
A presença italiana na Serra Gaúcha moldou profundamente a paisagem agrícola da região. Os primeiros imigrantes trouxeram técnicas de cultivo, organização comunitária e uma relação muito própria com a terra, especialmente na vitivinicultura e na fruticultura. Com poucos recursos, mas muita persistência, transformaram encostas desafiadoras em áreas produtivas, estruturando colônias que se tornaram referência econômica e cultural.
Esse legado permanece vivo não apenas nas práticas agrícolas, mas também nos valores que sustentam o trabalho no campo: disciplina, dedicação e forte ligação familiar. Das antigas cantinas às vinícolas modernas, o cuidado com a qualidade sempre foi marca registrada das famílias descendentes de imigrantes. O resultado aparece nos produtos valorizados dentro e fora do país, reforçando a identidade da Serra como território de excelência rural.
Hoje, o agricultor segue esse caminho, mas com novos desafios. As mudanças climáticas, a exigência crescente dos consumidores e a necessidade de aumentar a produtividade pressionam o setor a evoluir constantemente. Como explica o professor Gustavo Brunetto, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), os encontros técnicos e a pesquisa atualizada são essenciais para orientar novas práticas de manejo e responder às transformações ambientais e produtivas registradas nos últimos anos.

Brunetto defende que a tradição só se sustenta quando caminha junto com tecnologia acessível. Segundo ele, “a pesquisa precisa fornecer tecnologias que aumentem a produção e melhorem a qualidade da uva e do vinho, mas que sejam viáveis economicamente para o produtor”, reforçando que o uso do conhecimento só acontece quando gera resultado direto na propriedade. De acordo com o professor, dessa integração dependem o fortalecimento econômico das famílias e o desenvolvimento dos municípios da região.
O professor também destaca a urgência da sucessão familiar no campo. Manter as novas gerações na atividade exige, segundo Brunetto, combinar lucratividade e melhor qualidade de vida. Ele reforça que “conquistar o jovem é mostrar que ele terá renda, tecnologia e condições de viver bem no meio rural”, garantindo a continuidade de um setor historicamente ligado à identidade da Serra Gaúcha.
Legado e Inovação na Agricultura da Serra Gaúcha
Ao unir a herança deixada pelo migrante italiano com a ciência e a inovação, o agro da Serra Gaúcha demonstra sua capacidade de evoluir sem perder as raízes. O agricultor de hoje carrega a história de quem transformou encostas em cultivo e, ao mesmo tempo, atua em um ambiente moderno, atento ao mercado, às demandas climáticas e à busca contínua pela qualidade. Nesse equilíbrio entre memória e futuro, a agricultura regional segue escrevendo novos capítulos de desenvolvimento.