
Faltam poucos dias para a COP 30 começar em Belém, e uma pergunta me inquieta: quem realmente terá voz neste evento que definirá o futuro do planeta?
Passagem aérea para Belém: R$ 2.500. Hospedagem durante o evento: R$ 800/diária. Credenciamento, logística, alimentação… O custo para participar da maior conferência climática do mundo pode facilmente ultrapassar R$ 10.000 por pessoa. E aí surge uma contradição cruel: o evento que deveria democratizar soluções para o clima se torna exclusivo para quem pode pagar.
Enquanto discutimos crise climática nos painéis, criamos uma barreira financeira que exclui justamente aqueles que mais sofrem com as mudanças climáticas. Pequenos produtores rurais, líderes comunitários, jovens ativistas, pesquisadores de universidades públicas – muitos ficam de fora não por falta de conhecimento ou relevância, mas por falta de recursos.
É como se estivéssemos fazendo um jantar sobre fome e cobrando R$ 500 o prato.
Essa reflexão me leva a uma questão mais ampla: por que a sustentabilidade ainda é vista como privilégio de classe média alta? Produtos orgânicos custam 40% mais caro. Carros elétricos são inacessíveis para a maioria. Energia solar requer investimento inicial alto.
Criamos, sem perceber, uma sustentabilidade de elite – onde ter consciência ambiental virou símbolo de status, não necessidade coletiva.
Democracia e Crise Climática: Uma Tensão Estrutural
A democracia contemporânea enfrenta um dilema: como conciliar processos decisórios participativos com a urgência da emergência climática? A ecologia política evidencia que as populações mais vulneráveis – indígenas, quilombolas, ribeirinhos e moradores urbanos periféricos – são as que mais sofrem os efeitos das mudanças climáticas e as menos ouvidas nas decisões políticas.
A crise climática se revela, portanto, mais do que uma questão técnica ou econômica: é uma questão moral e civilizatória que exige uma reformulação do Estado e da política, com participação cidadã efetiva, justiça climática e transparência institucional.
COP 30 e o Papel da Amazônia
A escolha da Amazônia como sede da COP 30 possui profundo significado político e simbólico. A Amazônia não é apenas um espaço geográfico, mas um território de saberes, culturas e resistências. O conhecimento produzido pelas comunidades tradicionais oferece respostas éticas e sustentáveis aos dilemas do Antropoceno.
A realização da COP 30 em Belém impõe ao Brasil o desafio de garantir uma participação social efetiva e inclusiva. Não basta abrir espaços formais de escuta; é necessário reconhecer a diversidade linguística, cultural e epistemológica da região.
Liderança Verdadeiramente Inclusiva
Como CEO e estudiosa de liderança, vejo aqui uma oportunidade transformadora. Líderes conscientes são aqueles que quebram barreiras, não as reforçam.
Na COP 30, precisamos de lideranças que:
- Ampliem vozes marginalizadas – criando espaços para quem não pode pagar para estar lá
- Traduzam complexidade – tornando soluções climáticas acessíveis e práticas
- Democratizem conhecimento – compartilhando aprendizados além dos círculos privilegiados
- Conectem local e global – valorizando saberes tradicionais tanto quanto alta tecnologia
Além de Metas e Indicadores
Acredito que nossos desafios enquanto mudanças climáticas vão muito além de metas e indicadores, acordos e políticas públicas. Eles são, de fato, importantes, porém sem consciência e ética no desenvolvimento de pessoas, serão apenas mais acordos que ficarão no papel. Pois quem de fato fará a transformação que tanto precisamos somos todos nós, no nosso dia a dia, nas nossas escolhas diárias.
A verdadeira medida de sucesso da COP 30 não será quantos acordos assinamos, mas quantas pessoas conseguimos incluir na construção das soluções. Não será o número de painéis, mas as pessoas estão se sentindo representadas. Não será a sofisticação das propostas, mas sua aplicabilidade na vida real.
Temos uma oportunidade histórica. O Brasil pode liderar não apenas em biodiversidade ou energia renovável, mas em sustentabilidade democrática. Podemos mostrar ao mundo que soluções climáticas eficazes nascem quando incluímos todos os saberes, todas as vozes, todas as realidades.
A sustentabilidade não pode ser um clube exclusivo. Ela precisa ser um movimento popular, acessível, diverso. Porque o clima não escolhe classe social para impactar – e nossas soluções também não deveriam.
Reflexão Final
Às vésperas da COP 30, me pergunto: que rastros queremos deixar?
A resposta está nas mãos de cada líder que estará em Belém. E também nas nossas, que estaremos acompanhando de longe, mas não em silêncio.
Porque sustentabilidade verdadeira é aquela que sustenta a todos – não apenas alguns.