NOVA LIDERANÇA

"Terá que ser um Papa bastante diplomático", diz reitor do Santuário de Caravaggio sobre sucessor de Francisco

Padre Ricardo Fontana apontou causas como conflitos armados, economia mundial, instabilidades no Oriente Médio e Europa e a fome como principais pautas do novo pontífice

Papa Francisco (Foto: Vatican News/Divulgação)
Papa Francisco (Foto: Vatican News/Divulgação)

A morte do Papa Francisco, nascido Jorge Mario Bergoglio, nesta segunda-feira (21), faz com que o novo líder da Igreja Católica seja definido por um rito conhecido como ‘conclave’. Este é um processo eleitoral extremamente secreto que remonta inclusive aos tempos medievais.

O então pontífice, que morreu aos 88 anos por conta de um acidente vascular cerebral (AVC), seguido de um quadro de insuficiência cardíaca irreversível, trabalhou fortemente pautas como a preocupação com os mais vulneráveis. Ele citou exemplos dos pobres e imigrantes, enfatizou a importância da paz e justiça social, meio ambiente, abuso sexual na igreja e a reforma da Cúria Romana. Este é o órgão administrativo da Santa Sé, que serve de auxílio do Papa no governo da Igreja Católica.

Em entrevista ao Portal Leouve o reitor do Santuário de Caravaggio em Farroupilha, padre Ricardo Fontana, ressaltou que as bandeiras antes levantadas por Francisco devam ser levadas adiante. Isso deve ocorrer mesmo com as possíveis dificuldades que devem ser encontradas.

“Na minha opinião, penso que os Cardiais vão se reunir e levantar as grandes pautas que existem no tempo de hoje, que são as questões relevantes dos conflitos armados, a questão econômica do mundo, questões no Oriente Médio, Leste Europeu, essas instabilidades que estamos vivendo, então terá que ser um Papa bastante diplomático, que possa ir de encontro a esse diálogo e ter uma liderança forte para dialogar com as grandes lideranças do mundo. Diante dos conflitos armados, guerras econômicas e militares que existem, diante da fome que existe no mundo, as grandes diferenças sociais, penso que deverá ser um Papa da continuidade, esperamos até que seja um Francisco II que entre no governo da igreja, justamente para continuar com estas grandes pautas”, afirmou Fontana.

Padre Ricardo Fontana durante celebração (Foto: Nossa Senhora de Caravaggio/Divulgação)

Sobre o período de Francisco como líder do catolicismo no mundo, Fontana lembrou que seu nome, indicação do gaúcho Cardeal Cláudio Hummes, recorda o acolhimento as pessoas principalmente pobres de espírito.

“Em primeiro lugar somos agradecidos a Deus pelo dom da vida do Papa Francisco em seus 88 anos, 12 a frente da Cátedra de São Pedro em Roma, como nosso Papa. Desde a escolha de seu nome, onde por indicação do seu amigo então colega Cardeal Cláudio Hummes, brasileiro, ele ouve o conselho quando foi eleito de não esquecer-se dos pobres, e de fato então ele assume o nome Francisco, recordando a atitude de Francisco com os mais humildes, os pobres de espírito especialmente, e com o meio ambiente”, relembrou o reitor demonstrando gratidão ao ex-líder da Igreja Católica.

Em uma avaliação após a morte de Francisco, Ricardo Fontana citou a moralização da igreja em diversas frentes importantes. Ele destacou a questão de corrupção e também da pedofilia.

“Ele deixa um legado muito grande, de muitas conquistas. Internamente promoveu que a igreja caminhasse junta, de mãos dadas e que todos os membros fossem valorizados. Hoje é reconhecido no mundo como uma das maiores lideranças”.

Um exemplo de humildade de Francisco ficou evidente no testamento divulgado pelo Vaticano. Assinado pelo pontífice em 29 de junho de 2022, o documento revela o pedido de um sepultamento simples. Indica que o sepulcro seja montado no chão, sem decoração especial e somente com uma inscrição: “Franciscus”, na lápide.

Francisco dedicou 12 anos de sua vida a função de Papa (Foto: Vatican Media)

Como funciona o conclave

Após a morte do papa, os cardeais eleitores devem esperar 15 dias completos para dar início ao conclave. A eleição acontece na Capela Sistina, no Vaticano. O voto, totalmente secreto, é depositado em uma urna. O número de votos do escolhido não é divulgado.

Durante a votação, os cardeais são proibidos de qualquer tipo de comunicação com o exterior. No início do conclave, os cardeais fazem um juramento de silêncio. Além deles, todos os funcionários do serviço que têm acesso a eles também deverão jurar que manterão segredo sobre tudo o que tiver relação com as reuniões. Isso ocorre sob pena de excomunhão.

Três cardeais são escolhidos para a contagem dos votos. Para ser eleito, um cardeal precisará de pelo menos dois terços dos votos. Os cardeais não têm direito de se abster nem de votar em si mesmos.

A cor da fumaça que sairá da chaminé anuncia ao mundo o resultado. Preta, se ainda não houver uma decisão, e branca, se um novo papa tiver sido eleito. Não há um prazo específico para o conclave. O último exemplo é a eleição de Francisco, que durou dois dias.

Os cardeais votantes em cada continente

Ao todo são 252 cardeais, dos quais 135 estão aptos para votar, pois os demais estão acima dos 80 anos e não fazem parte da votação.

A Europa tem o maior número de cardeais eleitores, 53. Em seguida está a Ásia, com 23 eleitores, África (18), América do Sul (17) e América do Norte (16). Por fim aparecem a América Central e Oceania somando quatro eleitores cada.

No total, 71 países poderão estar representados no conclave para eleger o sucessor do Papa Francisco. Deste número, 54 países contam com apenas um cardeal votante.

Os sete brasileiros envolvidos na votação

Dos 135 aptos ao voto, sete são brasileiros: Leonardo Ulrich Steiner, arcebispo de Manaus, 74 anos; João Braz de Aviz, arcebispo emérito de Brasília, 77 anos; Paulo Cezar Costa, arcebispo de Brasília, 57 anos; Orani Tempesta, arcebispo do Rio de Janeiro, 74 anos; Odilo Scherer, arcebispo de São Paulo, 75 anos; Sérgio da Rocha, Primaz do Brasil e arcebispo de Salvador, 65 anos; Jaime Spengler, presidente da CNBB e arcebispo de Porto Alegre, 64 anos.