Uma aliança rebelde síria, liderada pelo grupo islamista radical Hayat Tahrir al Sham (HTS), anunciou neste domingo (8) ter tomado controle da capital do país, Damasco, junto da queda do regime de Bashar al-Assad, que governou o país durante 24 anos. O ditador, que teve o governo marcado por repressão e violência, teria fugido para Moscou, na Rússia.
A Síria mergulhou em uma guerra civil em 2011, quando o regime de Bashar al-Assad respondeu com brutalidade aos protestos populares inspirados na Primavera Árabe. Desde então, o país vive um conflito incessante que já causou a morte de mais de 500 mil pessoas.
Depois de 50 anos de opressão sob o governo do partido Baath e 13 anos de crimes, tirania e deslocamento, anunciamos hoje o fim da era obscura e o início de uma nova era para a Síria — afirmou o HTS.
A queda do regime de Assad provocou manifestações em Damasco. Cidadãos celebraram nas ruas, vandalizando símbolos do antigo regime, como a estátua de Hafez al-Assad, pai de Bashar.
Em pronunciamento oficial transmitido pela televisão estatal, os rebeldes declararam a queda do regime e a “libertação” da capital Damasco. A nova liderança anunciou a soltura de todos os prisioneiros políticos. Através das redes sociais, os rebeldes divulgaram informações sobre a “fuga” do autocrata.
Assad saiu da Síria pelo Aeroporto Internacional de Damasco antes que os membros das Forças Armadas e de segurança abandonassem o local – disse à AFP Rami Abdel Rahman, diretor do Observatório Sírio para Direitos Humanos (OSDH), uma ONG com sede no Reino Unido
Afim de estabelecer ordem e estabilidade, o líder do HTS, Abu Mohammad al Jolani, instruiu seus combatentes a manterem distância das instituições públicas e respeitarem a autoridade do primeiro-ministro até que um novo governo seja oficialmente instalado.
Em um vídeo publicado nas redes sociais, o primeiro-ministro sírio, Mohamed al-Jalali, afirmou que está disposto a cooperar com qualquer nova “liderança” eleita pelo povo.
Itamaraty orienta brasileiros a deixar a Síria
O Ministério das Relações Exteriores do Brasil emitiu nota, na tarde de sábado (7), informando que acompanha a escalada de violência na Síria, e orientando os brasileiros que moram no país a procurar a Embaixada brasileira em Damasco.
“O Itamaraty insta a todos nacionais que se encontrem no país a que busquem sair da Síria“.
O Itamaraty disponibilizou um telefone de emergência e recomendou que os brasileiros consultem o portal consular, com alertas e atualizações sobre a situação no país do Oriente Médio.
Confira a nota completa:
“O governo brasileiro acompanha, com preocupação, a escalada de hostilidades na Síria. Exorta todas as partes envolvidas a exercerem máxima contenção e a assegurarem a integridade da população e da infraestrutura civis.
O Brasil reitera a necessidade de pleno respeito ao direito internacional, inclusive ao direito internacional humanitário, bem como à unidade territorial síria e às resoluções pertinentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas.
O Brasil apoia os esforços para solução política e negociada do conflito na Síria, que respeitem a soberania e a integridade territorial do país.
O Itamaraty, por meio da Embaixada em Damasco, permanece monitorando a situação dos brasileiros na Síria. Não há registro de nacionais entre as vítimas das hostilidades. O Itamaraty insta a todos nacionais que se encontrem no país a que busquem sair da Síria. Recomenda-se também que os brasileiros consultem o alerta, atualizado, disponível no portal consular.
Em caso de emergência, o telefone de plantão da Embaixada em Damasco é: +963 933 213 438. O plantão consular do Itamaraty também permanece disponível no número +55 61 98260-0610 (inclusive WhatsApp).“
Repercussão no cenário internacional
Alguns líderes e personalidades políticas de diversos países já se pronunciaram sobre a guerra. Veja o que eles falaram.
Donald Trump, presidente eleito dos EUA:
“A Síria é uma bagunça, mas não é nossa amiga, e OS ESTADOS UNIDOS NÃO DEVEM TER NADA A VER COM ISSO. ESTA NÃO É NOSSA LUTA. DEIXEM QUE ACONTEÇA. NÃO SE ENVOLVAM!”, disse Trump em uma publicação em sua plataforma de mídia social Truth Social.
Ministério das Relações Exteriores do Irã:
“o destino da Síria é de responsabilidade exclusiva do povo sírio e deve ser perseguido sem imposição ou intervenção estrangeira”.
O Irã gastou bilhões de dólares apoiando Assad durante a guerra civil síria que eclodiu em 2011 e enviou sua Guarda Revolucionária para a Síria para manter seu aliado no poder, de modo a manter o “Eixo de Resistência” de Teerã à influência de Israel e dos EUA no Oriente Médio.
Os laços de Teerã com Damasco permitiram que o Irã espalhasse sua influência por um corredor terrestre de sua fronteira ocidental, passando pelo Iraque, até o Líbano, para levar suprimentos ao Hezbollah.
Sergey Lavrov, ministro das relações exteriores da Rússia:
“É inadmissível permitir que o grupo terrorista tome o controle das terras em violação aos acordos”, disse Lavrov durante um fórum político em Doha.
“(…) Ajudamos o exército sírio a combater os ataques dos terroristas. Pedimos o fim imediato das atividades hostis (…) e, para esse fim, pedimos diálogo entre o governo e a oposição legítima”, disse ele.
Lavrov não especificou quais forças de oposição a Rússia considerava legítimas, mas deixou claro que considerava o HTS um grupo terrorista.
Tayyip Erdogan, presidente da Turquia:
“Agora há uma nova realidade na Síria, política e diplomaticamente. E a Síria pertence aos sírios com todos os seus elementos étnicos, sectários e religiosos”
“O povo da Síria é quem decidirá o futuro de seu próprio país. Como Turquia, nosso desejo é que nossa vizinha Síria recupere rapidamente a paz, a estabilidade e a tranquilidade que tanto anseia há 13 anos”, completou Erdogan.
Há anos, Ancara tem apoiado as forças de oposição sírias que buscam destituir Assad, apoiado pelo Irã e pela Rússia.
Tobias Lindner, ministro de estado do Ministério das Relações Exteriores da Alemanha:
“Pedimos a todas as partes que diminuam a tensão e as lembrem de sua obrigação de proteger os civis. Não deve haver escalada estrangeira. Os ataques aéreos russos a alvos civis são particularmente preocupantes. O que precisamos agora é de um processo político, uma solução no quadro da ONU da resolução 2254.”
Hamish Falconer, ministro da Grã-Bretanha para o Oriente Médio e norte da África:
“Continuo muito preocupado com o potencial de grandes ataques em larga escala pelo regime ou pela Rússia. Qualquer sugestão do uso de armas químicas seria intolerável.”
Chefe do Estado-Maior Geral de Israel, Herzi Halevi:
“Desde ontem à noite, estamos em combate em quatro frentes. As tropas terrestres estão empenhadas no combate em quatro frentes: contra o terrorismo na Judéia e Samaria, em Gaza, no Líbano e, ontem à noite, enviamos tropas para o território sírio. Temos excelentes tropas terrestres trabalhando juntas, infantaria, blindados, engenharia e artilharia, e elas estão cooperando com outros ramos das FDI: aéreo, marítimo e de inteligência”, declarou Halevi. “Em apenas um momento, essa responsabilidade se tornará sua. Vocês estão prestes a vestir seus uniformes e assumir o bastão com tremenda responsabilidade.”
O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu já havia anunciado o envio de tropas para uma zona desmilitarizada nas Colinas de Golã, localizada no território sírio e parcialmente ocupada por Israel desde a década de 1960. De acordo com o premiê, a medida visa garantir a segurança de israelenses que vivem na região.