É início da manhã. Você sai para regar as plantas ou alimentar os animais e se depara com uma cena incomum: um gavião caído no chão do quintal. Ele está ali, imóvel ou se debatendo, assustado, vulnerável — bem diferente da figura imponente que costumamos ver nos céus. Nessas horas, o instinto pode sugerir aproximação imediata, mas cada passo precisa ser calculado. Saber o que fazer — e principalmente, o que não fazer — é essencial para preservar a vida desse animal silvestre e garantir sua segurança.
Avalie com calma: o gavião está ferido ou apenas atordoado?
O primeiro passo é observar. Um gavião pode cair por vários motivos: colisão com janelas, desorientação, ataque de outro animal ou até mesmo exaustão. Fique a pelo menos dois metros de distância e analise seu comportamento.
Se ele estiver de olhos abertos, mas não conseguir voar, pode estar atordoado. Casos assim acontecem com frequência, principalmente após colisões com vidraças ou paredes. Se for esse o caso, o gavião pode apenas precisar de um tempo para se recuperar, sem a necessidade de intervenção direta.
Agora, se houver sangue, asas caídas, dificuldade para respirar ou ele estiver cercado por formigas ou outros predadores, é sinal de que o animal está ferido e precisará de socorro especializado.
Jamais tente levantar o gavião com as mãos nuas, principalmente se ele ainda estiver consciente. As garras e o bico são extremamente fortes e podem causar ferimentos sérios.
Como agir com segurança: proteção, contenção e contato com especialistas
Caso o gavião esteja realmente ferido, o ideal é contê-lo com cuidado para evitar que ele se machuque ainda mais. Vista luvas grossas (de couro ou de jardinagem reforçada) e, com muita calma, envolva o animal com uma toalha ou pano grande, cobrindo todo o corpo e principalmente as asas.
Depois de envolvê-lo, acomode o gavião em uma caixa de papelão com furos para ventilação. Forre o fundo com jornal ou panos limpos, e mantenha a caixa em um local escuro e silencioso até receber orientação profissional.
Importante: não ofereça comida, água ou medicações por conta própria. A anatomia das aves de rapina é delicada, e qualquer tentativa de alimentar pode causar engasgos ou complicações.
Notícias Relacionadas
O próximo passo é acionar um centro de reabilitação de fauna silvestre, secretaria do meio ambiente, IBAMA ou um veterinário especializado em aves. Cada estado brasileiro tem órgãos responsáveis por esse tipo de atendimento. Em muitos casos, há voluntários ou ONGs que fazem o resgate.
E se o gavião for um filhote?
Às vezes, o que parece um gavião “caído” é na verdade um filhote em fase de aprendizado de voo. Essa situação exige ainda mais cautela. Antes de qualquer interferência, observe se os pais estão por perto — eles geralmente ficam vigiando de longe e podem retornar assim que você se afastar.
Se o filhote estiver em local seguro, o melhor a fazer é não tocar. Ele pode conseguir subir novamente em galhos baixos com o tempo. Mas, se estiver em risco (como próximo a cães, gatos ou ruas), a contenção temporária pode ser necessária, sempre com os mesmos cuidados descritos anteriormente.
Você também pode improvisar um “ninho” com uma cesta de vime presa em uma árvore próxima, caso identifique de onde ele caiu. Isso permite que os pais continuem alimentando e protegendo o filhote sem a necessidade de remoção para cativeiro.
O que não fazer em hipótese alguma
- Não tente criar o gavião em casa. Além de ilegal, é perigoso para você e para o animal. Gaviões são aves de rapina protegidas por lei e exigem cuidados muito específicos.
- Não exponha o animal ao sol direto. Mesmo ferido, ele pode superaquecer rapidamente.
- Não publique a localização exata do animal nas redes sociais. Infelizmente, há pessoas que capturam aves silvestres para tráfico ou domesticação ilegal.
- Não soltar o animal por conta própria. Mesmo que ele pareça melhor, só um profissional pode avaliar se ele está apto a retornar à natureza.
Gaviões e o ambiente urbano: por que aparecem cada vez mais?
O aumento da presença de gaviões em quintais e centros urbanos está diretamente ligado ao desequilíbrio ambiental. Com menos áreas naturais preservadas, essas aves buscam refúgio e alimento em regiões habitadas por humanos.
Eles são predadores naturais importantes, controlando populações de roedores, cobras e até pombos. Portanto, sua presença indica um ecossistema minimamente funcional — e o resgate correto de um indivíduo ferido contribui para manter esse equilíbrio.
Quando ajudar é um ato de proteção à natureza
Encontrar um gavião caído pode ser, à primeira vista, assustador. Mas é também uma oportunidade de se conectar com a vida selvagem que ainda resiste nas bordas do nosso cotidiano. Agir com respeito, cuidado e responsabilidade transforma essa experiência em um gesto de empatia — não apenas com aquele animal, mas com todo o ecossistema ao redor.
