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As duas eleições de Bento

As  duas eleições de Bento

A vitória esmagadora de Guilherme Pasin na disputa pela reeleição em Bento Gonçalves no domingo eleitoral ainda surpreende os correligionários, intriga os adversários e enche de suspeitas as cabeças daqueles que dão um doce por uma boa teoria da conspiração.

 

E tudo isso vale mesmo, porque nem mesmo os vastos parreirais que bordam a querida capital do vinho poderiam mensurar uma consagração com mais de 65% dos votos válidos e uma diferença de mais de 30 mil votos sobre o segundo colocado, que justificou até a presença de um redivivo Darcy Pozza na festa da vitória.

 

Mas, aos poucos, o vinho que jorra, jorra borbulhante em cascatas reais vai trazendo algumas percepções mais claras. E, se é verdade que entre um gole e outro é a verdade que vem a tona, essa verdade mostra que Bento enfrentou duas eleições no domingo da democracia.

 

E, em uma delas, Pasin correu sozinho.

 

Porque numa eleição com menos tempo, menos exposição de material e mais no corpo a corpo e no convencimento direto, ser muito mais conhecido que os adversários e contar com um mandato como referência faz uma grande diferença.

 

E, no caso específico das eleições em Bento, isso ainda foi mais relevante.

 

Porque só Pasin tinha estatura de candidato viável, só ele era conhecido por todos, só ele podia se jactar de obras e realizações, só ele podia comparar erros e acertos, perdas e ganhos. Só ele podia dizer que conhecia profundamente a máquina pública.

 

Mal ou bem, por sorte ou destino, e entre erros muitos e acertos vários, Pasin pode dizer sim que inaugurou a upa, que fez o postão 24 horas, que concluiu sete unidades básicas, que instituiu a escola de tempo integral e que fez asfaltos importantes para a cidade, entre outras realizações que, se foram legadas pelo seu antecessor em projetos e verbas federais conquistadas, foram levadas a termo em seu governo. È dele o nome na placa.

 

Nesse contexto, os desafiantes disputavam uma eleição à parte, em que a vitória era exatamente mostrar viabilidade para uma eleição futura. Tanto César Gabardo quanto Evandro Speranza saíram do zero para alcançar milhares de eleitores em míseros 45 dias. Não eram conhecidos, não tinham o que mostrar a não ser sua boa vontade, o seu caráter e suas propostas de papel, e ainda emergiram de disputas internas que enfraqueceram seus partidos. Quanto a Neilene Lunelli, foi uma candidatura de improviso, que não teve tempo de se preparar e que sofreu também por isso, pela ausência de liderança reconhecida e pelo desgaste do PT.

 

Agora é bem mais fácil dizer isso, mas venceu as eleições o único candidato que podia vencer. Mas o que o tamanho da vitória mostra fundamentalmente é que não havia um adversário viável.

 

O problema é que uma vitória desse tamanho tem o poder de esconder os erros e a necessidade de uma revisão de rumos. É certo que a população avalizou o projeto de Pasin, mas dizer que ela afirmou que tudo está no caminho certo é uma ilusão que nasce da mesma ilusão que fez a gente acreditar um dia que havia quatro candidatos disputando a mesma eleição.