Noivo animado joga dinheiro no ar em celebração, com convidados sorrindo.
Imagem: Google Gemini

Eu já pedi mas não adianta, o mundo não para pra eu descer. E alguns habitantes insistem em decepcionar a cada volta que ele dá.

Apesar da impressão de que a gente vive em mundos diferentes, a verdade é que estamos presos em um só. Enquanto cerca de 733 milhões de pessoas sofrem de fome (mais ou menos 10% da população mundial), um único casamento de rico ostentação custou, numa estimativa por baixo feita pela revista Forbes, 110 milhões de reais.

Já teve casamento mais caro que isso, e alguns acabaram em divórcios, igualmente ou mais caros também.

Esclarecendo: Eu não sou contra ricos, nem contra casamentos, inclusive já casei três vezes. Meu avô, sete. Temos uma tradição familiar de casar e gostar de casamentos. O que me deixa chocada é um único casamento gastar mais do que o necessário para construir mais de 2.000 casas populares. Me espanta essa necessidade de ostentar enquanto o mundo sofre e sangra.

A falta de empatia nesses mega eventos de ostentação também é evidente, mesmo que alguém possa dizer que ela só está escondida pelas camadas de botox e cirurgias plásticas dos envolvidos e convidados, onde não faltaram as mar-a-lago faces (bocão, cílião, sobrancelhão, harmonização, peitos e bronzeado fake) e os figurinos tão caros quanto de gosto duvidoso e visivelmente desconfortáveis.

Parte da mídia especializada em moda e estilo americana não poupou ninguém, nem a noiva, que dizem ter comprado a capa da revista Vogue americana para aparecer vestida de noiva.

Na minha opinião, que ninguém pediu mas eu quero dar, ostentação e breguice andam bem abraçados. Não é o nosso brega divertido e espontâneo, de gente como a gente, e que faz a pessoa que veste ou se comporta de um jeito excêntrico ou colorido arrancar um sorriso de quem a vê e esbanjar alegria no ser.

O brega ostentação dos super ricos é de um extremo mau gosto estético e insensível com a fome, com a desigualdade e com o sofrimento da maioria da população mundial. Acho o egoísmo dessa bolha abominável. Não existe justificativa para esse desperdício extremo, especialmente quando pensamos na forma exploratória ou especulativa com que muitos super ricos fizeram suas fortunas.

E enquanto o atual casamento do terceiro homem mais rico do mundo esfrega na nossa cara a desigualdade, a ex-mulher dele, MacKenzie Scott, nos mostra que ainda existe esperança. Após o divórcio, ela já doou aproximadamente 20 bilhões de dólares para quase 2.500 organizações sem fins lucrativos em diferentes partes do mundo.

Sim, o mundo físico é um só, mas dá pra ver que várias galáxias separam o mundo de quem precisa lutar por um prato de comida de quem paga o preço de mais de 250 mil cestas básicas por uma festa de casamento.