Jeferson Dytz Marin e Pedro Dytz Marin (estudante da Escola Sagrado Coração de Jesus)
Isaac Asimov publicou e editou mais de 500 livros em sua carreira. Obras que tratavam de química, títulos que analisavam o tempo como fenômeno, mas, o que realça o nome dele na História são os textos que recriavam o gênero da ficção científica.
Asimov escreveu dezenas de romances, novelas e contos sobre o universo, robôs e, bem, sobre o futuro da humanidade. O homem tinha um fascínio pelas previsões de como o homem agiria quando não aguentasse mais o avanço da tecnologia, cimentada justamente por ele. Com a “Trilogia da Fundação”, Asimov gesta um dos grandes romances da Literatura e a maior ficção científica que já foi lida, se apegando muito mais à própria narrativa do que às personagens. Em 850 páginas, o russo naturalizado americano inventa uma área da ciência, aplica-a, a torna uma lenda, mostra seus defeitos, e a retoma novamente como uma ciência exata, uma certeza. E essa é a questão, não que isso tire a genialidade desse escritor, mas Isaac Asimov, ao menos quando escrevia, não parecia se importar tanto com as pessoas. Não queremos ser mal compreendidos. Ele criou personagens instigantes e emblemáticas, mas seus universos, esses, são monumentais. Ele tinha a capacidade de arquitetar mundos novos e usá-los tanto como plano de fundo como cenário fulcral. Quando lemos “Eu, Robô” ou contos como “Círculo Vicioso”, somos transportados à mente de Asimov e até as páginas serem devoradas por completo, a aventura é eufórica e, por vezes, inefável.
O ser humano de que falamos um pouco aqui, morreu no ano de 1992, bom, ele não morreu, não mesmo. Isaac Asimov é um nome recitado nos anais da Literatura e da bioquímica, profissão que ele também exercia. O homem é lembrado, senão por sua denominação original, por suas obras revolucionárias e extremamente ricas, tão ricas que é possível, quando estivermos manuseando um aparato digital, lembrarmos dos pensamentos e reflexões geniais do literato.
Mas há uma obra que, longe de ser a melhor, pode mudas a perspectiva de um avô, de um pai e de um filho. “O Homem Bicentenário” conta, brevemente, a vida de um robô que percorreu um caminho de sonhos e perseverança, almejando, com o passar do tempo, se tornar um ser humano.
No princípio, Andrew era um robô que ajudava uma família com tarefas domésticas, e, como todos os robôs, ele era programado a partir de três solícitas regras: 1) um robô não pode ferir um humano ou permitir que um humano sofra algum mal; 2) os robôs devem obedecer às ordens dos humanos, exceto nos casos em que tais ordens entrem em conflito com a primeira lei; 3) um robô deve proteger sua própria existência, desde que não entre em conflito com as leis anteriores.
As regras acima guiavam toda e cada ação dos robôs existentes em um dos vários universos utópicos de Asimov, e Andrew segue essas regras. Mas apesar de não ser uma falha, Andrew não é, também, outra coisa: um número. No decorrer da narrativa, ele passa a querer tocar verdadeiramente, degustar autenticamente, sentir genuinamente. E, eventualmente, chegamos ao final da novela, no qual o robô, projetado para atender humanos, resolver suas tribulações cotidianas de maneira protocolar, ser estruturalmente superior, mas possuir uma natureza nferior, vira um homem. Um homem. Um. Homem.
E isso faz, de fato, muito sentido. Não é questão de sentir ou cobiçar, no caso de Andrew, o que o faz lutar é que ele percebe que ser alguém é muito mais relevante do que ser algo.
Porém, a discussão não acaba por aí. E se as posições fossem invertidas, um homem desejasse ser máquina? É, sim, complicado de idealizar tal situação, mas não é impossível.
Quando o telefone foi difundido, ou ele era um luxo, ou um companheiro fiel que interligava companheiros fiéis. Quando a televisão foi disseminada como uma necessidade nas casas, famílias se sentavam à mesa de jantar sem desgrudar os olhos da tela. Quando os smartphones passaram a ser equivalentes a membros de seus usuários, bom, se tornaram membros de seus usuários.
Não queremos, de forma alguma, criticar o uso excessivo da tecnologia ou analisar como isso nos afeta. Contudo, gostaríamos de ressaltar como tratamos a tecnologia nos dias atuais.
Progressivamente, artigos tecnológicos passam por metamorfose atrás de metamorfose e, num futuro muito próximo, por exemplo, órgãos-máquina integrarão o corpo humano.
A tecnologia facilita o dia a dia, faz com que um ato que poderia tomar horas feito com apenas mãos humanas. No caso do spotify, leva melodia às casas. No caso do Instagram, com poucos cliques, permite que se produza um tipo de “vitrine” de nós mesmos.
O que queremos dizer, ansiamos dizer, é que máquinas SABEM mais, mais e mais, com a rajada veloz que é o tempo. E, se chegarmos a um ponto em que teremos máquinas ao nosso dispor e controle, que sabem mais, que são melhores, mais rápidas, mais avançadas, por que não nos tornarmos máquinas, quando chegarmos a tal estágio?
A resposta a essa pergunta não será encontrada aqui, mas, talvez, nas “telas” do artista Asimov, que pintava não só universos como ninguém, mas coloria diversos conceitos, como o da liberdade. Controle é uma arma poderosa, mas a liberdade, bem, ela é um artefato precioso.