Ferrari Daytona SP3 - Foto - RM Sothebys (2)
Foto - RM Sothebys

O universo dos supercarros sempre desperta fascínio, mas quando o assunto envolve uma Ferrari rara, a conversa muda de patamar. A recente venda de uma Ferrari Daytona SP3 por impressionantes R$ 14,1 milhões em um leilão nos Estados Unidos levantou uma questão inevitável: o que faz com que um carro alcance cifras tão extraordinárias?

No caso desse exemplar, o segredo está em uma combinação quase imbatível: exclusividade histórica, personalização única pelo programa Tailor Made, status de peça de coleção e ainda um viés beneficente que mexeu com o coração dos compradores. Mais do que um automóvel, essa Ferrari representa um capítulo simbólico na própria história da marca.

Ferrari Daytona SP3: exclusividade que dita o preço

A Ferrari Daytona SP3 faz parte da série Icona, lançada para prestar tributo a protótipos lendários da década de 1960, como a 330 P4. Com apenas 599 unidades previstas de fábrica, cada exemplar já nasceu destinado a colecionadores de elite. Mas a unidade vendida nos Estados Unidos era ainda mais rara: trata-se do chassi “599+1”, um carro adicional além da tiragem oficial, oferecido como peça única.

Esse detalhe por si só já seria suficiente para justificar a corrida entre os colecionadores. Mas o leilão também revelou que o carro recebeu a etiqueta de “Tailor Made”, o que significa que foi personalizado até o último detalhe pelos artesãos da Ferrari em Maranello.

Design inspirado no passado, mas voltado ao futuro

Visualmente, a Daytona SP3 é um espetáculo. A carroceria em fibra de carbono exposta ganhou detalhes em Giallo Modena (o clássico amarelo da Ferrari) e, pela primeira vez na história da marca, traz o nome “Ferrari” em logotipo integral estampado de ponta a ponta na lateral do carro — um detalhe ousado e inédito para um modelo de rua.

As rodas forjadas de 20” na dianteira e 21” na traseira, também em acabamento especial, reforçam a exclusividade. A inspiração vem do passado glorioso das pistas, mas traduzida com ousadia futurista. Ao vivo, é impossível não associar o carro a uma escultura em movimento.

Motor V12 aspirado: tradição que resiste

Debaixo do capô pulsa um V12 aspirado de 6,5 litros, com 840 cv, capaz de levar o carro de 0 a 100 km/h em apenas 2,85 segundos. Em tempos de eletrificação e downsizing, essa escolha soa quase como uma despedida romântica da era dos grandes motores a combustão.

Especialistas acreditam que a SP3 pode ser lembrada no futuro como o último grande V12 central-motor da Ferrari, o que aumenta ainda mais sua relevância histórica.

Interior sustentável e luxuoso

Se por fora o carro chama atenção pelo design ousado, por dentro ele surpreende pela inovação. Essa unidade recebeu estofamento feito em Q-Cycle, um tecido desenvolvido a partir de pneus reciclados, numa tentativa de unir sustentabilidade e luxo.

O cockpit ainda conta com fibra de carbono derivada da Fórmula 1, volante em Alcântara com paddle shifts de competição e cintos coloridos com o icônico cavallino costurado nos encostos de cabeça. Até mesmo uma placa personalizada “599+1” foi instalada, reforçando que se trata de um exemplar que foge à regra.

Como complemento, o comprador levou uma Maranello Clutch, bolsa exclusiva desenvolvida pela Ferrari com os mesmos materiais do carro, além de kit de ferramentas, capa e manuais originais.

O leilão e seu simbolismo

O leilão ocorreu durante a Monterey Car Week, na Califórnia, e atingiu cerca de US$ 26 milhões, valor recorde para um carro zero km em leilão. Outro detalhe incomum: a RM Sotheby’s dispensou a buyer’s premium, taxa adicional que normalmente encarece ainda mais a compra.

Após a venda, a Daytona SP3 foi exibida no prestigiado evento Casa Ferrari em Pebble Beach, reforçando seu caráter de peça icônica e midiática.

Ferrari Daytona SP3 - Foto - RM Sothebys (2)
Foto – RM Sothebys

Mercado de colecionadores: investimento com alma

Supercarros da Ferrari, especialmente em edições limitadas, não são apenas veículos: são ativos financeiros. Um exemplar como esse une tudo que os investidores procuram — escassez, apelo emocional, herança histórica e atenção da mídia. Não por acaso, em comunidades de entusiastas como o Reddit, a reação foi unânime: “26 milhões é um resultado absolutamente insano, caridade ou não”.

E aqui entra outro aspecto crucial: todo o valor arrecadado foi destinado à Ferrari Foundation, que apoia projetos educacionais e recentemente ajudou na reconstrução de uma escola devastada por incêndios na Califórnia. Isso deu ao leilão não apenas caráter histórico, mas também social.

O que essa venda representa para o futuro

Mais do que a cifra astronômica, a venda da Ferrari Daytona SP3 “599+1” é um marco cultural. Representa o auge do colecionismo automotivo em um momento de transição da indústria para motores híbridos e elétricos.

Para alguns, trata-se de um investimento. Para outros, de um símbolo do passado glorioso dos motores V12. Mas em qualquer leitura, essa Ferrari não é apenas um carro: é uma obra de arte que une exclusividade, inovação, tradição e emoção em cada detalhe.