Bento Gonçalves

Número de trabalhadores resgatados de situação análoga à escravidão ultrapassa os 230 em Bento Gonçalves

Em novas ações desenvolvidas em parreirais, mais pessoas foram encontradas pelas forças de segurança.

Novas ações ocorreram na tarde da quinta-feira (23) nos parreirais da cidade (Foto: Divulgação)
Novas ações ocorreram na tarde da quinta-feira (23) nos parreirais da cidade (Foto: Divulgação)


Após ações desenvolvidas em parreirais de todo o entorno de Bento Gonçalves, o número de trabalhadores resgatados de situações análogas à escravidão no município subiu para 230. Em números ainda não definitivos, 215 foram encontrados na noite da quarta-feira (22) em uma pousada e mais 24 em três parreirais na tarde da quinta-feira (23).

Relembre

A Polícia Rodoviária Federal (PRF) recebeu, nesta semana, a denúncia de que trabalhadores, em grande maioria baianos, contratados para serviços em vinícolas e abatedouros de frango em Bento Gonçalves estariam sendo submetidos à situação análoga a escravidão. Entre as acusações, falta de comida, atraso nos pagamentos, ameaças, agressões físicas, morais e psicológicas e jornada de trabalho de praticamente 20h.

Juntamente com a Polícia Federal (PF) e o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), a PRF esteve na noite da quarta-feira (22) deflagrando a operação e fazendo vistoria na pousada em que os trabalhadores ficavam alojados. No local, encontraram muita sujeira e quartos muito pequenos e sem ventilação. De acordo com a investigação, eles foram contratados por empresa de Bento Gonçalves que os encaminhava às vinícolas e abatedouros com a promessa de remuneração de R$ 4 mil, mais benefícios, além de alimentação e moradia.

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Trabalhadores ficarão alojados no Ginásio Municipal Foto: Leon Sanguine/Grupo RSCOM

No início da tarde da quinta-feira (23), os trabalhadores começaram a ser acomodados no Ginásio Municipal de Bento Gonçalves, onde ficarão até que a situação seja resolvida e possam voltar para suas cidades. Muitos apresentavam ferimentos e alegavam terem sido agredidos fisicamente pelos seguranças das pousadas. Outros, reclamavam da alimentação. “A gente recebia um café da manhã, voltava a trabalhar e ficava esperando o almoço. Só chegava no final da tarde e já estava podre, não tinha como comer. E a gente precisava seguir trabalhando.”

Também havia quem se queixava de humilhações sofridas . “A gente veio aqui para ganhar dinheiro, não para ser tratado como escravo. Se reclamasse eles vinham para cima para nos bater. Ficávamos doentes e eles não davam a mínima, tínhamos que ir, porque se faltasse descontariam R$ 1000. Nos xingavam o tempo todo, dizendo que éramos demônios, de desgraça, que baiano bom era baiano morto. Até para acordar vinham na agressividade.”

Após a operação ser deflagrada na quarta-feira (22), a PRF passou a receber diversas denúncias de locais em que, dentro do mesmo caso, mais trabalhadores estavam na mesma situação. Durante essas ações, os policiais encontraram mais 24 pessoas. Elas também serão encaminhadas para o Ginásio Municipal de Bento Gonçalves. As investigações seguem ao longo da semana.