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Para especialista, sequência do SIM Caxias é um dos desafios do próximo prefeito

Para especialista, sequência do SIM Caxias é um dos desafios do próximo prefeito

Conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população de Caxias do Sul teve um aumento de 250 mil pessoas nos últimos 25 anos. Em 2015, o censo do IBGE apontou que a cidade tinha 474.853 habitantes, se credenciando como a segunda maior cidade do Rio Grande do Sul. Junto com o avanço populacional, Caxias começa a enfrentar problemas comuns às grandes metrópoles. A mobilidade urbana, nesse cenário, surge como um dos principais desafios a serem enfrentados pelo próximo prefeito da cidade.

 

Para o professor de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Caxias do Sul, Pedro Inda, um dos principais desafios do próximo prefeito será dar continuidade ao Sistema Integrado de Mobilidade – SIM CAXIAS, que vem sendo implantado na cidade de forma gradual desde o dia 16 de abril deste ano. “Acho que o maior desafio da próxima gestão é dar continuidade ao processo de implantação do SIM Caxias e dos processos auxiliares para que ele venha funcionar na mobilidade da cidade”, defende o especialista.

 

Na primeira etapa de implantação do SIM Caxias, o programa contemplou 17 linhas, que mudaram a rotina de cerca de 45 mil usuários do transporte coletivo da cidade. A principal mudança foi a implantação de uma Linha Troncal, com o objetivo de realizar o transporte coletivo na área central da cidade. A primeira etapa do programa também contempla a inauguração de duas Estações Principais de Integração, denominadas Imigrante e Floresta. O investimento do município na primeira fase de implantação foi de R$ 8 milhões, somados aos R$ 37 milhões liberados pelo Governo Federal.

 

Para o professor da UCS, Pedro Inda, é natural que durante a implantação de um projeto de mobilidade do tamanho do SIM Caxias haja diversas críticas e opiniões controversas. “Todo processo que envolve planejamento urbano é contestado, vai haver discordância e ele sempre precisa ser aperfeiçoado. Isso é sempre um desafio: continuar o processo, apesar de todas essas questões”, pontua. 

 

Conforme Inda, no entanto, é fundamental que a próxima administração municipal dê continuidade ao processo, debatendo as necessidades com a população. “Quando troca a política, a próxima gestão pode optar por outros caminhos e aí se perde a construção de trabalho que já vem sendo feita ao longo de diversos anos. Independente do próximo gestor, o desafio é continuar investindo, implantando e tentando construir um sistema de mobilidade melhor para a cidade”, defende. “Nós temos uma tradição no país de não completar as obras. Quando as obras não são completadas, a estrutura fica pela metade, aí nós precisamos entrar com nosso jeitinho brasileiro e as coisas não funcionam direito. Até funcionam, mas não funcionam como deveriam”, destaca o professor da UCS.

 

Nos primeiros meses, apesar de algumas dúvidas da população em relação ao funcionamento, o sistema agradou boa parte dos caxienses. Agora, quatro meses após a implantação, lacunas começam a aparecer. Usuários têm relatado que o tempo de espera dos ônibus nas EPI’s aumentou nos últimos dias, assim como o tempo total para realizar alguns trajetos do bairro para o centro e vice-versa.

 

Próximos passos

 

O Sistema Integrado de Mobilidade – SIM Caxias ainda prevê uma série de obras para funcionar em sua totalidade. Até o momento, o sistema liga apenas os eixos leste e oeste de Caxias. A próxima fase contempla as obras das estações de transbordo que ligarão os eixos norte e sul da cidade. Para o professor Pedro Inda, é somente após a conclusão destas obras que a população vai começar a sentir realmente os efeitos do novo sistema. “O sistema agora está atuando apenas em duas EPI’s. Quando ele começar a atuar em todas as EPI’s aí a gente pode começar a sentir essa melhoria que o sistema vai trazer, posso ir para o meu trabalho e passar em algum lugar, em um curso que faço, fazer outras atividades do dia a dia para depois retornar para casa e isso não está contemplado no primeiro momento”, argumenta Inda.

 

Faixa azul

 

Outro ponto delicado na implantação do SIM Caxias é a utilização dos carros nas ruas Sinimbu e Pinheiro Machado. Com mais carros que motoristas, Caxias tem uma taxa de motorização de 1,59. Até o final do mês de maio, 295.225 veículos estavam cadastrados na cidade e 236.595 moradores de Caxias estavam habilitados para dirigir. Com a implantação do novo sistema de mobilidade, a faixa azul passou a ser exclusiva para ônibus em um primeiro momento. Com as constantes reclamações, a Secretaria de Trânsito optou por flexibilizar o uso da faixa, que agora só é exclusiva para os ônibus das 6h30min às 8h30min e das 17h às 19h30min. Para o professor da UCS, apesar da insatisfação de boa parte da população com algumas mudanças, é necessário que o poder público prossiga com as mudanças. “Esse é o momento em que a gestão pública precisa fazer o esforço de ser antipática para que no futuro as coisas possam melhorar”, defende o professor. “Como qualquer projeto urbano, o SIM Caxias tem coisas muito positivas e coisas que estão sendo questionadas e que vão precisar ser aperfeiçoadas”, destaca Inda.

 

Caxias com ciclovia

 

Para o professor da UCS e especialista em mobilidade, Pedro Inda, outro ponto que a próxima administração de Caxias deve observar é a questão de integrar outros modais no transporte do dia a dia. “Se a gente observar, desde 2005 e 2006 existem estudos de ciclovia para a cidade. As cidades que hoje têm os melhores sistemas de mobilidade usam muitos modais, muitos sistemas de transporte, porque cada um pode dar um resultado melhor para aquilo que precisa”, defende Inda.

 

O professor também rebate alguns tabus criados para justificar a não utilização da bicicleta na cidade. Para ele, o clima frio, o relevo e as longas distâncias não são desculpas para que Caxias siga negligenciando os ciclistas. “Normalmente uma pessoa não usa a bicicleta para atravessar a cidade. Elas usam quando moram relativamente próximas ao trabalho, mas longe demais para ir a pé. Se a gente observar, existem inúmeros trechos em Caxias que podem ter ciclovias”, garante o professor. “Podemos ter ciclovias que façam junções dos bairros até as EPI’s, por exemplo, aí você pega a bicicleta e vai até a EPI e ali pega o transporte principal para atravessar a cidade se necessitar”, exemplifica.