Polícia

Investigação da tragédia de Vacaria pode levar um mês

Os três sobreviventes seguem internados em estado grave

Homem que sobreviveu à intoxicação que vitimou família em Vacaria presta depoimento à Polícia
Foto: Lucas Brito | Grupo RSCOM

A Polícia Civil acredita que concluirá a investigação sobre a morte de quatro pessoas da mesma família, em Vacaria, em até 30 dias. O inquérito trata do caso que ocorreu no domingo, dia 10, por volta das 8h30, no bairro Vitória. De acordo com o delegado Anderson Silveira de Lima, que conduz as investigações, ele aguarda o resultado das perícias para dar continuidade nas diligências. Até o momento, a polícia trabalha com a hipótese de que as vítimas teriam colocado dentro de casa o equipamento responsável pela emissão da substância tóxica. Segundo as forças de segurança da cidade, a residência onde a família morava não possui energia elétrica instalada e um gerador movido a combustível produzia a eletricidade. Uma das possibilidades é que a família tenha guardado o equipamento dentro de casa com medo de furto.

O Instituto Geral de Perícias (IGP) trabalha para concluir os laudos periciais de necropsia, do local do fato e do gerador. O possível vazamento de gás matou Cíntia de Moraes Costa, de 36 anos, que estava grávida de dois meses, e três filhas dela, Samara Costa, de três anos de idade, Cíntia Maria Costa, de 11 anos, e Ana Júlia Costa, de 15 anos. As outras três pessoas que estavam na residência permanecem em estado grave. Os dois outros filhos da mulher, Elias, de nove anos de idade, e Vitória, com sete, estão internadas em uma UTI Pediátrica de Santa Maria. O companheiro da mulher e padrasto das crianças, Maique Santos da Silva, de 31 anos, segue na UTI do Hospital Nossa Senhora da Oliveira, em Vacaria.

Despedidas 

Com a morte de quatro integrantes da mesma família, sendo três crianças, duas escolas não tiveram aula na segunda, dia 11. E o projeto em que os menores de 14 anos participavam também cancelou as atividades na parte da manhã. Pois o velório ocorreu entre a noite de domingo e a manhã de segunda, dia 11, no Salão São Cristóvão, do bairro Monte Claro. O sepultamento de Cíntia Moraes Costa (36 anos) e as filhas, Samanta Costa da Silva (3 anos), Cíntia Maria Costa da Silva (11 anos) e Ana Júlia Costa da Silva (15 anos) ocorreu em dois momentos, às 9h e ás 10h, no Cemitério Municipal.

NOTA DE PESAR DA PREFEITURA DE VACARIA

A Administração Municipal, por meio da Secretaria de Desenvolvimento Social e o CREAS, expressam seus mais sinceros sentimentos de pesar à família e amigos pela perda trágica de Cintia e seus três filhos: Cintia Maria, Ana Júlia e Samara. A família vinha sendo assistida pelo município através dos programas sociais.

Neste momento de dor, estamos solidários e desejamos conforto e apoio a todos os afetados por essa terrível perda.

A Secretaria de Educação informa que as escolas EMEF Romeu Antônio Biazus e EMEF Synval Guazzelli suspenderão as aulas nesta segunda-feira (11) e lamenta por esta perda irreparável e também prestam seus sentimentos aos familiares.

Sobre o imóvel

O secretário Geral de Governo da Prefeitura de Vacaria, Mario Almeida, informou ao reportagem do Grupo RSCOM, que a casa em que a família estava morando era do município até 1987 (conforme imagem abaixo). Na época, por doação para construção de um posto de fiscalização, o IBAMA passou a administrar o local. A família teria invadido a casa, mesmo ela estando sem energia e abandonada.

Conforme Almeida, a casa fica na rua Noel Rosa, no bairro Vitória, e está abandonada desde 2009. Desde 2017, o município vem solicitando a devolução do imóvel, notificando o IBAMA em 2018.  Conforme relatório do Corpo de Bombeiros, em outubro de 2019, ocorreu um incêndio no local e o laudo apontou que o imóvel estaria em risco para os moradores. Em 2023, a prefeitura entrou novamente com o pedido, com o intuito de passar a posse do imóvel para a Guarda Municipal.

Em outro episódio, em 28 de abril de 2023, o município notificou a família para que providenciasse a limpeza do local, que teria sido invadido e transformando em um depósito de lixo. A família trabalhava com reciclagem.  Conforme ofício, a Prefeitura realizou uma limpeza do terreno em agosto de 2023 e tirou aproximadamente 40 toneladas de lixo do local.

Um pouco sobre a família 

De acordo com Joice Rodrigues, da Secretaria de Desenvolvimento Social da Prefeitura de Vacaria, o atendimento a família ocorria no âmbito da rede socioassistencial. “Essa família vem sendo atendida a longos anos através do CREAS. A prefeitura deu dado todo o suporte para mãe e para os filhos. E encaminhou as crianças para vagas de educação infantil e projetos sociais”, disse Joice.

Ela acrescentou que a família trabalhava com reciclagem e viviam desse meio. “Eles eram recicladores e os filhos ajudavam no trabalho. O município chegou a orientar eles para que saíssem do local e ofertou uma moradia. Infelizmente a família não quis sair. Já uns seis meses que isso estaria ocorrendo”.

A coordenadora geral da Amma, Micaeli Algayer, conversou com a reportagem e falou que três crianças da família participavam do Projeto Florecer. “A Cíntia participava desde o ano passado. Um aluna muito querida. Tinha um vinculo com toda a equipe, com todos os colegas. Tivemos que fazer um trabalho de conscientização para acalmar os colegas. E o Elias e Vitória também. Eles estão na UTI e foram transferidos para Santa Maria. Eles iniciaram as atividades neste ano aqui no projeto”, comentou.  A entidade tem o projeto das marmitas e a família também era beneficiária. “Além das refeições servidas no projeto, eles levam a marmita pra casa. Além de todo acompanhamento de psicóloga e assistente social”, afirmou Micaeli.

O projeto atende aproximadamente 500 crianças, entre 6 e 14 anos, podendo variar conforme a necessidade. E que estejam cursando da 1º ao 9º ano do Ensino Fundamental, das escolas públicas do Município, com menos oportunidades sociais e econômicas.

Foto: Lucas Brito | Grupo RSCOM

 

 

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