Bento Gonçalves

Operação Cobertura já denunciou 145 pessoas envolvidas em fraude nos concursos

Operação Cobertura já denunciou 145 pessoas envolvidas em fraude nos concursos

A Operação Cobertura, realizada pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) para combater fraudes em concursos públicos em diversas cidades gaúchas, incluindo Bento Gonçalves, segue desarticulando o esquema que ainda demonstra ter outros desdobramentos na Serra Gaúcha, e chega ao número de 145 pessoas denunciadas.

Na semana passada, a Promotoria de Justiça Especializada Criminal de Porto Alegre ofereceu duas denúncias ao Judiciário da Comarca de Guaporé sobre crimes cometidos na elaboração e execução de concursos das cidades de Dois Lajeados e São Valentim do Sul. No total, foram denunciadas nove pessoas pelo promotor de Justiça Mauro Rockenbach.

Fraudes eram realizadas com a manipulação dos cartões de resposta (Foto: MPRS/divulgação)

O principal ponto em comum das novas denúncias com as já realizadas pelo Gaeco é a participação da empresa Instituto de Desenvolvimento em Recursos Humanos (IDRH), de seu sócio, Maicon Cristiano de Mello, e de Ernesto Hattge Filho.

Além dos dois, a Justiça denunciou Aires Bertollo, Juliano de Oliveira Crestani e Adriane Bregolin Marcolin em São Valentim do Sul, e Rodrigo Melo Ferreira, Carlos Gilberto Souza dos Santos, Julio Cesar Biscardi e Fernando da Silva Teixeira em Dois Lajeados.

Segundo a investigação, as duas fraudes ocorreram em concursos realizados pelas prefeituras. Em São Valentim do Sul, a associação criminosa ocorreu em 2011 entre a denunciada Adriane Bregolin Marcolin, na época secretária da Administração do município iniciou na licitação, com o direcionamento da concorrência através da participação dos co-denunciados Aires Bertollo e Juliano de Oliveira Crestani para que fossem apresentados orçamentos com valores maiores ao valor apresentado pela IDRH. Para fraudar o concurso, Hattge Filho deu suporte técnico, gerenciando e manipulando documentos e informações repassadas pela IDRH.

Em Dois Lajeados, o crime ocorreu em 2015, e seguiu o mesmo modelo, com a combinação do resultado da concorrência através da participação dos co-denunciados Rodrigo Melo Ferreira e Carlos Gilberto Souza dos Santos, sócios da Energia Essencial Concursos, e Fernando da Silva Teixeira, da SS1 Concursos e Assessoria em TI. Hattge Filho também deu o suporte técnico à empreitada criminosa, gerenciando e manipulando documentos e informações repassadas pela IDRH, que contou com a participação do denunciado Julio Cesar Biscardi, que integrava o grupo prestando serviços de informática, confecções de editais e atendimento aos candidatos.

Para Rockenbach, as fraudes são resultantes de uma “cultura criminosa” instaurada no país. Até o momento, a Operação Cobertura já denunciou 145 pessoas em mais de 30 municípios gaúchos.

Bento Gonçalves, a segunda cidade mais populosa da Serra Gaúcha, é o maior município gaúcho onde a fraude foi verificada pelas investigações da Operação Cobertura. Outra particularidade na cidade é que duas fraudes foram identificadas pelo Ministério Público (MP): uma no concurso para cargos na Câmara de Vereadores, realizado em 2014, e outra para a prefeitura, no ano seguinte.

Pelo menos 17 pessoas estão respondendo a processo pela fraude, entre eles o ex-secretário municipal de administração, Rafael Paludo; o então pregoeiro da prefeitura Álvaro Luís Luvison e o membro da comissão de licitação, Alcir Sbabbo; e o presidente do Legislativo à época, Valdecir Rubbo.

De acordo com as investigações, a fraude no concurso da Câmara teve a participação direta de Rubbo, que teria entregue para o IDRH uma lista com nomes de oito candidatos que deveriam ser aprovados em troca de um pagamento R$ 5 mil, conforme afirmou o empresário Maicon Cristiano de Mello durante depoimento em sua delação premiada. Após as denúncias, Rubbo deixou a presidência da Câmara, e sete pessoas que teriam sido aprovadas por meio da fraude e que haviam assumido o posto foram afastadas.

No concurso para a prefeitura de Bento, o esquema se repetiu com o secretário de administração da época como coordenador, que teria pago R$ 18 mil pela aprovação de 14 pessoas. Ele foi exonerado em setembro de 2015, e o concurso foi anulado.