Foto: Lucas Uebel/Grêmio FBPA
Foto: Lucas Uebel/Grêmio FBPA

A crescente digitalização dos clubes de futebol, que hoje são potências em e-commerce, licenciamento e relacionamento com o torcedor, expõe-nos a uma nova e complexa fronteira de vulnerabilidade: o ciberataque de engenharia social. Nesse cenário, a Operação Deepfake Geromel – oficialmente denominada Operação Manto – emerge como um caso paradigmático que desnuda a sofisticação da criminalidade digital e impõe uma reavaliação urgente da estratégia de cibersegurança do clube.

O golpe, minuciosamente planejado, foi além de uma simples fraude de domínio. Os criminosos estabeleceram uma loja virtual falsa, replicando a identidade visual da loja oficial, e utilizaram anúncios patrocinados em plataformas digitais para atrair torcedores. O fator de convencimento definitivo, contudo, residiu no uso da tecnologia deepfake, criando vídeos falsos de Pedro Geromel, capitão e ídolo, endossando as vendas promocionais. Ao ver o jogador, símbolo de confiança e credibilidade, os torcedores tiveram suas suspeitas eliminadas, realizando pagamentos via PIX para a conta dos fraudadores. O sucesso da ação criminosa foi traduzido em um prejuízo financeiro estimado em cerca de R$ 250 mil, além do inestimável dano à relação de confiança entre a instituição e sua base de fãs.

A resposta ao crime exigiu uma articulação que espelha a dimensão digital da ameaça. A Polícia Civil do Rio Grande do Sul, em colaboração com o clube, deflagrou a Operação Manto, que cumpriu mandados de prisão e busca e apreensão em diversos estados do Sul do país (RS, SC e PR), evidenciando que a defesa digital de um clube deve transcender as fronteiras físicas.

A Operação Deepfake Geromel, portanto, não é apenas um relatório policial; é um ponto de inflexão na jornada de cyber do clube. Ela demonstra que a proteção atual deve mirar a defesa do ativo intangível, como a imagem dos atletas, e a educação constante do consumidor. Investimentos em monitoramento de marca, detecção de anúncios falsos e campanhas de conscientização sobre como identificar fraudes e deepfakes se tornam tão essenciais quanto a segurança do data center.

Em última análise, o episódio sublinha que a era da Inteligência Artificial representa tanto um risco para a segurança (através de deepfakes) quanto uma ferramenta crucial para a defesa (através de sistemas avançados de detecção de fraudes). A Operação Deepfake Geromel solidifica a lição de que a segurança digital de um clube não é um destino, mas um processo contínuo de vigilância e adaptação contra inimigos cada vez mais sofisticados, garantindo a integridade da marca no novo e complexo gramado digital.