Livro desenvolvido pela Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança do Trabalho (Fundacentro), órgão ligado ao Ministério do Trabalho e Emprego, mostrou que atualmente questões mentais e comportamentais acometem mais os professores do que questões físicas. O predomínio, como mostra a obra, é de distúrbios mentais – síndrome de burnout, estresse e depressão –, seguido por distúrbios de voz e osteomusculares.
Ao analisar as possíveis causas desse fenômeno, é preciso levar em conta, pelo menos, duas ordens de fatores. A primeira, de ordem quantitativa, diz respeito ao excesso de trabalho dos docentes. “Sabemos que os professores, em geral, lidam com grandes cargas de trabalho, às vezes divididas em duas, três escolas, para as quais eles têm que – inclusive – se deslocar.. O professor acredita que esse cenário gera um estresse, que pode acarretar no desenvolvimento de questões mentais.
O outro fator, de ordem qualitativa, diz respeito à falta de realização desses docentes. A profissão não é apenas um lugar de recebimento e remuneração, mas também é um lugar em que se busca a realização. E os professores em geral são profissionais que buscam também na sua relação com o trabalho uma realização. Por conta das condições gerais de ensino, essa satisfação está cada vez mais difícil de ser alcançada.
Marcelo Afonso Ribeiro, professor do Instituto de Psicologia (IP) da USP, explica que ao analisar possibilidades para as causas desse adoecimento é preciso partir do pressuposto que não são apenas condições pré-existentes dos docentes que pioram sua saúde mental. O adoecimento, ao se manifestar, é produto das relações da pessoa com o contexto e das impossibilidades de se equilibrar mentalmente.
Ribeiro acredita que, atualmente, existe um declínio no discurso de autoridade, que reverbera na valorização do docente como profissional. Uma série de eventos, como a questão da valorização da opinião pública e o ataque à ideia do conhecimento, estremeceram a posição de autoridade desses profissionais, inclusive dos professores – que muitas vezes ocupam um espaço de pouca legitimidade e sofrem ataques.
A falta de autonomia dos docentes dentro do ambiente de trabalho também pode contribuir para esse aumento. O acadêmico destaca que “autonomia” não significa fazer o que bem entender de qualquer forma, mas sim um poder e liberdade para executar o que se é esperado, dentro do projeto pedagógico e dos limites institucionais. No ambiente privado existe uma pressão enorme das famílias; já no ambiente público a pressão advém das mudanças políticas e todo esse processo, segundo Ribeiro, pode ser desgastante mentalmente.
Na atualidade, a tecnologia permitiu que grande parte das atividades passassem a ser realizadas digitalmente, o que reverbera no mundo do trabalho – e consequentemente na área da educação. Esse cenário é paradoxal: ao mesmo tempo em que a tecnologia oferece recursos, ela amplia a quantidade de tarefas e a sobrecarga de trabalho.
Uma forma de melhorar a condição de trabalho dos docentes está na tentativa de restituir a autonomia e respeito aos docentes. O professor está muito pressionado e dá aula com medo, porque tem sempre alguém que vai filmar e um pai ou gestor vai reclamar. Eles se sentem muito pouco à vontade para desenvolver seu trabalho. É importante que um trabalho colaborativo entre professores, gestores educacionais, pais e instâncias políticas seja realizado para que todos os grupos se sintam contemplados e as decisões sejam tomadas de forma conjunta.