Opinião

O passado ensinando o presente

O passado ensinando o presente

A Medicina Oriental, de há muito, trata o corpo como algo não separado da mente, ou seja, tudo fazendo parte da mesma ciência e o ser humano como um todo. Não que isso signifique que que todas as patologias têm origem na mente. Não. Significa que a mente doente (e não tratada) pode desencadear, por efeitos psicossomáticos, várias doenças no corpo físico.

Acho que a gente intui isso, mesmo não sendo versado no estudo da mente. Tanto que, aqui no Ocidente, há inúmeras aproximações que dão conta desse entendimento e preconizam a ideia de mente sã; corpo são. E isso nem é uma história recente. Oliva Sabuco (1562/1622), mulher extraordinária, já falava disso. Nunca ouviram falar dela? Deixem-me apresenta-la.

Oliva Sabuco de Nantes ou Oliva Sabuco de Barrera foi uma Filósofa e Médica espanhola; nascida em Alcaraz (Albacete), filha e irmã de farmacêuticos, ela era também neta de um médico. Ela foi uma pioneira na “Medicina Psicossomática”, da qual pressinto que estejamos todos carentes neste momento histórico, em que cada um está vivendo seu drama particular e, juntos, um drama coletivo: medo, angustia, sofrimento, insegurança acerca do futuro e, sobretudo, muita dor por esse desencarne coletivo.

Sabuco ficou conhecida pela obra “Nova filosofia da natureza humana não conhecida e não alcançada pelos antigos filósofos que melhora a vida humana e a saúde”. Nela, Oliva descreve como as emoções podem impactar o corpo e conclamam médicos para uma Medicina holística, que possa abranger a totalidade do paciente. Oliva, uma mulher à frente de seu tempo, como dissemos no início, já propunha uma análise conjuntural da saúde humana que abrangesse estudos de tratamento de corpo, alma e mente, tudo concomitantemente.

Na região em que Oliva nasceu, havia oito grandes conventos; ela foi também influenciada por Dominicanos que ensinavam as elites. Sabuco, em tese, pelo que conta a história, apreendeu muito com eles, especialmente com um professor humanista chamado Dom Simon Abril, que lhe teria dado ensinamentos preciosos para aquela jovem com interesses fora do comum.

Desejando publicar a obra antes referida, Oliva escreveu ao rei, pedindo permissão para publicá-lo, primeiro, por ser mulher e afirmar que poderiam querer apropriar-se das ideias, e também, porque, naquela época, toda a obra era examinada antes de ser publicada ou ser considerada heterodoxa, numa inequívoca censura prévia.

Ela logrou êxito em obter a aprovação de Felipe II, em 1586, e veio a publicá-la em 1587. A obra se constituía de sete tratados, cinco em espanhol, e dois em latim, expondo os problemas “contemporâneos” da Medicina de então, suscitando uma crítica sobre a distância entre a Medicina e a Filosofia (sabedoria).

Parte da obra sofreu censura da Inquisição. Mas o interessante, para os tempos atuais, é que, naquela obra de Oliva, ela expunha ideias sobre Medicina e Filosofia, em especial, sobre as maneiras de combater as epidemias. Outro campo em que Olivia foi pioneira foi sobre a circulação do sangue e a localização da alma no cérebro.

Quando pensei que as ideias dela pudessem ser por mim lembradas e, quem sabe, tão úteis para nossas vidas como hoje as estamos vivendo? Aprendendo com o passado!