
O novo relatório The State of Global Compensation 2025, elaborado pela multinacional de recursos humanos Deel, confirma uma tendência que já vinha sendo observada nas contratações internacionais: o Brasil lidera a América Latina em salários em tecnologia, com remuneração média anual de US$ 67 mil — o equivalente a R$ 358 mil por profissional.
Dados que posicionam o Brasil na dianteira regional
A pesquisa da Deel analisou mais de um milhão de contratos em 150 países, consolidando um panorama realista do mercado global. O resultado mostra que, entre os países latino-americanos, o Brasil apresenta o maior nível médio de remuneração para engenheiros de software, cientistas de dados e especialistas em infraestrutura digital.
Em conversão mensal, o valor médio de R$ 31,8 mil coloca o país à frente de México (US$ 48 mil/ano, ou R$ 273 mil) e Argentina (US$ 42 mil/ano, ou R$ 239 mil). Essa diferença reflete tanto a valorização técnica da mão de obra brasileira quanto o aumento da demanda por profissionais qualificados no ecossistema local de inovação.
A influência das contratações internacionais
Nos últimos anos, a abertura de vagas remotas para o exterior alterou a estrutura de salários em tecnologia no Brasil. Empresas de fora passaram a contratar diretamente talentos brasileiros, oferecendo pagamentos em dólar ou euro e ampliando o teto salarial para áreas como engenharia de software, segurança da informação e ciência de dados.
Esse movimento trouxe dois efeitos principais. O primeiro é o reajuste estrutural das faixas salariais nacionais, já que empresas locais precisaram se equiparar para reter profissionais. O segundo é a inserção do Brasil no mercado global de talentos, consolidando o país como hub de tecnologia na América Latina.
Desigualdade interna e concentração de renda
Apesar dos números expressivos, o relatório destaca uma heterogeneidade significativa dentro do território brasileiro. Os salários em tecnologia concentram-se principalmente nas capitais de São Paulo, Florianópolis, Recife e Belo Horizonte, regiões que abrigam polos de inovação e startups consolidadas.
Nas regiões Norte e Nordeste, a remuneração média pode ser até 40% inferior, em razão de menor densidade tecnológica e número limitado de empresas internacionais operando de forma direta. Essa disparidade demonstra que o avanço salarial ainda não é homogêneo e depende fortemente da integração com ecossistemas globais.
A força do ecossistema local
O crescimento dos investimentos em inovação — com destaque para fintechs, healthtechs e plataformas de inteligência artificial — impulsionou a valorização do trabalho técnico. De acordo com o relatório, cargos ligados a engenharia de dados, aprendizado de máquina e automação estão entre os que mais cresceram em demanda nos últimos 12 meses.
Essa evolução se reflete na ampliação das oportunidades para profissionais de diferentes formações, desde engenheiros e matemáticos até analistas de sistemas. O perfil mais requisitado hoje combina sólida base técnica com fluência em inglês e domínio de metodologias ágeis, características essenciais para trabalhar em times distribuídos globalmente.
Desafios e perspectivas
Manter o Brasil no topo do ranking de salários em tecnologia exigirá investimento contínuo em capacitação e políticas públicas que estimulem a formação de novos talentos. A carência de profissionais especializados ainda é apontada por empresas do setor como uma barreira para o crescimento sustentável.
Outro desafio será o câmbio. Parte da remuneração elevada está vinculada à valorização do dólar. Uma eventual mudança cambial pode afetar o poder de compra de quem recebe por contratos internacionais, mas não altera o posicionamento competitivo do país na América Latina.
Em perspectiva, o cenário é de consolidação. A força de trabalho brasileira em tecnologia é hoje uma das mais diversificadas do hemisfério sul, unindo custo competitivo, qualificação técnica e adaptação ao modelo remoto. Isso sustenta a expectativa de que o país continuará atraindo empresas e investimentos internacionais nos próximos ciclos econômicos.