Preparar-se e/ou sonhar por anos a fio, eleição após eleição; descartar hipóteses, flertar e negociar até encontrar um partido que te abra as portas e conceda o espaço necessário. Muitas vezes, ter que por os pés no peito de quem ali já estava, convencendo colegas de agremiação que o teu nome é o melhor.
Vaidade, dinheiro, dever cívico ou ainda, dar a chance para que teus companheiros de partido permaneçam na prefeitura. Vontade de ajudar ou de se autorealizar.
Tudo conta na hora de decidir ser candidato ou, melhor, ser “O” candidato. Aí o nome é ungido em convenção e as dificuldades prosseguem: coligar, namorar e acertar com um partido que some mais do que traga problemas; , define-se o vice, monta-se a equipe, alinhar discurso, contratar assessorias ( quando há verba para tanto), arrecadar para manter a militância motivada e aba$tecida.
Enfrentar uma maratona de visitas, frequentar lugares aos quais dificilmente se iria em outra circunstância; ser adulado e entender que isto é parte da pantomima; ser ofendido e pensar que isto pode ser verdadeiro; tomar café, cachaça e chimarrão, mesmo que o açúcar seja em demasia; almoçar ou jantar três vezes num dia e, apesar de todo este esforço, não ver progresso nas pesquisas internas. O nome não sai de um ou dois por cento.
Ir para debate com desiguais e ser tratado como igual; ser alvo de ataques injustos e coordenados. Não ter a resposta na hora certa. Na caminhada, esquecer o nome do eleitor que tu conheces há anos e finalmente no domingo, às 20 horas, pegar a bandeira com tua estampa e enrolar. Colocar naquele armário cheio de teias na garagem e na segunda-feira, após noite mal dormida, acordar sem saber o que te atropelou.
Resta a contabilidade da campanha e a vontade de não olhar pra aquelas pessoas que afundaram contigo. Triste roteiro para nove entre dez candidatos deste imenso Brasil. Parabéns pela coragem para todos. Em alguns casos lamentar a falta de noção. Ainda assim, obrigado por nos permitir ter mais de uma opção na hora de votar.