A dona-de-casa de 54 anos, moradora de um conjugado quarto e sala no porão da casa de uma parente que por ora não lhe cobra aluguel em um bairro popular de Bento Gonçalves, está desempregada desde o final de 2021. Antes disso, ela trabalhava na informalidade como auxiliar de serviços gerais em uma pequena fábrica de esquadrias. Era diarista, e foi dispensada por conta da crise econômica – foi o que, segundo ela, ouviu do patrão. A mulher, que preferiu não ser identificada pela reportagem, tem dois filhos em idade escolar para criar.
Hoje, ela conta com alguma ajuda de parentes e amigos e, desde o ano passado, recebe auxílios como o bolsa família, por ter se cadastrado no Cadastro Único (CadÚnico).
Ela é uma das responsáveis pelas 8.839 novas famílias cadastradas no ano passado na cidade, um crescimento de 33% em relação aos 6.633 cadastrados de 2021. O número acende um alerta para o crescimento da pobreza e da desigualdade social em Bento Gonçalves. Nos últimos dois anos, o número de novos cadastros cresceu mais de 50%.
A cidade, conhecida por sua qualidade de vida e um forte e diversificado setor produtivo, vê crescer a extrema pobreza, considerada quando a renda per capita da família é de até R$ 105 ao mês. No final de 2022, 3.140 famílias estavam nesta condição no município, das quais 1.546 foram inscritas no ano passado, um crescimento de 22,2% em relação a 2021.
Para a dona-de-casa sem ocupação e outras milhares de famílias, o CadÚnico é uma tábua de salvação. Por conta do cadastro, elas têm a possibilidade de acesso aos programas sociais vinculados ao Cadastro, dependendo do seu perfil de renda, seguindo os critérios da legislação de cada programa ou benefício. “Hoje, é o auxílio que recebo do governo que garante o sustento da minha família”, acredita a dona-de-casa.
No total, Bento Gonçalves conta atualmente com 21.527 famílias cadastradas no CadÚnico, um número 28,7% maior que o registrado no final de 2021. Deste número, 5.367 famílias se encontram abaixo da linha da pobreza, e 3.104 são consideradas em extrema pobreza.
Coordenadora do CadÚnico no município, Adriana Lazzarotto explica que a legislação vigente permita o cadastro de famílias com renda mensal de até meio salário mínimo por pessoa. “Além disso, podem ser incluídas aquelas que recebem o total de até três salários mínimos por mês, ou que tenham renda maior que essa, desde que o cadastramento esteja vinculado à inclusão em programas sociais nas três esferas do governo”, explica.
A coordenadora afirma que a política de Assistência Social do município pretende garantir os direitos fundamentais básicos da população. Por isso, todas as ações que compõem o plano municipal têm como pano de fundo esse objetivo.