O aparecimento de um novo elemento: a recessão econômica

Embora janeiro tenha sido um bom mês para o investidor brasileiro, ele ainda sofre com taxas de juros altíssimas

Imagem por Freepik
Imagem por Freepik

Um Trump mais comedido na imposição de tarifas reduziu o risco inflacionário nos Estados Unidos em janeiro. O efeito no Brasil foi a forte valorização de 11% das ações em dólar. Entretanto, a situação fiscal segue sem solução, o governo parece perdido nos seus posicionamentos e uma recessão econômica aparece no radar.

Resumo do Mercado:

A moeda americana apresentou recuo de 1,33 e fechou janeiro cotado a R$5,76. O Ibovespa foi o destaque com forte recuperação de 4,86% de alta e o CDI voltou a render 1% no mês.

Cenário Macro

A economia americana terminou 2024 com um crescimento robusto de 2,8%. O consumo das famílias é o propulsor deste crescimento e as projeções apontando atualmente para um crescimento do PIB americano em 2025 de 2,5%.

Apesar da inflação ser uma preocupação constante do Federal Reserve, o mercado de trabalho mostrou em janeiro a mesma força vista em todo ano anterior. Sem dúvida, Donald Trump assume um país que está pronto para seguir crescendo. Além disso, viu-se a confiança aumentar entre empresários e investidores com as políticas prometidas pelo presidente dos Estados Unidos empossado em janeiro.

Trump assumiu intensificando a deportação de ilegais, reforçando o compromisso no corte de impostos corporativos, incentivando a produção de energia e mantendo o foco no desenvolvimento da inteligência artificial.

Diante deste cenário, o FOMC decidiu manter as taxas de juros em 4,25%-4,50% e aguardará os próximos dados para afrouxar a política monetária.

Ásia e Europa

Enquanto o setor de serviços sustenta a economia da Zona do Euro, a produção industrial recuou 2% em 2024 evidenciando o tamanho do desafio enfrentado pela economia do continente.

A inflação parece caminhar para meta do BCE, mas os preços de energia são a grande preocupação. Mesmo após os cortes de juros realizados pelo Banco Central Europeu, o continente continua a enfrentar desafios e as eleições na Alemanha em fevereiro devem acrescentar volatilidade ao mercado da região.

O PIB na China mostrou alguma aceleração no último trimestre de 2024, mas a economia segue patinando quando se observa o consumo, porque nem o programa do governo com subsídio para veículos e eletrodomésticos que fora expandido fez com que o consumo das famílias acelerasse de forma consistente.

O cenário torna-se mais desafiador diante das novas tarifas dos Estados Unidos. O país norte-americano aumentou em 10% os impostos sobre todos artigos importados da China e em 25% sobre aço e alumínio.

Brasil

Depois de três meses extremamente difíceis para os investidores, janeiro trouxe algum alívio. Mas isso não quer dizer que as coisas melhoraram por aqui. As últimas comunicações e ações do governo foram atrapalhadas para dizer o mínimo. Por isso, temos visto os índices de aprovação do governo desabarem.

A inflação dos alimentos tem sido o assunto mais comentado pela população em geral que sente no bolso as consequências da perda do poder de compra causada pela expansão fiscal monstruosa dos últimos dois anos. Assim, a economia segue aquecida por causa do aumento de gastos do governo e força o Banco Central a subir os juros. As expectativas são que a taxa Selic atinja 15,25% e a inflação seja de 5,8% em 2025.

Com juros tão restritivos já se começa a observar uma desaceleração na atividade econômica. Por exemplo, a confiança do consumidor teve a maior queda bimestral desde a crise do governo Dilma, o tráfego de veículos pesados caiu 6,3% e volume de caixas de papelão ondulado recuaram 4,2%.

Além disso, os lucros das empresas devem ser negativamente impactados mesmo com o PIB do país crescendo em torno de 1,5%.

Conclusão e comentários

O início do mandato de Trump foi menos agressivo em relação as políticas tarifárias e trouxe alívio ao mercado global. Como consequência as taxas de juros americanas caíram e beneficiaram os países emergentes. Desta forma, o Brasil viu os investidores estrangeiros comprando R$4,1 bilhões em ações brasileiras e o real foi a moeda que mais se valorizou entre as principais economias, chegando a ser cotado abaixo de R$5,80.

Embora janeiro tenha sido um bom mês para o investidor brasileiro, ele ainda sofre com taxas de juros altíssimas e não vê solução a respeito da questão fiscal do país. Por isso, o risco Brasil segue alto e aumenta a cada fala de Lula.

Alguns economistas têm falado em recessão econômica já em 2025. Frente a este cenário duas hipóteses são possíveis: (i) a desaceleração ajuda a arrefecer a economia e os juros não precisam subir tanto quanto todos esperam e (ii) o governo tentando se reeleger expande mais o orçamento para tentar reaquecer a economia.

Enquanto o primeiro cenário seria de certa forma benéfico para o mercado financeiro, o segundo poderia ser desastroso para o futuro da economia do país porque seria mais do mesmo veneno e poderia aumentar o risco Brasil e desvalorizar o real. Portanto, seguimos reforçando a importância da diversificação da carteira de investimentos e da dolarização gradual do patrimônio.