OPINIÃO

Fuorisalone 2025, ou quando Milão respira design

O Fuorisalone 2025, que aconteceu de 7 a 13 de abril, transformou a cidade em um laboratório de ideias.

Fuorisalone 2025, ou quando Milão respira design Fuorisalone 2025, ou quando Milão respira design Fuorisalone 2025, ou quando Milão respira design Fuorisalone 2025, ou quando Milão respira design
Imagem por Cristina Mioranza
Imagem por Cristina Mioranza

Passei uns dias entre os paralelepípedos e os pátios neoclássicos de Milão, onde o design não é apenas uma disciplina, mas um ritual coletivo. O Fuorisalone 2025, que aconteceu de 7 a 13 de abril, transformou a cidade em um laboratório de ideias — e eu, como arquiteta, me senti dentro de um caleidoscópio de criatividade.

Milão se fragmenta em distritos que competem em originalidade. Em Brera, o coração do design, mais de 290 eventos ocupam galerias e até apartamentos históricos. Caminhei pela Via Palermo, onde o projeto Orizzonti explora a relação entre cores e materiais sob curadoria do estúdio Zanellato/Bortotto. Em Tortona, a tecnologia e a sustentabilidade se fundem em instalações imersivas, como o Portanuova Vertical Connection, na Piazza Gae Aulenti: uma estrutura interativa onde sensores e inteligência artificial permitem que os visitantes moldem luzes e sons. Não poderia faltar 5VIE, onde a exposição Armonie Invisibili me fez questionar como objetos cotidianos conectam pessoas e espaços. E no Isola Design Festival, o tema Design is Human colocou artesãos locais em diálogo com makers internacionais, provando que a escala humana ainda é a mais revolucionária.

Como venho percebendo há alguns anos, o Fuorisalone hoje rivaliza com o Salone del Mobile em relevância. Grandes marcas como Cassina e Moroso abandonaram os pavilhões da feira para ocupar palácios e lojas históricas. Também vem se mostrando tendência o fenômeno da instalação de marcas de moda francesas em Milão. A Louis Vuitton surpreendeu com Nomads, uma coleção de objetos nômades expostos em um antigo armazém industrial — uma ode ao deslocamento e à reinvenção. A Hermès ocupou um palácio do século XVII com tapetes que pareciam pinturas abstratas, enquanto a Prada resgatou um trem projetado por Gil Ponte nos anos 60, transformando-o em uma instalação na estação Milano Centrale. É fascinante ver como a moda se apropria do design para contar histórias.

O tema Mondi Connessi (Mundos Conectados) guiou esta edição, explorando a relação entre humanos, tecnologia e natureza. Na exposição Casa Cork, em parceria com a portuguesa Amorim, toquei em superfícies de cortiça e participei de workshops sobre materiais circulares — uma experiência que vai além do visual, convidando ao tato e à reflexão. No Durini Design District, empresas como Kartell e Artemide exibiram peças feitas com bioresinas e PET reciclado, enquanto Porta Venezia rompeu barreiras com instalações que questionam o próprio conceito de limite, como a No Boundaries Design, inspirada na arquiteta Eileen Gray.

O Fuorisalone Award, em sua quarta edição, premiou projetos que equilibram estética e ética. Votar na plataforma digital foi como participar de um júri global — um detalhe que mostra como o evento se tornou open source, integrando física e digitalmente milhares de visitantes.

No fim, o Fuorisalone não é apenas uma feira; é uma celebração da cidade como organismo vivo. Aqui, uma loja de roupas vira galeria, um trem vira museu, e as “bandeirinhas” nas ruas são sinais de que o design é, acima de tudo, uma experiência coletiva. A feira em si ainda tem seu valor, mas é nas ruas que o futuro se desenha.

Para acompanhar tudo sobre a última edição, sigam @fuorisalone no Instagram e explorem o guia interativo no site oficial (https://www.fuorisalone.it/en). Até o próximo ano, Milão!