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Condução econômica brasileira se aprofunda na estrutura vigente há mais de vinte anos

As mudanças são necessárias para que o país se livre de algumas amarras do passado e consiga crescer

Condução econômica brasileira se aprofunda na estrutura vigente há mais de vinte anos

Até a década de 1990, o Brasil parecia viver em tempos ainda analógicos. Nossa economia permitia apenas a entrada de algumas seletas empresas estrangeiras, e uma vez que a produção tecnológica nacional era insuficiente para apetecer nossas demandas, o país viu-se atrasado por alguns anos na escala mundial.

A abertura das nossas fronteiras mudou o jogo de forma completa. A internet entrou em nossas casas e permitiu o acesso a formas de entretenimento diversas, com plataformas de jogos e cassinos online, além de portais oferecendo a leitura de artigos de jornal. Nas ruas, os automóveis deixavam de ter designs literalmente quadrados e davam espaço para novas formas de estilo, conforto e segurança.

Com isso, o vão tecnológico entre o Brasil e boa parte do mundo industrializado foi reduzido — e as demandas da população aumentaram. Uma vez que podíamos nos conectar em tempo real com o resto do mundo a qualquer momento do dia, também víamos os produtos que chegavam nas lojas dos grandes centros econômicos lá fora a custos bem mais acessíveis e a qualidade dos serviços públicos que eram prestados. Era assim também que começava um grande debate na condução econômica do Brasil.

Reformas necessárias para a dinamização econômica

A receita inicial dada pelos economistas estrangeiros para as mazelas da economia brasileira era a falta de dinamização dos nossos setores. Por conta de um setor público inchado, que começou nos primeiros anos de República, no fim do século XIX, o Brasil encontrava muitas travas para o seu desenvolvimento.

Esse desenvolvimento só viria por meio de reformas que permitissem maior participação da iniciativa privada na economia, dando aos empresários os elementos necessários para que os seus negócios não só dessem lucro, mas também fossem protegidos de potenciais reviravoltas políticas e jurídicas. Isso incluiria também um viés de política econômica muito mais voltado à estabilização da moeda, por meio de uma reforma que daria fim aos ciclos de inflação que comiam o poder de compra da população e reduziam os lucros do empresariado.

No meio disso estavam as privatizações, que reduziriam a presença do estado na economia. As maneiras de executar tal programa eram diversas, desde permitir e priorizar a compra de ações das empresas nacionais pela população nativa – como fez Margareth Thatcher na Inglaterra durante a década de 1980 – até liberalizar ao máximo o processo, de forma que qualquer indivíduo ou grupo que fizesse a melhor proposta ao governo ganhasse a corrida. Escolhemos o segundo.

Fazendo ajustes no processo

Um elemento vital de todo esse processo, além de ter instituições fortes, é o arcabouço regulamentar que vai de leis a agências para impedir que exageros sejam cometidos. No caso do Brasil, o nosso bom conjunto de leis acabou sofrendo com a leniência de reguladores que, por conta de sua permissibilidade, ajudaram a criar problemas como os episódios de crise energética em 2001 e 2002.

Fonte: Pixaby

Isso acabou por abrir espaços para que algumas das reformas fossem repensadas. Reversões dificilmente ocorreriam por conta de fatores como as consequências políticas e econômicas às quais uma quebra procedural poderia levar. Logo, o que foi levado adiante, a partir da década de 2000, não foi uma saída total ao modelo que vigorava desde os anos anteriores, e sim um reajuste dentro do que aquela estrutura permitia.

Nisso se incluía a questão da inserção do Brasil nas cadeias produtivas internacionais. Uma vez que uma disputa páreo a páreo com a China, hoje a segunda maior economia do mundo, pelo posto de parque industrial mundial seria difícil de ser levada adiante, o país escolheu se posicionar como produtor de matéria-prima que impulsionaria tal processo industrial no país asiático e nos seus vizinhos. Os efeitos disso, positivos e negativos, são sentidos até hoje.

Os efeitos e a terceira resposta aos nossos problemas

No âmbito mais positivo desse período, se encontram a elevação do Brasil no patamar internacional. O país viu sua desigualdade de renda cair em 8% de 2005 a 2015, enquanto sua classe média saiu de 38%, em 2002, para 53% da população, em 2012 – integrando assim mais de 100 milhões de cidadãos.

Porém, o lado negativo foi a escolha governamental em passar boa parte dessas benesses por meio de políticas de crédito e endividamento tanto público quanto privado, escolhendo um foco no curto prazo e assim negligenciando questões estruturais e de longo prazo. Os serviços públicos que haviam tido pequena melhora nos anos 2000 já se encontram no caminho inverso. E a insatisfação também chegou a uma classe média que se encontrava cada vez mais comprimida pela dupla impostação, tanto de renda quanto de consumo, enquanto as classes mais abastadas pagavam pouco ou quase nada de tributos ao governo.

É nesse contexto que veríamos o nascimento de uma nova via econômica. Entretanto, o que se vê é um aprofundamento do teorema aplicado no Brasil desde a década de 1990, num processo semelhante ao que o Chile viu a partir do ano de 1973. Não à toa, o condutor dessa política é discípulo da universidade que liderou os esforços chilenos de se tornar a “melhor” economia da América Latina, ainda que com grandes ressalvas – como os protestos por lá têm mostrado.

A teoria econômica que tem conduzido o governo atual vem sendo questionada dentro do mundo acadêmico da Economia muito antes da crise de 2008, mas o Brasil talvez ainda não tenha recebido o recado – como era o caso, antes da década de 1990. Vejamos o que os próximos anos irão reservar ao país nesses termos.