Comportamento

Recomeça o julgamento com depoimento de Kellen Ferreira, sobrevivente do incêndio na boate Kiss

"A última vez que eu corri foi para tentar me salvar da morte", disse Kelen.

Foto: Matheus Beck/g1
Foto: Matheus Beck/g1

Começou às 20h17min desta quarta-feira (1º) a oitiva da segunda sobrevivente do Incêndio da boate kiss durante júri do caso em Porto Alegre. Juiz Faccini anuncia que apenas Kellen será ouvida nesta noite (1°). Na quinta pela manhã, mais dois (Emanuel Almeida Pastl e Jéssica Montarão Rosado) e três à tarde (Lucas Cauduro Peranzoni, Érico Paulus Garcia e Gustavo Cauduro Cadore).

Familiares das vítimas voltam ao plenário para a retomada da sessão. Algumas mães carregam cobertores, e todas estão com camisetas da associação de vítimas ou com fotos dos filhos estampadas.

Kellen Giovana Leite Ferreira foi à festa no dia 27 de janeiro de 2013, em Santa Maria na Região Central do Rio Grande do Sul, e teve parte de uma perna amputada em razão dos ferimentos sofridos. A mulher, de 28 anos, falou sobre as lesões que sofreu no incêndio. Emocionada, Kellen relatou que caiu na tentativa de fugir e que sua sandália ficou presa no tornozelo, cortando a circulação sanguínea. Em decorrência disso ela amputou a perna no dia 5 de fevereiro. Kellen conta que a prótese custa R$ 75 mil e nunca recebeu apoio dos proprietários da Kiss. Ela faz tratamento com pneumologista e psiquiatra, além de atendimento psicológico, desde a madrugada da tragédia.

“A última vez que eu corri foi para tentar me salvar da morte”, disse. Kellen teve 18% do corpo queimado. A jovem relatou ao juiz Orlando Faccini Neto que passou pelo processo de aceitação desde o ano passado, em razão das cicatrizes.

“Quando eu cai, ia voltar para buscar minhas amigas, um homem de branco me puxou e disse “tu não vai!”, acho que era Deus! Quando cheguei na porta de entrada já tinha muita gente la, foi ai que eu vi que era fogo, eu senti meus braços queimarem, era muito calor e o cheiro muito forte.” relata.

Ela estava na festa com oito pessoas: Kellen, duas amigas e cinco rapazes. Três faleceram: duas amigas de 18 anos e um dos homens, de 19 anos.

“Às 4h30min fui entubada. Fui de avião para Porto Alegre, uma das primeiras. Meu estado era muito crítico. Acabou o oxigênio, tiveram que revezar. Já poderia ter morrido ali. Fui direto pro Hospital de Clínicas. Fiquei 78 dias internada. Cirurgias várias, inúmeras. Fiz enxerto de pele, tirei pele das minhas pernas”, descreve Kellen.

Ministério Público passa a questionar Kellen, que descreve a noite na boate com base nas imagens da maquete em 3D apresentada pelos promotores.

Mais cedo, uma ex-funcionária da boate foi ouvida pelo juiz, representantes do Ministério Público e advogados dos réus. Kátia Giane Pacheco Siqueira recordou o momento do incêndio e as queimaduras que sofreu em 40% do seu corpo. Ela passou por cinco cirurgias de reparação de pele e que, por prescrição médica, tomava morfina para aliviar as dores.

Kátia disse que conhecia cerca de 50 pessoas que morreram, entre funcionários e frequentadores. Além disso, ela confirmou que foi feita uma reforma para elevar o piso do palco antes do incêndio.

“Quando eu senti que era fogo mesmo, eu tentei respirar fundo, eu vi que os guris que trabalhavam no bar já tinham pulado o balcão e saído. Estava eu e outra menina, que faleceu. Na hora que a gente viu o que estava acontecendo, eu tentei sair e, como tinha gente empurrando, acabei desmaiando lá dentro”, relembrou.