Opinião

Mais Brasil, mais médicos, menos Cuba

Mais Brasil, mais médicos, menos Cuba

 De que o mundo é quase redondo, ninguém tem dúvidas – vamos excetuar alguns malucos que podem divergir e com maluco, melhor não discutir. Mas o mundo, assim como a moda, vive de recaídas ou retornos ao passado e este momento no Brasil é especialmente “vintage”, para ficarmos no contexto.

Neste país pós eleições e pré governo novo não há neutralidade. Aliás, a neutralidade é mal vista e pode depor contra quem assim se proclame. Como se no mundo só existissem duas cores, dois sentimentos, dois, vá lá, partidos.

Não tenho dúvidas de que este episódio do “Mais Médicos”, com Cuba se retirando, Bolsonaro proclamando ser impossível dar guarida à escravidão dos médicos cubanos, mostra cabalmente aquilo que o jornalista Chico Pinheiro já proclamou: estamos voltando ao passado. O Brasil acaba de entrar na “Guerra Fria”. Cuba, o PT e demais partidos à esquerda são os inimigos a combater.

Vivenciei o final do período da Guerra Fria e aqui vai um pouco de história pra quem não lembra da matéria que, dependendo do professor, tinha aulas muito chatas mesmo.

A guerra fria teve o episódio dos mísseis cubanos, teve a invasão da Baía dos Porcos em Cuba, o assassinato de Kennedy e teve o Macartismo. O mundo era do capitalismo contra o comunismo. Havia o muro de Berlim, que era de concreto e a cortina de ferro, que não era de metal.

Mas havia sobretudo um medo muito grande e até fundamentado, de que o comunismo fosse implantado em todo o mundo. Essa era a vontade de líderes russos, de Stalin a Krushev e seus camaradas.

E 007 lutava contra os vilões russos nas telas de cinema, tendo sempre ao fundo músicas muito legais e lindas coadjuvantes. Como era bom torcer pelo lado certo…

O Macartismo – é bom deixar um parágrafo pra lembrar do tema – é um termo derivado do nome do senador americano Joseph McCarthy, um feroz adversário dos russos, chineses e tudo que lembrasse Marx. Ele criou leis anticomunistas e o período se caracterizou por intensa repressão e perseguição política. Havia censura, difamação e a vida de uma pessoa podia ser destruída mesmo sem provas cabais. Em vez de ler sobre o tema, dê uma olhada no filme “Trumbo – Lista Negra” e se quiser mais diversão com um pé na realidade clique e descubra filmes bem interessantes sobre o assunto http://listasde10.blogspot.com/2010/08/10-filmes-sobre-o-macartismo.html ou

https://guiadoestudante.abril.com.br/estudo/5-filmes-para-voce-estudar-a-guerra-fria/

A Guerra Fria perdurou de 1945 a 1989 quando os dois muros já citados e a ideia de que era possível um mundo de coletivismo e sem classes pereceu. Pois, no Brasil, a deterioração da economia, o recorde histórico no número de desempregados e desesperançados, a incapacidade para lidar com a insegurança e o banditismo, nos trazem a um ponto inédito. Voltamos a acreditar que o militarismo e ideias menos complexas nos salvarão.

Continuaremos com uma máquina pública que não presta serviços e onerosa; dispensamos médicos escravizados e continuaremos atrasando salários de professores que ganham menos do que escravos cubanos.

Além da retórica e daquela surrada fórmula de buscar coesão encontrando inimigos perigosos, o presidente Bolsonaro precisará ter um plano na manga para não desassistir a população que não tinha médicos antes e provavelmente não os terá agora. Fazer o Brasil crescer é mais importante do que combater inimigos prostrados. No mais, estou torcendo por um enredo que não se pareça ao do filme “Adeus Lênin”, afinal, toda a volta ao passado pode ser nostálgica, mas tentar recriar o passado é um artificialismo que não trará resultados satisfatórios. Devemos aprender com o passado e não voltar a ele.