por gerar mais vento divergente na região. No Pacífico Leste, ao contrário, os furacões tendem a aumentar.
EL NIÑO IMPACTA A SAÚDE?
Sim, sem dúvida. No caso do Rio Grande do Sul, verões de El Niño são mais quentes e úmidos. Isso não apenas piora o risco de mortes por calor, o que em países desenvolvidos se tem estatística e aqui não pelas autoridades de saúde, como pode turbinar o problema da dengue, afinal clima mais quente e úmido é perfeito para uma maior proliferação de mosquitos, afinal é uma enfermidade tropical.
HÁ EFEITOS NA AGRICULTURA?
Como um estado agrícola, o Rio Grande do Sul é muito dependente de chuva. Historicamente, porém nem sempre, anos de El Niño registram aumento da produtividade de milho e soja, culturas bastante castigadas pela La Niña de 2020 a 2023. Por outro lado, cresce o risco de pragas pelo tempo mais úmido. O arroz, com mais chuva e menor insolação, tem anos menos favoráveis sob o fenômeno. Já o excesso de chuva e menos frio na primavera podem ser prejudiciais ao trigo.
COMO FICA O AQUECIMENTO DO PLANETA?
O fenômeno El Niño sabidamente aumenta o aquecimento global. Com o mundo já muito aquecido, a tendência é altíssima que a temperatura planetária supere o recorde de 2016 e atinja os maiores valores no mundo em dezenas de milhares de anos.
Fonte: METSUL