Se você encontrasse uma carteira com R$ 815,00 na rua, o que faria? Essa pode ser uma pergunta difícil de ser respondida para uma minoria da população, mas fácil para o senegalês Kama Lo, de 31 anos.
O imigrante que reside em Caxias do Sul desde 2014 deu um exemplo de caráter ao encontrar carteira, documentos e uma quantia alta em dinheiro na semana passada. Ele procurou ajuda de dois policiais militares que fizeram de tudo para localizar o agricultor Rudimar Montemezzo, 38 anos, e providenciar o encontro dos dois novos amigos. A história foi contada pelo policial Jackson Cardoso por meio das redes sociais do Comando Regional de Policiamento Ostensivo (CRPO/Serra) na última sexta-feira (10).
Kama Lo é pai de família. O estrangeiro batalha todos os dias da semana como vendedor ambulante para tirar seu sustento e, ainda, auxiliar a esposa e os quatro filhos que ficaram no Senegal, à espera da oportunidade de rumarem para o Brasil em busca de uma vida melhor. O imigrante divide um aluguel de R$ 1 mil em Caxias e, faça chuva ou faça sol, está sempre trabalhando. Ele conversou com a reportagem do Portal Leouve neste domingo (12).
Foi em um dia de trabalho que Lo encontrou a carteira de Montemezzo na rua. Primeiro, ele pensou em ir à agência bancária procurar ajuda. Mas, no ato, se deparou com dois policiais determinados em ajuda-lo: os soldados da Cavalaria da Brigada Militar (12°BPM) Osnei Dias e Marlon Chavez Mazui.
“Eu tinha certeza que eles fariam de tudo para encontrar o dono. O jeito que o Osnei pegou a carteira e fez as perguntas, eu tive a certeza que ele faria o máximo. Ele falou bem comigo e tudo. Eles (policiais) estão aqui para colocar a gente em um bom caminho, na verdade. Bem na hora que pensei em ir no banco eles passaram, e entreguei para eles”, diz Kama Lo.
Em nenhum momento passou pela cabeça do senegalês ficar com o dinheiro, mesmo com poucas vendas e dificuldade em ajudar a família que não vê há quase um ano.
“Eu pensei: se fui eu que perdi o dinheiro, eu ficaria muito triste, ainda mais nesse momento que estamos vivendo, com essa pandemia e tudo. Então, tenho que procurar o dono. Todo mundo está precisando nesse momento, imagina o dono que guarda esse dinheiro, como seria para ele também”, afirma o senegalês.
“Eu não quero nada que não venha do meu trabalho ou de Deus”. A frase marcante de Kama Lo serve de exemplo de caráter para a sociedade, principalmente com os fatos recentes envolvendo até o Auxílio Emergencial, benefício do Governo Federal para pessoas em situação crítica, mas que foi acessado por membros da alta classe que ostentam uma vida pomposa em redes sociais.
Quando questionado sobre gostar de Caxias do Sul e se já foi alvo de preconceito, a resposta é um tapa na cara.
“Eu gosto muito de Caxias. Desde 2014 nunca mudei. Sempre que eu saio é só para viajar a trabalho e logo volto. Sobre o preconceito, eu não ligo para isso, na verdade. Já aconteceu comigo, mas é uma minoria de pessoas que faz isso porque se acham superiores aos outros, por isso eu não ligo para essa minoria que faz isso”, salienta Kama.
E qual seria o maior sonho do imigrante senegalês?
“Eu sonho em ter uma vida melhor, sustentar minha família, ajudar todos eles e todos que estão precisando. Esse é o meu sonho. Porque ainda tem pessoas que precisam muito de ajuda. Um dia quero ter uma oportunidade grande para que eu consiga ajudar essas pessoas que estão precisando também”, conclui Kama Lo.
O imigrante senegalês, que adora Caxias do Sul, seguirá firme no empenho de realizar os seus sonhos e, quem sabe, o quanto antes, estar perto da família que tanto sente falta e saudade.
Mesmo que “sem querer”, Kama Lo mostra que há sim belos exemplos e boas notícias, que ainda há esperança.
Imagens: Jackson Cardoso/BM/Divulgação