
A justiça humana, limitada por sua própria condição terrena, não distingue a singularidade profunda daquele que pune. Ela mede o crime pelo crime, como se o ato fosse suficiente para revelar o ser. Aplica a pena de modo uniforme, cega às diferenças de maturidade espiritual, intelectual ou moral.
O culpado é alcançado pela mesma régua, independentemente de seu grau de adiantamento interior. A Justiça Divina, porém, opera em outra escala. Suas leis não se detêm no fato, mas na consciência que o produz.
A pena, é antes um processo de depuração do que um castigo, corresponde ao nível de evolução do espírito que a experimenta. A igualdade da falta não implica igualdade entre os indivíduos; dois seres que erram do mesmo modo podem estar separados por vastas distâncias no caminho das provas que trilhamos entre mundos e existências.
Um ainda caminha na névoa espessa dos primeiros passos da razão; outro já transpôs essa faixa inicial e possui a lucidez que dissolve a antiga perturbação.
Ao primeiro, as sombras ainda ensinam; ao segundo, já não são as trevas que castigam, mas a intensidade da iluminação.
Luz que desnuda, que perfura a sensibilidade do espírito e lhe devolve, viva e ardente, a responsabilidade por cada gesto, cada escolha, cada omissão.
Desarmonia e Transição
Porque o homem, mesmo quando age sob o impulso cego das paixões, pode carregar em si um grau de aprimoramento que o eleva acima da animalidade da ação. Há vezes em que suas potências intelectuais o distanciam da atmosfera densa da inferioridade, enquanto seu progresso moral permanece atrasado.
É justamente dessa desarmonia, esse descompasso entre a inteligência refinada e a ética ainda imatura, que nascem as grandes anomalias das épocas materialistas e de transição.
Nesses momentos históricos, surgem os primeiros sinais de angústia espiritual: um mal-estar íntimo, quase uma agonia silenciosa, que anuncia a futura separação dos elementos em conflito. É a desagregação da antiga dualidade — o intelecto caminhando sem o espírito, a razão avançando sem a bondade — que precisa dissolver-se para que surja a unidade maior do ser finalmente integrado, enfim evoluído.