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Na semana da mulher, Silvia Maria Chieli Rossi fala sobre empreendedorismo, família e voluntariado

Farroupilhense é a personagem da série de reportagens que homenageia as mulheres que escrevem a história

Foto: Cristiano Lemos/Grupo RSCOM
Foto: Cristiano Lemos/Grupo RSCOM

O Portal Leouve vem apresentando, nesta última semana, histórias de mulheres que inspiram. A série de reportagens é uma homenagem a semana internacional da mulher, que teve seu dia comemorado no último domingo (08). Em Farroupilha são muitas as mulheres que tem histórias para serem contadas, a cidade é alicerçada em cima das grandes conquistas delas tendo, inclusive, um dia para se comemorando: O Dia da Mulher Farroupilhense é lembrado em 18 de março.

Para representar as mulheres farroupilhenses a reportagem conversou com a professora, empresária, mãe, avó e voluntária Silvia Maria Chieli Rossi. Farroupilhense de nascimento, Silvia nasceu em 31 de março de 1959 e foi criada acompanhando o crescimento da cidade. O pai era, nas palavras dela, “bodegueiro”, tendo um armazém no centro da cidade, onde a mãe mora até hoje. Ela lembra com carinho do irmão, que faleceu quando ela tinha 29 anos e ele 28.

Silvia estudou magistério na Escola Cenecista e lecionou matemática para os alunos de quinta a oitava séries durante muitos anos, tendo se aposentado como professora.

Ela relembrou o casamento cedo, com 17 anos, em 1976, com Sérgio Luiz Rossi e como foi o início da empresa da família, uma das mais tradicionais lojas de materiais de construção da cidade.

“A loja, ela é de 83. Quando a gente casou não existia lojas de materiais de construção. O Sérgio trabalhava em uma empresa de postes, ali na Forqueta, e lá pelas tantas, faleceu um dos sócios da empresa e mudou muita coisa lá. Como ele tinha uma participação, quando ele saiu deram para ele como acerto postes e forro de pinhos ilhote. E foi aí que começou a nossa loja, porque ele tinha que vender isso, né? Então ele alugou uma sala e foi como tudo começou. Mudamos de endereço duas vezes até estarmos no nosso local atual”, disse.

Ela relembrou que no começo do comércio trabalhava durante o dia e lecionava durante a noite no bairro Medianeira, onde ficou por 16 anos. Por algum tempo, a família morou na casa da mãe de Silvia, que ajudava com o cuidado do primeiro filho do casal, Rafael Rossi, que hoje tem 40 anos – Silvia também é mãe de Guilherme Rossi, de 33 anos –  antes de começarem a construir a sua própria moradia, no bairro São Luiz.

Ela agradece a mãe, que por anos cuidou do filho mais velho para que ela pudesse trabalhar e estudar.

Formada em Ciências Contábeis e com pós graduação em Gestão de Pessoas, Marketing e, segundo ela por curiosidade, em Produção, Silvia comentou o porque dessa vontade de descobrir coisas novas.

“Sabe de não ficar parado? De ficar na minha mesa? De só fazer o financeiro da empresa? Eu não consigo, eu saio, eu vou ver o estoque, vou ver a vitrine. Acho importante não ficar bitolado. Eu sou professora e só vou fazer isso? Não. Lembro que no meu tempo de escola eu e mais umas colegas nos reunimos e fundamos o primeiro curso de educação de adultos na cidade. Foi lá onde hoje é a Escola João Grendene. Levou um ano para montar essa escola para adultos. Eu guardo isso com carinho, tenho muito orgulho de ter participado disso”.

O voluntariado entrou na vida dela em 1999, quando ela começou a atuar na Liga de Combate ao Câncer. Ela conversou com a família e disse que sentia que precisava fazer algo a mais. Ela já ajudava a liga com contribuições em dinheiro, ou na compra de salgados e doces nos chás que a liga promovia, mas sem se envolver efetivamente na organização. Quando ela viu o trabalho das participantes, sentiu que era a hora. Na conversa familiar ela deixou claro que iria trabalhar na loja pela manhã e dedicar-se ao voluntariado a tarde.

Questionada se ela ainda é a mesma pessoa que há 20 anos entrou na Liga, ela foi enfática.

“Com certeza que não, né? Não, não, não. Mudou muito, aquilo que tu sente, de olhar para uma pessoa e ver que ela não quer apenas ajuda no medicamento, de um rancho. Ela quer um abraço, quer que você olhe pra ela, converse com ela, faça uma visita… É isso que também faz parte de ser voluntária. Isso me deixa muito feliz. As pessoas vem na Liga e a gente pede o que elas precisam e elas nos dizem que nada, que vieram apenas para dar um oi. Não há o que pague isso”.

Mas também há momento ruins. Ela conta que a tristeza de perder um paciente, de não vencer a batalha contra o câncer é a pior parte deste trabalho. Ela diz que o baque é muito grande, já que a Liga se torna uma segunda família para quem passa por ali.

Além do trabalho realizado na Liga, Silvia faz parte da Confraria Feminina do Vinho e Espumante de Farroupilha, com reuniões mensais em que é estudado um rótulo de vinho, de espumante, de frisante, e realizada uma confraternização entre as participantes.

Em suas duas passagens como presidente da Confraria, Silvia se orgulha em dizer que foi no seu mandato que a sede do grupo foi inaugurada. Após uma parceria com a AFAVIN, foi restaurada a Casa Poeta Oscar Bertholdo para ali instalarem suas sedes e criar um espaço cultural e enogastrônomico bem como acolher o acervo cultural do Padre. Hoje ela é vice-presidente da entidade.

Com relação ao papel da mulher na atual sociedade, Silvia diz que muitas não imaginam a força que tem.

“A mulher tem muito poder e não sabe que tem. Muito mesmo. A mulher não imagina a força que tem. Muitas pessoas tem medo de por a cara tapa, eu não tenho. Posso tomar alguns tapões, mas eu tento. Temos que batalhar pelo que achamos o que é o certo. Eu não vou me arrepender de um dia dizer que poderia ter feito algo e não fiz. Se me veio na cabeça e eu acredito, eu faço”.

Silvia diz que todos devem sempre buscar algo novo. Não ficar parados no tempo e estagnados achando que não há nada mais para ser conquistado. Ela prega que quantos mais coisas a pessoa fizer no seu dia, mais tempo ela terá para fazer ainda mais. Ela justifica essa ótica com a sua história, após três pós graduações, o seu trabalho na loja, voluntariado e confraria, ela agora faz aulas de musica para poder aproveitar com o seu neto.

Quando falou do neto, Silvia também falou sobre família. Ela disse não ver seus filhos como adultos, mas apenas  como filhos. Se precisar ajudar, se precisar puxar a orelha, mesmo depois de grande, ela diz que o fará. Ser família e estar família, são, para ela, as coisas mais importantes da vida.

Se pudesse mudar uma coisa na sua trajetória, ela diz que saberia o que fazer.

“Acho que fiquei pouco tempo paparicando meu pai que faleceu cedo, meu irmão que faleceu cedo. Se a gente soubesse disso…  Eu teria dado mais tempo para eles. Nisto eu pequei, de não ter ficado mais tempo para eles. Ainda não desceu isso. Eu deveria ter ficado mais ao lado deles. Mas de resto, eu não me arrependendo de nada. Mas, se eu disser que estou plenamente realizada, não seria verdade. Sempre haverá alguém precisando de mim ou eu de alguém. Não consigo ficar parada, posso sempre fazer diferente, sempre criar algo novo”.

Ela finalizou dizendo ser avessa a aparecer na mídia. Conforme Silvia, ela gosta apenas de fazer as suas coisas, como ela acha melhor. Na visão dela, cada pessoa sempre tem um tempo para fazer algo pela outra. Ela ainda deixou um recado para as mulheres.

“Sejam mulheres. Mostrem o seu potencial, mostrem seu poder. Todo mundo tem uma força muito grande dentro de si. Procurem e encontrem. Tenham orgulho da suas origens como eu tenho. Vivam para serem felizes. Se tu é feliz tu vive bem, tu tem tudo na tua mão. Se um dia tu achar que acordou com o pé esquerdo, não aceite isso. faça como eu, todas as manhãs, quando vou ao banheiro, olho para o espelho e digo: Hoje o dia é nosso, vamos nos virar!!”.

Mulher, avó, mãe, empreendedora, professora, voluntária, colecionadora de bonecas, algumas de diversas partes do mundo e com muitos anos de história junto a sua dona, são alguns adjetivos que podem ser usados para falar de Silvia Maria Chieli Rossi e que a faz, junto a todas as mulheres de Farroupilha, alicerces da sociedade que vem sendo construída mostrando a todos o papel e a importância do sexo feminino para um evolução social no meio em que todos vivem.