Opinião

Reflexões Filosóficas – II

Confira o artigo semanal da Dra. Silvia Regina Becker Pinto

Reflexões Filosóficas – II

Dias atrás, eu dei início a uma série de abordagens filosóficas. Retomo esse tema.

A Filosofia, como ensina Carlos Roberto Cirne Lima (in Dialética para Principiantes. 3.ª ed. São Leopoldo: Editora Unisinos, 2005, p. 14), “é a ciência dos primeiros princípios, dos princípios que são universalmente válidos, e que regem tanto o ser como o pensar.” Por isso o autor a define como um grande “quebra-cabeça” (embora, na Filosofia, reconhece ele, não temos todas as peças) cujo tema pode ser extraído de uma metáfora da Arquitetura: o fundamento último de toda construção.

Isso existe? Não sei. Primeiro, gostaria de dizer que não sou filósofa: sou apenas uma jurista com curiosidades filosóficas. Tenham isso bem presente. Depois, que, nesse mosaico gigante, creio que ainda estamos muito longe de saber todas as respostas.

Pois bem. Noutro dia, abordei duas grandes vertentes do pensamento filosófico: o determinismo e a contingência. Hoje, vou falar da primeira, aquela que condessa o entendimento de que tudo na existência está predeterminado no universo.

Os gregos acreditavam no Destino. Conforme o magistério do Professor Cirne Lima, “era o Destino que, com mão férrea, dirigia a vida dos homens e comandava o curso da História. A Pítia, sacerdotisa no templo de Apolo em Delfos, inspirada pelos vapores emanados de dentro da terra, dizia o que o Futuro iria trazer” (p.216). O oráculo, aos gregos, portanto, dizia o que iria acontecer. E quem era sensato, portanto, não haveria de resistir ao Destino, devendo a ele simplesmente se entregar, não importando a vontade individual de cada ser humano.

Isso é teoria vã? Não sei. Mas vai ano e entra ano, e os oráculos dos novos séculos são consultados para ver o que o Destino nos reserva para o “ano novo”. Isso também explica por que o horóscopo faz tanto sucesso. Eu, por exemplo, nasci em meio ao sucesso de Omar Cardoso e Zora Yonara.

Mas eis uma palavra boa para a nossa abordagem: a palavra “explica”. Plica, em grego, tem o sentido de dobradura. Quando você ‘explica’, você vai desdobrando um conceito, uma ideia, no sentido de dentro para fora; logo, algo que ‘implica’ se desdobra de fora para dentro.

Platão pensava mais ou menos assim. Ele estava muito preocupado em “explicar” o mundo desde quando tudo começou. Tudo teve um primeiro princípio e, a partir dali tudo foi se desdobrando e vem se desdobrando até o infinito.

Adepto à filosofia de Heráclito, para Plantão, tudo está em constante movimento. Tudo flui. Ninguém entra em um rio duas vezes, porque nem o rio nem o ser serão os mesmos. A existência vai se explicando (desdobrando para fora), num constante movimento do ser, não ser e o devir.

Que coisa mais absurda é essa, doutora Silvia?

Não é!!! Muitos se deram conta e se apropriaram dessa ideia ou mesmo a introduziram em seus próprios conhecimentos. Por exemplo, para os espíritas, ela está na configuração da vida, da morte e da reencarnação, como uma compreensão de vida eterna. Para o Cristianismo, ela está na trindade Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo. Ela esteve na tríade revolucionária francesa e seu ideário de liberdade, igualdade e fraternidade; está na trilogia maçônica (o triângulo equilátero); está na mítica do número três, a mesma dialética de pai, mãe e filho, onde este não é pai nem mãe, mas tem em si pai e mãe guardados e superados. É a dialética da tese, antítese e síntese que, na ordem infinita das coisas, sempre faz surgir novas teses, novas oposições, e novas conclusões sintéticas. É a vida, é bonita e é bonita!

E onde está a ideia de destino? Ah, sim! Dizia eu que, nessa ordem de ideias, na compreensão platônica, houve um primeiro princípio. Como isso aconteceu?

É que, na Filosofia Platônica – não sei se me farei entender -, esse mundo em que vivemos, o mundo dos sentidos, o mundo perceptível, é apenas uma representação, uma imitação de um outro mundo, “o mundo das estrelas”, onde repousam todas as almas e todas as ideias (o Cristianismo, especialmente a partir de Santo Agostinho, irá jurar que é o céu). É lá que repousa o verdadeiro conhecimento, a ordem das coisas e de todas as ideias e acontecimentos que regem o mundo. Por isso, em alusão ao destino, dissemos que “tudo está escrito nas estrelas”, ou se quiserem, numa proposição mais Cristã, “é a vontade de Deus”.

Quer dizer que não podemos mudar “nadica” na nossa vida, só nos restando aguardar o que o destino nos reserva? O que tiver de ser será?

Vamos tratar de uma outra perspectiva no nosso próximo encontro.