A discussão sobre o ensino a distância anda ganhando contornos de drama moral. Sob o manto da “qualidade” , esconde-se um medo pouco nobre: o de que o diploma, antes símbolo de distinção, esteja se tornando… comum demais. Democratizar o ensino é perigoso; se todos tiverem acesso, quem vai sustentar o valor das bancas, das consultas e dos crachás reluzentes?
É evidente que há disciplinas que exigem prática – ninguém quer formar cirurgiões por tutorial no YouTube . Mas proibir o EAD em cadeiras teóricas como um todo é como banir os livros porque alguns não substituem o mundo real. O problema não é o ensino a distância — é a distância do ensino. O modelo híbrido, com presencial onde for essencial e online onde for possível, é o caminho óbvio . O resto é saudosismo do tempo em que diploma era senha de clube fechado.
Como qualquer inovação, o EAD deve ser aperfeiçoado e fiscalizado. Mas barrá-lo cobrará seu preço: cursos inviabilizados, mensalidades infladas, instituições sufocadas. E os mais afetados? Os de sempre — os alunos da periferia, eternos suspeitos de estarem “indo longe demais” . E o mais grave: o exemplo pega. Outras profissões, temendo a popularização do saber, logo buscarão também seus muros.
Mais irônico ainda é ver setores da política — aqueles mesmos que empunhavam bandeiras pela educação inclusiva — agora de braços dados com o elitismo de toga e jaleco – fazendo uma segregação em massa em nome da excelência. Se há contradição maior, nem a inteligência artificial ainda conseguiu decifrar.
Falando em IA: ela já chegou, não para substituir, mas para transformar. Aliada ao EAD, irá democratizar o conhecimento. Profissões terão de se reinventar. Inclusive o professor — que, longe de ser substituído, terá papel ainda mais vital: ensinar a filtrar, a pensar, a ser humano, pois algoritmos não entregam empatia.
Esse momento nos lembra Platão e Aristóteles. O EAD evoca a cidade ideal platônica — onde o saber vem da reflexão. O presencial, o mundo real aristotélico — onde o conhecimento nasce da experiência. Idealismo e empirismo. Ambos corretos. O erro é opô-los. A saída está na síntese: aprender com os pés no chão e olhos no horizonte.
No fim, a disputa não é sobre métodos, mas sobre monopólios. E o medo de perdê-los.