Equipes da Embrapa e da Emater-RS atuam de forma integrada para propor ações de recuperação ambiental e prevenção de desastres naturais em regiões de encosta da Serra Gaúcha. Entre os dias 18 e 30 de maio, pesquisadores e técnicos realizaram levantamentos detalhados na bacia hidrográfica Veríssimo de Matos, em Bento Gonçalves (RS), com foco na viticultura, atividade predominante na região.
Desde 2024, a Embrapa organiza uma base de dados robusta para nortear intervenções sustentáveis ao longo dos próximos cinco anos. O trabalho foca na mitigação de riscos geológicos, hídricos e produtivos diante da crescente frequência de eventos climáticos extremos.
As equipes da Embrapa Uva e Vinho, Embrapa Soja, Embrapa Florestas e técnicos da Emater-RS coletaram informações biofísicas da bacia, que ocupa 2.120 hectares — cerca de 7,8% do território de Bento Gonçalves. Eles analisaram tipos de solo, vegetação fluvial e sistemas produtivos em áreas de alta declividade, comuns na viticultura regional. A partir dos dados, os pesquisadores buscam propor melhorias nos sistemas de manejo e práticas de conservação do solo e da água.
O pesquisador Gustavo Curcio, da Embrapa Florestas, explicou que a equipe analisou os efeitos dos grandes movimentos de massa que ocorreram após as chuvas extremas de abril e maio de 2024. Ele, ao lado dos colegas João Bosco, Annete Bonnet e Emiliano Santarosa, executou coletas em 258 pontos da bacia. Esses pontos cobrem amostragens de solo, perfis e vegetação fluvial. A densidade amostral alcançou 1 ponto a cada 8 hectares.
Mapeamento Aéreo e Análise de Fluxos de Massa
Júlio Franchini, da Embrapa Soja, liderou os mapeamentos aéreos com drones equipados com sensores ópticos. Ele e sua equipe produziram 6.934 imagens para gerar modelos digitais de elevação e ortofotos de alta resolução. O grupo analisará oito fluxos de massa com base nessas imagens, considerando métricas como largura, profundidade e volume de material deslocado. Franchini destacou que esses dados ajudarão a entender os processos hidrológicos e orientar medidas de prevenção e recuperação.
A Embrapa Uva e Vinho também examinou os sistemas produtivos locais. O pesquisador Joelsio Lazzaroto observou que a viticultura sustenta grande parte das famílias da região, com destaque para o cultivo das uvas Isabel e Bordô, destinadas à produção de sucos e vinhos de mesa. Ele identificou vinhedos em terrenos com inclinação superior a 30%, o que aumenta o risco de erosões e deslizamentos.
Lazzaroto apontou dificuldades que comprometem a sustentabilidade da viticultura local: produtores em idade avançada, escassez de sucessores nas propriedades e falta de mão de obra qualificada. Ele também alertou sobre a baixa disponibilidade de assistência técnica, diante da quantidade de estabelecimentos na região.
Estratégias para Resiliência Produtiva e Ambiental
A Embrapa e a Emater-RS pretendem usar essas informações para elaborar ações que aumentem a resiliência produtiva e ambiental da Serra Gaúcha. Os dados servirão de base para políticas públicas, crédito rural e estratégias de ordenamento territorial voltadas à realidade das encostas.
Os pesquisadores defendem a integração entre conservação ambiental, segurança produtiva e planejamento hídrico. Eles planejam intervenções que beneficiem não apenas as áreas analisadas, mas também regiões situadas a montante e jusante, com foco na redução de riscos e fortalecimento da agricultura familiar.