Foto: Arquivo Leouve
Foto: Arquivo Leouve

Você acha que a busca pela igualdade entre homens e mulheres começou ontem?

Saiba, então, que esse foi um traço marcante da luta política de John Stuart Mill, Filósofo e Parlamentar britânico que viveu entre os anos de 1806 e 1873, pessoa cuja educação foi tão rígida que, aos três anos de idade, ele já lia os clássicos em grego e latim. É mole?

A par de suas contribuições filosóficas (que não vou tratar aqui), aos 24 anos de idade, Stuart Mill conheceu uma mulher muito linda, inteligente, intelectual, muito acima da média para a sua época, assim como ele mesmo, pela qual se apaixonou.

Só tinha um probleminha: ela era casada. Esse pequeno detalhe não foi um grande empecilho para Stuart Mill que não andava a mil: paciente, ele esperou por 20 anos, até que ela se tornou viúva, quando, então, pode se juntar a ela.

E, a partir desse relacionamento, Stuart Mill se tornou um grande feminista, um grande defensor das liberdades das mulheres e da igualdade de direitos entre homens e mulheres. Em coautoria com sua esposa, ele escreveu muitos artigos, dentre os quais um de enorme repercussão denominado “Sobre a Servidão das Mulheres”, combatendo a ideia reinante, na época, de que a mulher, por natureza, era inferior ao homem e que, por isso, ela deveria ocupar uma posição de submissão tanto dentro do casamento como na sociedade.

Para o Stuart Mill, a dita natureza inferior feminina não tinha nada de natural. Ao contrário, ela era por ele compreendida como totalmente artificial, fruto de uma construção histórica que nos coloca uma sociedade em que a mulher ocupa uma posição de inferioridade. Ou seja, essa posição de submissão e de inferioridade não ocorre pela natureza das coisas ou pela natureza feminina, mas advém puramente de um contexto histórico em que a mulher é colocada nessa posição.

Considerando, então, que não é pela natureza das coisas, mas como produto de uma construção histórica, que a mulher é colocada numa posição de inferioridade no casamento e na sociedade, em sua proposta de vida de ser um “Reformador do Mundo”, Stuart Mill travou uma luta ferrenha na busca de igualdade de direitos para ambos as espécies do gênero humano.

Ora, se homem e mulher são indivíduos autônomos e racionais, que têm capacidade de escolher os rumos de suas vidas, de decidirem por si próprios, então, há uma exigência de dar a eles as mesmas condições sociais, igualdade de direitos para mulheres e homens.

Nessa senda, se o homem tem direito e também tem todas as oportunidades de chegar a um cargo de chefia dentro de uma empresa, a mulher também tem que ter esse mesmo direito, como, também, ter todas as oportunidades, inclusive com igualdade de remuneração, quando a mulher desempenhar a mesma função que um homem desempenha. Idêntica fundamentação, o Parlamentar emprega em relação à ascensão aos cargos públicos.

Stuart Mill nunca pensou na mulher fazendo xixi ou se despindo em praça pública, tampouco deixando crescer os cabelos do sovaco em sinal de luta pela sua afirmação feminina. O que ele propôs firmemente – e a essa luta, eu adiro – foi romper com a cultura de que a mulher é o braço direito do homem (ideia de parte do homem, de dependência e de submissão). Não. A mulher não é braço de ninguém. Ela é parceira do homem e pode chegar sozinha ou com ele onde ela quiser.

Stuart Mill foi o primeiro Parlamentar britânico a propor o direito de voto da mulher. O projeto dele não foi, obviamente, ao seu tempo, aprovado. Porém, o movimento, adiante, ganhou força e, em 1919, a mulher, na Inglaterra, teve reconhecido o direito de participação na vida política com o direito ao voto.

Veja que a luta perdura por anos e permanece entre nós. Mas, hoje, nossa máxima luta está em que se reconheça não apenas a igualdade de direitos, ou a igualdade jurídica, mas, também, “de fato”, no sentido de que as mulheres são seres humanos iguais, e não coisas desprovidas de humanidade, para que sejam eliminadas, em feminicídios, como se o seu senhor tivesse sobre elas o direito de vida e de morte.

Que nossa batalha seja iluminada e que tenhamos êxito nessa luta, para que, daqui a alguns anos, possamos, de verdade, falar em igualdade essencial entre homens e mulheres, um tempo em que uns não tenham a pretensão de serem donos dos outros.