As primeiras famílias italianas se estabeleceram na região onde hoje está o município de Farroupilha, dando início à colonização na Serra Gaúcha.
A imigração italiana em massa no Rio Grande do Sul teve início em 1875, impulsionada pelo interesse do Império Brasileiro em substituir a mão de obra escrava e ocupar áreas estratégicas para o desenvolvimento agrícola e demarcação de fronteiras. A Serra Gaúcha foi escolhida como uma das principais regiões de colonização, com a criação de colônias pelo Governo Imperial e pela província gaúcha. O objetivo era diversificar a economia, fortalecer a presença nacional no Sul e formar uma nova classe de pequenos produtores. Foi nesse contexto que surgiu Nova Milano, localidade que se tornou o marco inicial da imigração italiana no estado.
A Chegada e os Desafios Iniciais da Imigração Italiana
A chegada dos imigrantes italianos a Nova Milano
Os primeiros imigrantes enfrentaram viagens longas e precárias, saindo de portos como Gênova, passando pelo Rio de Janeiro e por Porto Alegre. Após desembarcarem, eram encaminhados à Hospedaria da Harmonia, na capital gaúcha, e então seguiam por picadas abertas na mata até o barracão de Nova Milano, já na Serra Gaúcha. Enfrentaram doenças, superlotação, escassez de alimentos e a total ausência de infraestrutura. Receberam lotes de terra, mas precisaram, por conta própria, construir moradias e iniciar o cultivo agrícola, em meio à mata virgem e com apoio governamental limitado.
Nova Milano, hoje distrito de Farroupilha (RS), foi escolhida como ponto de entrada por estar localizada na extremidade da área demarcada para a colonização. A Comissão de Terras foi instalada no local para organizar a distribuição dos lotes aos colonos. As primeiras famílias italianas, como os Radaelli, Crippa e Sperafico, chegaram conduzidas por um indígena conhecido como Luiz Bugre. Segundo o pesquisador Vinícius Pigozzi, “essa área era de mata virgem, não tinha infraestrutura alguma, então, tinha que abrir tudo, cortar o mato para começar a produzir”.
Cultura, fé e legado dos imigrantes italianos
Mesmo diante de tantos desafios, os imigrantes italianos conseguiram manter elementos essenciais de sua identidade cultural. A fé católica teve papel central na organização social, com a construção de capelas, igrejas e a realização de festas religiosas. A educação também foi valorizada e com o tempo surgiram escolas e associações comunitárias. O idioma evoluiu para o Talian, dialeto baseado no vêneto, ainda preservado em muitas comunidades. “A fé católica era esse elemento agregador que dava os princípios e a esperança de uma vida melhor”, destaca Vinícius ao comentar a importância da religião para a coesão comunitária.
Nova Milano: Memória viva da imigração italiana
Atualmente, Nova Milano é um dos principais símbolos da preservação da memória da imigração italiana no Brasil. O distrito abriga o Museu Casa de Pedra, o Monumento à Imigração Italiana e diversas celebrações que mantêm viva a tradição dos pioneiros. Eventos típicos como Entrai, gastronomia colonial, grupos de canto e dança, além da arquitetura herdada da colonização, reforçam a ligação entre o passado e o presente.
Preservar a história de Nova Milano é compreender as raízes da identidade da Serra Gaúcha. A contribuição italiana está presente na cultura, no trabalho e no modo de vida dos gaúchos serranos. Celebrar essa herança é, acima de tudo, valorizar a força, a coragem e a união das famílias que construíram, com muito esforço, uma nova realidade no Sul do Brasil.