O jornalismo brasileiro perdeu uma de suas vozes mais lúcidas e respeitadas nesta sexta-feira (27). Aos 90 anos, morreu em Porto Alegre o jornalista, filósofo, professor e ex-deputado Ruy Carlos Ostermann — uma das mentes mais brilhantes da história da crônica esportiva nacional. O velório ocorre neste sábado (28), às 10h, no Salão Júlio de Castilhos da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul.
Internado desde maio no Hospital Moinhos de Vento após contrair dengue, Ostermann faleceu em decorrência de complicações causadas por uma pneumonia, segundo informou a instituição hospitalar.
Conhecido como “Professor” — apelido que carregou por décadas — Ruy Carlos Ostermann deixou uma marca profunda não só na cobertura esportiva, mas também na cultura e na política do estado. Deixa três filhos, Cristiane, Fernanda e Felipe, além de cinco netos. Sua esposa, Nilce, com quem foi casado por 58 anos, morreu em 2021.
Um legado construído com palavras, ideias e paixões
Nascido em São Leopoldo em 26 de setembro de 1934, Ostermann teve uma trajetória plural. Antes de se destacar no jornalismo, jogou futebol e brilhou no basquete, chegando a defender a seleção gaúcha. Mais tarde, essas vivências esportivas seriam fundamentais para moldar sua visão filosófica e crítica sobre o futebol — o que o tornaria pioneiro na análise esportiva com profundidade e reflexão.
Sua carreira no jornalismo começou em 1962, no grupo Caldas Júnior, onde atuou na Rádio Guaíba e nos jornais Folha da Tarde Esportiva, Folha da Tarde e Folha da Manhã. A partir de 1978, ingressou no Grupo RBS, tornando-se comentarista da Rádio Gaúcha e colunista da Zero Hora. Paralelamente, formou-se em Filosofia e passou a lecionar na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Ostermann se tornou referência por unir conhecimento acadêmico à análise esportiva. Seu estilo, marcado por profundidade, sensibilidade e erudição, transformou a forma como o futebol era discutido nas redações, nos estúdios e entre os torcedores.
Ruy de Todas as Copas
Ruy Carlos Ostermann esteve presente, como jornalista, em todos os Mundiais da FIFA entre 1966, na Inglaterra, e 2014, no Brasil. Narrou e analisou momentos históricos do Grêmio, do Internacional e da Seleção Brasileira. Com sua escrita elegante e comentários sempre precisos, foi a voz e a mente por trás de gerações que aprenderam a pensar o futebol além das quatro linhas.
Além do esporte, teve atuação destacada na política. Foi eleito deputado estadual duas vezes, em 1982 e 1986, e integrou o governo de Pedro Simon como secretário de Ciência e Tecnologia e também de Educação.
Na televisão, comandou por 10 anos o programa Encontros com o Professor, que marcou época ao reunir intelectuais, jornalistas e personalidades para debates sobre cultura, sociedade e política.
Homenagem em vida
Em setembro de 2024, Ruy foi homenageado com o lançamento de sua biografia, escrita pelo jornalista Carlos Guimarães. A obra recupera momentos emblemáticos de sua trajetória e reforça a importância de seu legado para o jornalismo e a cultura gaúcha e brasileira.
Um vazio
O silêncio deixado pela partida de Ruy Carlos Ostermann é sentido não apenas no jornalismo esportivo, mas em todas as esferas que ele tocou com sua inteligência, integridade e paixão pelo conhecimento. O “Professor” foi mais do que um cronista: foi uma escola, uma referência e um mestre que ajudou o Brasil a pensar o esporte como expressão cultural e humana.
Ruy Carlos Ostermann deixa uma herança de pensamento crítico, elegância ética e compromisso com o jornalismo como instrumento de formação e transformação. Uma ausência irreparável — e uma presença eterna.